segunda-feira, 20 de julho de 2009

Companheiro de Viagem

Numa viagem para o Sul encontrei um enigmático companheiro de viagem.
Tão logo tomei o ônibus um rapaz bem mais novo que eu, aparentando cerca de trinta anos, cabelos pretos e com feição afunilada sentou-se junto a mim.
De forma natural puxou conversa, para minha surpresa fiquei sabendo seu nome, acreditem: Spoke da Silva. Dizia ter adotado na Terra tal nome e que estava visitando nosso país. Falava um pouco arrastado, tomei-o por nordestino.
Quase só ele falava:
--- Você não vai acreditar, mas sou o que vocês chamam de ET.
Fiquei quieto e ele continuou:
Minha estrela chama-se Xerxe e meu planeta é Sama.
Dando um pouco de corda, perguntei:
--- E onde está sua nave? Veio sozinho?
--- Minha nave está em órbita lunar, nosso grupo é de duzentas pessoas, viemos a passeio.
Logo que terminou de dizer, não agüentei, era dose demais:
--- Ora moço, você está abusando da minha paciência! É melhor parar com esta conversa senão vou ser obrigado a buscar outro lugar.
Sem mostrar nenhum constrangimento me disse:
--- Avisaram-me e eu esqueci, vocês estão num estágio muito primitivo. Pode ficar descansado, não perturbarei mais. Queira me desculpar, às vezes me sinto muito só.
Daquele momento em diante calou-se mesmo.
Comecei a me sentir um grosseiro, poderia ter deixado ele sonhar. Afinal loucos tem em toda parte, não custava dar-lhe crédito.
De qualquer forma as palavras dele ficaram martelando em minha cabeça. Ora, ora, disse que viera da estrela Xerxe, como se viajar de uma estrela para outra fosse possível. Depois, o nome dele, vê se pode? Spoke! Que absurdo. Mesmo na velocidade da luz ainda seria improvável.
Não sei porque, continuava pensando na mesma coisa.
Passamos cerca de quase uma hora em silêncio. Pensei então, não custa ver até onde vai dar a conversa, ou melhor, a loucura dele. Então interpelei:
--- Spoke, você disse que veio passear na Terra. Como vocês fazem? Mesmo que estejam na velocidade da luz, quando voltar, muito tempo já passou em seu planeta.
--- Não é bem assim Januário. Vou mostrar-lhe um exemplo aqui da Terra. Li alguma coisa sobre o passado de vocês, ainda bem recente utilizavam animais para se locomoverem e hoje aviões, ônibus e outros meios. Antes das invenções, vocês teriam dito que seria impossível evoluírem a tal ponto. Calcule então o que acontecerá nos próximos mil ou dois mil anos.
A civilização evoluída de nosso planeta já conta com dez mil anos e acredite, ainda continuamos descobrindo caminhos.
--- Bem, vou entrar na sua. Diga-me o porque de seu nome.
--- Sou o que vocês chamam de estudante. Entre os trabalhos que recebemos estava o de encontrarmos mundos desenvolvidos. Assim, direcionamos nosso “radar” para diversos planos espaciais. Nos surpreendemos com imagens que recebemos de seu planeta. Vimos uma grande nave vasculhando o espaço, inclusive mostrando o dia a dia interno. Não sabíamos que se tratava de ficção. Com um pouco de trabalho conseguimos traduzir o que diziam os tripulantes e um deles chamava-se Spoke, gostei do nome e o adotei quando vim para este mundo.
--- Mas Spoke, o que me diz é fora de cogitação, uma transmissão da terra levaria um tempo tão grande para chegar em qualquer estrela que me parece impossível você me dizer isto.
Spoke me olhou com certa recriminação e me respondeu:
--- Já lhe disse sobre nossa evolução. Se fosse lhe contar sobre tudo que podemos fazer, julgar-me-ia um demente total. Por exemplo, se você pudesse viver milhares de anos e se a Terra mantivesse evoluindo sempre, perceberia que não há limites para a ciência.
--- Está bem Spoke, mas para onde vai quando chegarmos em Curitiba?
--- Vou me reunir com os companheiros e à noite embarcaremos em um pequeno transportador.
No restante da viagem nos acomodamos e a conversa foi pouca.
O ônibus parou na rodoviária, desci e ele também, nos despedimos e seguimos para rumos diferentes.
Tomei um táxi e fui para um hotel. No apartamento, após um banho desci para o refeitório.
Depois de jantar, estava cansado e resolvi voltar para meus aposentos, antes de deitar abri a janela, logo vi um céu estrelado e limpo. Tive então a maior surpresa de minha vida: um óvni, isto mesmo, um objeto voador, não era um avião, em baixa altura, suficiente para que pudesse defini-lo com precisão. Não duvidei mais do meu companheiro de viagem, tenho certeza, passou propositalmente perto de onde eu estava.

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