domingo, 5 de outubro de 2014

DEFINIÇÕES IMPORTANTES

ESTUDANTES DE MARINO ENTRAM NA FASE FINAL

Na Roda, Regis em face do aumento das atividades, selecionou novos membros para a Central. Corin foi o primeiro, era indispensável no grupo. Depois foi Kleber, excelente piloto de naves. A seguir, Silas como representante feminina dos Marinenses. Por último Jucy, jovem recém formada em ciências humanas.
Até então, o projeto aplicado só marcara pontos positivos e ele queria que continuasse sem erros.
Não era intransigente, aceitava boas sugestões, como no caso de Joseli, realmente não havia pensado no desequilíbrio dos países. Isto lhe abriu a mente sobre aspectos socioeconômicos, precisava haver critério nas transferências de produtos para a superfície. Precisava do dinheiro de Marino, mas se liberasse os estoques poderia estrangular a economia das nações, cujo dinheiro, até então era aplicado somente em coisas primárias. No caso das galinhas, o efeito era menor, proliferava com facilidade e logo estaria em todos os lugares. Mesmo assim, mandou chamar Sancho, dizendo-lhe:
— Informe Joseli que as rações e aves não serão mais enviadas, que para as necessidades de manutenção das que possui, continue a comprar suprimentos lá mesmo, como vem fazendo. Que o percentual de ganho para a Central está muito bom, sendo que o restante gire entre os locais.
Quanto aos porcos, não se precipite, vou falar com Sato, ver o interesse dele e auxílio para providenciar um local adequado. Deverá enviar poucos exemplares para procriação. Da produção, metade deverá ser doada e o restante comercializada em sociedade com habitantes locais, que deverão ajudar no trabalho. Desta vez, procure formar uma equipe, antes de qualquer transferência. Quanto ao Joseli, esqueça dele, desative a produção interna de aves, entregue para consumo o excesso.

— — —

Na Vila Talma, Salésio completara seu desejo, passeava na pequena praça sob a claridade de suas lâmpadas, de braços com Oda, quando se lembrou do menino peludo de seu sonho.
O lugarejo era um dos mais movimentados da região, não venciam as encomendas de roupas. A filha e o genro também ajudavam, enquanto as crianças badernavam.
Salésio passara a ser um dos homens mais benquisto do lugar, totalmente ao contrário de sua vida na Roda.
Quase dois anos haviam passado do dia que pisara pela primeira vez a aldeia. Por momentos nem acreditava no que havia construído, inclusive no próprio casamento. Sentia-se um homem realizado.
Ocorreu querer expandir a confecção, era uma necessidade, só poderia ser feito com auxílio de outras máquinas. Lembrava-se de ter prometido não fazer mais pedidos, mas a situação o impelia a usar o comunicador, presente de casamento de Jales e Júlia.
Preocupou-se, sabia que o aparelho era dotado de bateria de longa duração, não lembrava bem do tempo, se era para dois ou dez anos.
Localizou a caixa, mas antes de ligar, por curiosidade procurou o local de introdução da bateria, onde estava escrito: fonte de energia concentrada — validade — vinte anos.
Um auxiliar do sensoriamento o atendeu, passando para Jansen. Chato justificando a quebra da promessa, pediu as máquinas. Este que já estava orientado por Regis, informou-lhe que poderia ter o que quisesse, mas dali em diante, sob pagamento com moedas de Marino. Deveria fazer uma oferta justa, o quanto, ficaria por conta dele.
O novo membro da comunidade disse então que voltaria a se comunicar.
Falando com Clifo, pois mãe e filha haviam saído, Chato explicou:
— Acabei de fazer o pedido de novas máquinas, mas desta vez querem pagamento.
— Quanto querem?, perguntou o moço.
— Não sabem quanto pedir. Deixaram por nossa conta a oferta.
— Para nós são muito valiosas. Posso dar uma ideia?
— Claro Clifo. Quanto você acha que vale cada uma?
— No mínimo quinhentos “taros “.
— Quinhentos? Mil por duas? É muito, mas quinhentos pelas duas acho que é justo. Vamos esperar Oda e Pima, para sabermos se fechamos a compra.
Estavam ainda comentando, quando chegaram. Salésio explicou, Oda até ficou contente, dizendo preferir daquela forma. Solicitou que aumentasse duzentos na oferta.
— Tudo combinado? Vou comunicar com eles.
Passou o valor para Jansen e fechou o negócio, receberia as máquinas na praia, viriam num transportador leve. Pediu também uma grande quantidade de linhas e agulhas.

