DEFINIÇÕES
IMPORTANTES
ESTUDANTES
DE MARINO ENTRAM NA FASE FINAL
Na Roda, Regis em face do
aumento das atividades, selecionou novos membros para a Central. Corin foi o
primeiro, era indispensável no grupo. Depois foi Kleber, excelente piloto de
naves. A seguir, Silas como representante feminina dos Marinenses. Por último
Jucy, jovem recém formada em ciências humanas.
Até então, o projeto
aplicado só marcara pontos positivos e ele queria que continuasse sem erros.
Não era intransigente,
aceitava boas sugestões, como no caso de Joseli, realmente não havia pensado no
desequilíbrio dos países. Isto lhe abriu a mente sobre aspectos socioeconômicos,
precisava haver critério nas transferências de produtos para a superfície.
Precisava do dinheiro de Marino, mas se liberasse os estoques poderia
estrangular a economia das nações, cujo dinheiro, até então era aplicado
somente em coisas primárias. No caso das galinhas, o efeito era menor,
proliferava com facilidade e logo estaria em todos os lugares. Mesmo assim, mandou
chamar Sancho, dizendo-lhe:
— Informe Joseli que as
rações e aves não serão mais enviadas, que para as necessidades de manutenção
das que possui, continue a comprar suprimentos lá mesmo, como vem fazendo. Que
o percentual de ganho para a Central está muito bom, sendo que o restante gire
entre os locais.
Quanto aos porcos, não se
precipite, vou falar com Sato, ver o interesse dele e auxílio para providenciar
um local adequado. Deverá enviar poucos exemplares para procriação. Da
produção, metade deverá ser doada e o restante comercializada em sociedade com
habitantes locais, que deverão ajudar no trabalho. Desta vez, procure formar
uma equipe, antes de qualquer transferência. Quanto ao Joseli, esqueça dele,
desative a produção interna de aves, entregue para consumo o excesso.
— — —
Na Vila Talma, Salésio
completara seu desejo, passeava na pequena praça sob a claridade de suas
lâmpadas, de braços com Oda, quando se lembrou do menino peludo de seu sonho.
O lugarejo era um dos mais
movimentados da região, não venciam as encomendas de roupas. A filha e o genro
também ajudavam, enquanto as crianças badernavam.
Salésio passara a ser um dos
homens mais benquisto do lugar, totalmente ao contrário de sua vida na Roda.
Quase dois anos haviam
passado do dia que pisara pela primeira vez a aldeia. Por momentos nem
acreditava no que havia construído, inclusive no próprio casamento. Sentia-se
um homem realizado.
Ocorreu querer expandir a
confecção, era uma necessidade, só poderia ser feito com auxílio de outras
máquinas. Lembrava-se de ter prometido não fazer mais pedidos, mas a situação o
impelia a usar o comunicador, presente de casamento de Jales e Júlia.
Preocupou-se, sabia que o
aparelho era dotado de bateria de longa duração, não lembrava bem do tempo, se
era para dois ou dez anos.
Localizou a caixa, mas antes
de ligar, por curiosidade procurou o local de introdução da bateria, onde
estava escrito: fonte de energia concentrada — validade — vinte anos.
Um auxiliar do sensoriamento
o atendeu, passando para Jansen. Chato justificando a quebra da promessa, pediu
as máquinas. Este que já estava orientado por Regis, informou-lhe que poderia
ter o que quisesse, mas dali em diante, sob pagamento com moedas de Marino.
Deveria fazer uma oferta justa, o quanto, ficaria por conta dele.
O novo membro da comunidade
disse então que voltaria a se comunicar.
Falando com Clifo, pois mãe
e filha haviam saído, Chato explicou:
— Acabei de fazer o pedido
de novas máquinas, mas desta vez querem pagamento.
— Quanto querem?, perguntou
o moço.
— Não sabem quanto pedir.
Deixaram por nossa conta a oferta.
— Para nós são muito
valiosas. Posso dar uma ideia?
— Claro Clifo. Quanto você
acha que vale cada uma?
— No mínimo quinhentos
“taros “.
— Quinhentos? Mil por duas?
É muito, mas quinhentos pelas duas acho que é justo. Vamos esperar Oda e Pima,
para sabermos se fechamos a compra.
Estavam ainda comentando,
quando chegaram. Salésio explicou, Oda até ficou contente, dizendo preferir
daquela forma. Solicitou que aumentasse duzentos na oferta.
— Tudo combinado? Vou
comunicar com eles.
Passou o valor para Jansen e
fechou o negócio, receberia as máquinas na praia, viriam num transportador
leve. Pediu também uma grande quantidade de linhas e agulhas.
— — —
Agora deixaremos Salésio com
sua família, Jales e Júlia que também viviam felizes na Vila de Orin, por
sinal, recebidos com festas pela população. Vejamos o que está acontecendo com
Joseli em Vale Verde.
