segunda-feira, 20 de julho de 2009

Máquina Maravilhosa

Agora o tempo passou, tenho na memória um fato incrível que me ocorreu e que até bem pouco não conseguia contar a ninguém.
Corria o mês de Janeiro de 1970. Tudo teve início na primeira semana, numa segunda feira.
Lembro-me muito bem. Como de costume, muito cedo fui para o quintal. Gostava de sentir o ar fresco da manhã.
Estava clareando, quando observando o chão vi uma caixa retangular, medindo 20 por 30 centímetros, parecendo um rádio ou algo semelhante. Logo pensei, alguém invadira minha propriedade e deixara cair aquilo.
Apanhei o objeto; quando o fiz, senti uma sensação estranha. Não era rádio, possuía vários botões e trës visores. Caracteres desconhecidos indicavam as funções; nunca havia visto coisa igual.
Meu trabalho começava às oito, portanto dava tempo de examinar o achado. Levei o Aparelho para uma velha mesa. Com muito receio, resolvi tocar nos botões. Apertei um e outro, nada aconteceu, mas quando toquei no primeiro da esquerda, na mesma ordem a primeira tela clareou como TV e logo a imagem: pequenas casas quase cobertas pela neve, uma cena parada, não fosse pelos flocos de gelo que caiam. Toquei então no seguinte e para meu espanto, de repente, fui transportado para aquele lugar gélido. Fiquei desesperado, sentia na pele o frio intenso, diante de mim uma vila que nunca soube onde era. Sem atinar sobre o que fazer, caminhei sobre a superficie gelada, afundando e escorregando, desnorteado. Sorte a situação ter-se logo desvanecido. Como uma cortina que se abrisse, estava de volta diante da mesinha e daquele aparelho. Tiritando de frio sacudi o gelo dos sapatos, o que me fez acreditar que não havia sido um sonho.
Depois do ocorrido, sequer voltei de imediato a colocar as mãos naquela coisa. Continuei a observá-la a certa distância, receoso e precavido.
Estava ainda olhando aquilo e pensando, quando minha esposa gritou lá da cozinha:
— Chiiico!! Vem tomar cafééééé!
No mesmo instante, como por encanto o objeto desapareceu, simplesmente sumira.
Atônito, ainda tentei contar para Rita o fato, mas não conseguia, um bloqueio mental me impedia. Começava a falar e logo me esquecia do que ia dizer.
Antes de ir para o trabalho, voltei para o local onde colocara a máquina sem nada encontrar. Naquele dia não fui produtivo.
No dia seguinte, levantei-me antes da cinco e fui procurá-la. Para minha satisfação, lá estava, no mesmo lugar.
Tomando coragem, levei-a para perto de uma luz e pus-me a estudá-­la. Apesar de ser um objeto certamente de origem extraterrestre, não foi diflcil entendê-la. A explicação estava no terceiro botão. Ao tocá-lo, o segundo visor se iluminava e a Terra aparecia. Um pequeno sistema de controle permitia direcionar um ponto luminoso em qualquer ponto da esfera, conseqüentemente a primeira tela mostrava o local. Um outro contato regulava o tempo de permanência.
Não me apavorei mais, sabia o que fazer. Era a oportunidade que sempre havia sonhado, conhecer todos os recantos do mundo.
Foi um período inesquecível, cada dia conhecia um ou mais lugares. Controlava as viagens de forma a chegar sempre antes de ser chamado para o café e, por absurdo que pareça minha esposa nunca percebera minha ausência. Mas nem tudo ia bem, estava ficando obcecado, não me alimentava direito, dormia pouco e quase não conversava com ninguém.
— Chico, você está emagrecendo a olhos vistos, o que está acontecendo?
— Nada Rita, estou bem.
No trabalho, constantemente estava sendo advertido, O Supervisor do setor chegou a ameaçar-me:
--- Você está sendo relapso, sempre no “mundo da lua”, não tem medo de perder o emprego?
Responder o quê, ele estava com razão, mas não deixei de continuar a viajar, até que antes do final do mês, resolvi acionar os demais controles e descobri que poderia sair fora do planeta e chegar em outros sistemas.
Para isto, uma caixa transparente se materializava e dentro dela acabei conhecendo lugares estranhos, mundos hostis.
Habituara-me com a máquina, vi coisas que nenhum humano jamais poderá imaginar.
Algo me impedia de contar a quem quer que fosse as minhas aventuras. Mas tudo tem um fim, quando já sabia quase todas as funções do Aparelho, resolvi acionar a terceira e última tela. Assim, procurei por todas a formas e acabei conseguindo, o quadro se iluminou e apenas um X surgiu no visor, em seguida o objeto desapareceu e nunca mais reapareceu. Fora o fim daquela minha experiência.
No intimo achei bom ter acabado, pois a partir de então voltei para minha vida normal.
Somente agora é que consigo narrar os acontecimentos. Por esta razão todos estão preocupados comigo. Não me importo, quem quiser acreditar, que acredite.

Um comentário:

  1. Muitas vezes queremos uma máquina como essa pra viajar e sair de nossa realidade.
    Quem sabe ainda não encontraremos essa preciosidade.

    ResponderExcluir