— — —

Agora deixaremos Salésio com sua família, Jales e Júlia que também viviam felizes na Vila de Orin, por sinal, recebidos com festas pela população. Vejamos o que está acontecendo com Joseli em Vale Verde.
Ele também não voltara, se integrara na aldeia como comerciante. Continuou solteiro e gostava do que fazia. A venda de ovos e frangos tornara-se comum, embora produzisse pelo sistema natural. Comprou e ampliou a propriedade e se adaptou aos costumes locais.
Para Catun, Sancho enviou dois casais para o árduo trabalho de cuidarem dos porcos. Distribuíram exemplares, abriram açougue e o consumo foi certo, embora tivessem de introduzir trelos de corte. Habituados àquele trabalho também se adaptaram e não voltaram.
Desta forma, os primeiros relacionamentos se iniciaram, era o primeiro passo. Regis e todos os membros da Central estavam satisfeitos, o caminho era aquele. Na segunda férias dos professores, cerca de trinta por cento ficaram na superfície. A verdade é que estavam gostando de viverem livres e já não queriam trocar a nova forma de existência nem pelo conforto da cidade espacial.
Nos anos que se seguiram, começou a imigração espontânea e um comércio mais aberto, sempre com a orientação da Central. A ordem era, podiam progredir desde que envolvessem nativos, dando-lhes condições de lucros e aprendizado.

Nesta altura dos acontecimentos, Regis possuía um completo levantamento das áreas de riscos.
Tropo e Sato já haviam sido orientados sobre os lugares livres de perigo e para onde as aldeias deveriam ser transferidas. Um considerável volume de recursos estavam em poder da Central. Cada pessoa ou família que decidia descer recebia parcelas desses recursos. Muitos produtos em abundância nos estoques começavam a fazer parte do dia a dia da população do planeta. As viagens eram periódicas, controladas e levavam consideráveis grupos por vez.
Salésio se enriquecera e era um dos grandes compradores. Até comerciantes nativos acabaram conseguindo comunicadores e também passaram a colocar objetos terrestres em muitas regiões.
A juventude de Marino que estudava na Astronave, estava quase pronta para assumir sua responsabilidade. O tempo de adolescência se extinguira, os mais jovens já haviam completado dezoito anos. Total e amplamente aculturados, se preparavam para desenvolverem suas nações. Várias moças e rapazes terrestres se envolveram sentimentalmente com os peludos, muitas vezes contrariando as famílias.
Um dos casos foi o de Suni e Thomás, ficaram tão apaixonados que nas férias ela nem queria descer, só o fazendo para atender o irmão. Este por sua vez só tinha olhos para Kiria, embora soubesse que os pais não aprovariam aquele idílio. Filhos de Reis possuíam o destino traçado e compromissos formais com membros da sociedade que pertenciam.
Jasp vivia rodeado de garotas, mas não se definia, ora namorava uma, ora outra e assim ia se divertindo. Era amigo de Kalil e não fazia nenhuma objeção ao namoro com a irmã. Prometera a Kiria até defendê-la perante o pai, caso não aceitasse a união.
Corin passou a ser um dos homens mais estimado da cidade espacial. Seu filho estava adiantado nos estudos, sua capacidade era surpreendente. Silas entrara numa rotina, até se esquecera que pertencia ao povo da superfície, adotava os modos das mulheres locais e continuava vaidosa e dedicadíssima ao seu trabalho. Era o penúltimo ano daqueles moços e moças, depois seriam entregues a própria sorte.
No início do ano letivo o diretor os colocou numa grande sala, convidou os membros da Central e proferiu uma longa palestra, sendo um dos tópicos mais importantes as seguintes palavras:
— Chegou o momento de definir responsabilidades. Em breve partilharão com seus irmãos a sobrevivência. Conhecem o futuro. Lembrem-se que em tudo que é produzido a ciência deve estar unida. Nós lhes demos a sabedoria e nela se incute o estudo dos terrestre no seu extinto planeta. Levaram milhares de anos desenvolvendo a cultura que lhes transmitimos. Não houve campo que tenhamos deixado de revelar a vocês. Estão tão cientes de tudo quanto seus colegas humanos.
Tudo isto teve um objetivo, dar oportunidade a vocês de se unirem para a evolução mental e industrial de suas nações.
A partir de agora, vamos entrar na etapa do desenvolvimento vocacional. Passarão os últimos dois anos se preparando para atividades básicas indispensáveis.
Falando como um igual, quero um dia ter a satisfação de vê-los idosos, lógico que estarei muito mais, mas guardo esta esperança, de encontrá-los um a um, homens e mulheres e poder ouvir uma simples frase:
— Eu cumpri minha missão.
Poderei então partir feliz.
Não quero vê-los ociosos, nem estacionados em suas Vilas, nem aplicando os conhecimentos para benefício próprio. Quero que plantem escolas, fábricas e mais fábricas, quero ver em poucos anos nosso mundo modificado. Quero andar por ruas pavimentadas e entrar em clubes repletos de luzes. Quero suas nações modificadas, em acelerado progresso. Não quero ver nenhuma das mulheres que estão aqui, como Donas de Casa ou apenas preocupadas em se enfeitarem.