Ele também não voltara, se
integrara na aldeia como comerciante. Continuou solteiro e gostava do que
fazia. A venda de ovos e frangos tornara-se comum, embora produzisse pelo
sistema natural. Comprou e ampliou a propriedade e se adaptou aos costumes
locais.
Para Catun, Sancho enviou
dois casais para o árduo trabalho de cuidarem dos porcos. Distribuíram
exemplares, abriram açougue e o consumo foi certo, embora tivessem de
introduzir trelos de corte. Habituados àquele trabalho também se adaptaram e
não voltaram.
Desta forma, os primeiros
relacionamentos se iniciaram, era o primeiro passo. Regis e todos os membros da
Central estavam satisfeitos, o caminho era aquele. Na segunda férias dos
professores, cerca de trinta por cento ficaram na superfície. A verdade é que
estavam gostando de viverem livres e já não queriam trocar a nova forma de
existência nem pelo conforto da cidade espacial.
Nos anos que se seguiram,
começou a imigração espontânea e um comércio mais aberto, sempre com a
orientação da Central. A ordem era, podiam progredir desde que envolvessem
nativos, dando-lhes condições de lucros e aprendizado.
Nesta altura dos
acontecimentos, Regis possuía um completo levantamento das áreas de riscos.
Tropo e Sato já haviam sido
orientados sobre os lugares livres de perigo e para onde as aldeias deveriam
ser transferidas. Um considerável volume de recursos estavam em poder da
Central. Cada pessoa ou família que decidia descer recebia parcelas desses
recursos. Muitos produtos em abundância nos estoques começavam a fazer parte do
dia a dia da população do planeta. As viagens eram periódicas, controladas e levavam
consideráveis grupos por vez.
Salésio se enriquecera e era
um dos grandes compradores. Até comerciantes nativos acabaram conseguindo
comunicadores e também passaram a colocar objetos terrestres em muitas regiões.
A juventude de Marino que
estudava na Astronave, estava quase pronta para assumir sua responsabilidade. O
tempo de adolescência se extinguira, os mais jovens já haviam completado
dezoito anos. Total e amplamente aculturados, se preparavam para desenvolverem
suas nações. Várias moças e rapazes terrestres se envolveram sentimentalmente
com os peludos, muitas vezes contrariando as famílias.
Um dos casos foi o de Suni e
Thomás, ficaram tão apaixonados que nas férias ela nem queria descer, só o
fazendo para atender o irmão. Este por sua vez só tinha olhos para Kiria,
embora soubesse que os pais não aprovariam aquele idílio. Filhos de Reis
possuíam o destino traçado e compromissos formais com membros da sociedade que
pertenciam.
Jasp vivia rodeado de
garotas, mas não se definia, ora namorava uma, ora outra e assim ia se
divertindo. Era amigo de Kalil e não fazia nenhuma objeção ao namoro com a
irmã. Prometera a Kiria até defendê-la perante o pai, caso não aceitasse a
união.
Corin passou a ser um dos
homens mais estimado da cidade espacial. Seu filho estava adiantado nos
estudos, sua capacidade era surpreendente. Silas entrara numa rotina, até se
esquecera que pertencia ao povo da superfície, adotava os modos das mulheres
locais e continuava vaidosa e dedicadíssima ao seu trabalho. Era o penúltimo
ano daqueles moços e moças, depois seriam entregues a própria sorte.
No início do ano letivo o
diretor os colocou numa grande sala, convidou os membros da Central e proferiu
uma longa palestra, sendo um dos tópicos mais importantes as seguintes
palavras:
— Chegou o momento de
definir responsabilidades. Em breve partilharão com seus irmãos a
sobrevivência. Conhecem o futuro. Lembrem-se que em tudo que é produzido a
ciência deve estar unida. Nós lhes demos a sabedoria e nela se incute o estudo
dos terrestre no seu extinto planeta. Levaram milhares de anos desenvolvendo a
cultura que lhes transmitimos. Não houve campo que tenhamos deixado de revelar
a vocês. Estão tão cientes de tudo quanto seus colegas humanos.
Tudo isto teve um objetivo,
dar oportunidade a vocês de se unirem para a evolução mental e industrial de
suas nações.
A partir de agora, vamos
entrar na etapa do desenvolvimento vocacional. Passarão os últimos dois anos se
preparando para atividades básicas indispensáveis.
Falando como um igual, quero
um dia ter a satisfação de vê-los idosos, lógico que estarei muito mais, mas
guardo esta esperança, de encontrá-los um a um, homens e mulheres e poder ouvir
uma simples frase:
— Eu cumpri minha missão.
Poderei então partir feliz.
Não quero vê-los ociosos,
nem estacionados em suas Vilas, nem aplicando os conhecimentos para benefício
próprio. Quero que plantem escolas, fábricas e mais fábricas, quero ver em
poucos anos nosso mundo modificado. Quero andar por ruas pavimentadas e entrar
em clubes repletos de luzes. Quero suas nações modificadas, em acelerado
progresso. Não quero ver nenhuma das mulheres que estão aqui, como Donas de
Casa ou apenas preocupadas em se enfeitarem.
Um murmúrio geral,
acompanhava as inflamadas palavras de Corin, que parecia desabafar todos os
anos de seu incansável trabalho. Falou muito, mostrou fatos, indicou nomes e
por fim passou a palavra para Regis.
— Fui convidado por Corin, é
uma honra estar diante de vocês, porque admiro o saber e vejo em cada um a
inteligência.
As palavras deste meu amigo
representam plenamente o objetivo de suas vidas. Se ensiná-los não fosse para
criar uma grande célula, não os teríamos trazido para as entranhas desta nave.
Queremos vê-la reproduzir e encher seu mundo de benefícios. Para ser exato,
vocês assimilaram quatro mil anos de nossos conhecimentos, tempo que nossos
ancestrais trilharam do estágio semelhante ao de vocês para a capacidade
tecnológica que chegamos. Não precisam pesquisar, não precisam inventar, apenas
precisam aplicar os conhecimentos.
Como já salientou Corin, a
partir de agora vamos fazer muitas simulações, tais como criação de cidades, de
escolas, de hospitais, de indústrias básicas, de bancos, enfim de tudo aquilo
que possa ser necessário numa sociedade moderna. Até o final, serão
classificados por suas vocações.
Terminada a palestra, Regis
mandou chamar os filhos dos Reis, pediu que se postassem a sua frente e disse:
— A partir também de agora,
chegou o momento de ensiná-los a dirigirem suas nações, conforme prometi a seus
pais. Serei o professor dessa matéria, que vamos chamá-la de Poder Real. Terão
de sacrificar duas horas do tempo de descanso, a noite ou de manhã, como
preferirem. Só que a opção terá de ser agora. Portanto, ou de manhã as seis ou
a tarde a partir das dezoito horas.
— Minha opção é que seja na
parte da manhã, respondeu Jasp de imediato.
Os demais se limitaram a
concordar.
Exceto Jasp, os outros
saíram irritados, poderiam dormir mais, ... não gostaram.
— Isto é importante para
nós, muito mais do que possam imaginar, seremos os futuros mandantes de nossas
Nações, queiramos ou não, nossos pais não são eternos. Nossa responsabilidade
está muito acima de nossos desejos. Disse Jasp para se justificar.
Suni concordou:
— Jasp está certo.
— Que problema, resmungou
Kalil. Minha vocação não é ter o poder nas mãos. Minha tendência é ser
arquiteto, principalmente depois li sobre as construções deles.
Os gênios ficaram invertidos
nos filhos de Sato. A moça nascera para comandar, mas ao mesmo tempo estava
apaixonada por um terrestre.
Kiria por sua vez não
pensava sequer como uma princesa. Quando ouviu Regis falar sobre a vaidade
feminina, sentiu que as insinuações eram para ela. Mantinha os pelos raspados,
passava horas diante do espelho. Excelente moça, mas com pensamentos fúteis.
Não sentia desejo de viver na superfície, gostava dali, independente do amor
que sentia por Kalil.
Naquele resto de dia, foram
para o clube e só saíram para irem para os alojamentos.
No dia seguinte, acordados por
Jasp, foram para a primeira aula. Regis já os esperava numa pequena sala.
— Sentem-se, disse o Chefe
da Central aos especiais alunos.
Esperou que se acomodassem,
manteve um minuto de silêncio e depois de ver que estavam atentos, iniciou:
— Vou fazer-lhes uma
pergunta chave: vocês estão prontos para Reinar? Para comandar? Quero a
resposta de cada um.
— Sou capaz de assumir o
Reino, mas antes quero conhecer tudo que puder para não cometer erros,
respondeu Jasp.
— Sou mulher e como tal, sei
que nunca uma representante do sexo feminino assumiu o poder na minha Nação.
Trocaria tudo para dirigi-la, tenho ideias que poderiam solucionar os problemas
de meu povo, argumentou Suni.
— Não tenho vocação para
reinar, gosto de arquitetura, tenho procurado pensar como Rei, mas não sinto
vontade de manter as rédeas do poder, disse Kalil.
— Sei que nunca reinarei,
primeiro porque deixarei isto para meu irmão, segundo porque não tenho o mínimo
interesse em dirigir a Nação, completou Kiria.
— Tenho então duas cabeças
capazes de enfrentarem a responsabilidade máxima que uma pessoa pode assumir.
Bem, não vou por isto
dispensar Kalil e Kiria, porque queiram ou não, serão substitutos naturais, considerando
que Suni assuma a coroa, o que dependerá de Sato.
Não é o corpo que governa um
povo, mas a cabeça, portanto sexo para os terrestres é secundário.
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