Um murmúrio geral, acompanhava as inflamadas palavras de Corin, que parecia desabafar todos os anos de seu incansável trabalho. Falou muito, mostrou fatos, indicou nomes e por fim passou a palavra para Regis.

— Fui convidado por Corin, é uma honra estar diante de vocês, porque admiro o saber e vejo em cada um a inteligência.
As palavras deste meu amigo representam plenamente o objetivo de suas vidas. Se ensiná-los não fosse para criar uma grande célula, não os teríamos trazido para as entranhas desta nave. Queremos vê-la reproduzir e encher seu mundo de benefícios. Para ser exato, vocês assimilaram quatro mil anos de nossos conhecimentos, tempo que nossos ancestrais trilharam do estágio semelhante ao de vocês para a capacidade tecnológica que chegamos. Não precisam pesquisar, não precisam inventar, apenas precisam aplicar os conhecimentos.
Como já salientou Corin, a partir de agora vamos fazer muitas simulações, tais como criação de cidades, de escolas, de hospitais, de indústrias básicas, de bancos, enfim de tudo aquilo que possa ser necessário numa sociedade moderna. Até o final, serão classificados por suas vocações.

Terminada a palestra, Regis mandou chamar os filhos dos Reis, pediu que se postassem a sua frente e disse:
— A partir também de agora, chegou o momento de ensiná-los a dirigirem suas nações, conforme prometi a seus pais. Serei o professor dessa matéria, que vamos chamá-la de Poder Real. Terão de sacrificar duas horas do tempo de descanso, a noite ou de manhã, como preferirem. Só que a opção terá de ser agora. Portanto, ou de manhã as seis ou a tarde a partir das dezoito horas.
— Minha opção é que seja na parte da manhã, respondeu Jasp de imediato.
Os demais se limitaram a concordar.
Exceto Jasp, os outros saíram irritados, poderiam dormir mais, ... não gostaram.
— Isto é importante para nós, muito mais do que possam imaginar, seremos os futuros mandantes de nossas Nações, queiramos ou não, nossos pais não são eternos. Nossa responsabilidade está muito acima de nossos desejos. Disse Jasp para se justificar.
Suni concordou:
— Jasp está certo.
— Que problema, resmungou Kalil. Minha vocação não é ter o poder nas mãos. Minha tendência é ser arquiteto, principalmente depois li sobre as construções deles.

Os gênios ficaram invertidos nos filhos de Sato. A moça nascera para comandar, mas ao mesmo tempo estava apaixonada por um terrestre.
Kiria por sua vez não pensava sequer como uma princesa. Quando ouviu Regis falar sobre a vaidade feminina, sentiu que as insinuações eram para ela. Mantinha os pelos raspados, passava horas diante do espelho. Excelente moça, mas com pensamentos fúteis. Não sentia desejo de viver na superfície, gostava dali, independente do amor que sentia por Kalil.
Naquele resto de dia, foram para o clube e só saíram para irem para os alojamentos.
No dia seguinte, acordados por Jasp, foram para a primeira aula. Regis já os esperava numa pequena sala.
— Sentem-se, disse o Chefe da Central aos especiais alunos.
Esperou que se acomodassem, manteve um minuto de silêncio e depois de ver que estavam atentos, iniciou:
— Vou fazer-lhes uma pergunta chave: vocês estão prontos para Reinar? Para comandar? Quero a resposta de cada um.
— Sou capaz de assumir o Reino, mas antes quero conhecer tudo que puder para não cometer erros, respondeu Jasp.
— Sou mulher e como tal, sei que nunca uma representante do sexo feminino assumiu o poder na minha Nação. Trocaria tudo para dirigi-la, tenho ideias que poderiam solucionar os problemas de meu povo, argumentou Suni.
— Não tenho vocação para reinar, gosto de arquitetura, tenho procurado pensar como Rei, mas não sinto vontade de manter as rédeas do poder, disse Kalil.
— Sei que nunca reinarei, primeiro porque deixarei isto para meu irmão, segundo porque não tenho o mínimo interesse em dirigir a Nação, completou Kiria.
— Tenho então duas cabeças capazes de enfrentarem a responsabilidade máxima que uma pessoa pode assumir.
Bem, não vou por isto dispensar Kalil e Kiria, porque queiram ou não, serão substitutos naturais, considerando que Suni assuma a coroa, o que dependerá de Sato.

Não é o corpo que governa um povo, mas a cabeça, portanto sexo para os terrestres é secundário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário