N Ô M A D E S D O E S P A Ç O
PRIMEIRA PARTE
TERRA
— 2930
A
população terrestre havia atingido o auge da evolução cultural e técnica. As
guerras há muito não mais existiam, embora os exércitos continuassem. As nações
se entendiam. Miséria, pobreza e descontentamentos inexistiam. O homem vivia no
mundo perfeito, num paraíso. A própria ciência que tanto maltratara o planeta o
recuperara. Por séculos que o total de habitantes mantinha-se em cinco bilhões,
resultado do próprio controle individual.
Assim era o mundo dos
humanos naqueles idos. O retrato da harmonia, que a fatalidade ou destino
haveria de rasgar.
Tudo começou quando os
astrônomos perceberam alterações orbitais de Sírios B, estrela anã que
acompanhava Sírios A. Em cada cinquenta anos a pequena mas pesadíssima irmã da
estrela maior se aproximava mais, sendo iminente o choque das duas.
Contrariando os conceitos
científicos, foi justamente o que ocorreu. O grande impacto foi acompanhado.
Sondas enviadas ficaram próximas ao fenômeno e forneceram as imagens. Foi então
que se viu a implodida estrela se chocar e expandir dentro de Sírius A, tal
como um artefato bélico que caísse numa grande fornalha.
Estilhaços chamejantes
venceram a força gravitacional da estrela maior e passaram a orbitá-la. Um
pedaço de Sírius B não seguiu a regra, como se houvesse ricocheteado, adquiriu
incrível velocidade e ganhou o espaço livre, como a recusar aquela união.
O registro do desastre
cósmico teria ficado como mais um dos acontecimentos da astronomia, não fosse a
consequência.
Continuando a acompanhar o
bloco desgarrado, a ciência traçou a trajetória.
Como uma seta atirada para um alvo, a pesadíssima matéria estelar, l.000
quilos para cada dois centímetros cúbicos, possuía uma direção. Depois de
viajar pelo vazio sideral alcançaria o sistema solar, atravessaria as órbitas
planetárias e atingiria o centro do astro rei. Na passagem colheria a Terra em
2 de julho de 3.210.
Nada impediria o intruso de
cumprir o destino, nada poderia detê-lo, o fim da humanidade estava marcado.
Aquele pedaço de estrela era muitas vezes maior que o próprio mundo dos
terrestres.
A notícia alarmou as nações,
mas os comentários sensacionalistas aos poucos se aquietaram, afinal o fim não
seria no dia seguinte.
Aquele fato cósmico
surpreendera o homem, mas o homem evoluído, capaz de pensar em soluções mesmo
diante do irremediável. Por sorte, se é que pudesse ser dito, o inevitável
desfecho da civilização não fora no início do terceiro milênio, época das
“guerras”. O pânico seria incontrolável, levantar-se-iam legiões de fanáticos
religiosos. Abusos de toda ordem aconteceriam, os alimentos seriam difíceis, a
fome se alastraria. Conflitos, saques e vandalismos estabeleceriam caos social.
Mas, o tempo era outro.
Confirmada a situação, os
governos das Nações se reuniram no Centro Mundial de Solidariedade, em Paris.
Os melhores cientistas do planeta estavam presentes.
Presidentes e homens da
ciência, durante um mês, em ambientes separados, esmiuçaram o assunto e
encontraram as respostas. A definição científica acabou sendo a base de todo
trabalho que viria a ser executado. Frank Stanis, um dos mais conceituados
membros do grupo de estudos, foi o porta-voz que apresentou os motivos e o
projeto de salvação da raça humana. Sua oratória, desprovida dos chavões de
reverência ficou registrada:
— Senhores,
Estudamos detalhadamente o
assunto. Analisamos todos os ângulos e encontramos a forma de evitar a extinção
de nossa raça.
A única opção será a
retirada de nossos descendentes. Para isto cerca de trezentos grandes navios
deverão ser construídos em órbita estacionária. Elaboramos o projeto, serão
pequenas Terras, com ambientes semelhantes ao de um município, onde as pessoas poderão
viver e procriar até chegarem ao Sistema Alpha Centauro. Lá existem dois
planetas com possibilidades para a vida, conforme os arquivos.
Antes, porém, é importante
tecermos algumas considerações sobre nossa posição técnica.
Como é do conhecimento de
todos, ainda não nos aventuramos em viagens estelares. Nossas naves tripuladas
dominam o sistema solar, explorando o turismo ou transportando minérios. Não
estão preparadas para permanências no vazio interestelar, essas incursões são
reservadas apenas para sondas equipadas com robôs.
A estabilidade de nosso
mundo vem influindo no atraso da conquista de outras estrelas, razão de não
estarmos preparados para uma saída imediata. Por outro lado, 280 anos nos
separam da colisão. Tempo mais que suficiente para a execução do projeto.
Os passageiros dessas naves
viverão numa estrutura tubular com diâmetro interno de dois quilômetros,
seguindo-se por uma extensão circular de vinte e cinco quilômetros.
Sobre o fundo interno das
Rodas, residências, áreas de administração, de comando, de laser, de plantios,
de escolas, de comércio, de controle da saúde, tudo que for necessário para o
bem estar, serão edificados.
Cada astronave poderá comportar um mínimo de 4.000
vidas, mas no embarque o máximo deverá ser 2.5OO. Haverá uma simulação
terrestre perfeita, com dias e noites artificiais, até chuvas. Para que os
aparelhos atinjam a perfeição, calculamos 150 anos para o término das obras,
que inclui as grandes bases.
Por sua vez, as bases
estarão presas às rodas através de eixos especiais. Neles, um sistema móvel de
elevadores se encaixará para acesso a elas, ou delas para os aros de
interligação. Como podem ver no desenho: materiais, bens de consumo, estarão
sob processo de conservação permanente. Lugar para veículos e naves auxiliares,
militares ou não. São quilômetros para depósito de tudo aquilo que possuímos.
Somente não poderá ser ocupado o local dos propulsores principais.
Bem, vamos limitar os detalhes, basta dizer-lhes
que interna e externamente serão adaptados tudo o que for necessário, já criado
ou a ser criado pela ciência. Metais especiais, duríssimos, constituirão as
carcaças e os invólucros protetores dos navios, o suficiente para que possam
permanecer mais de mil anos no espaço.
Cronologicamente,
distribuímos o trabalho por etapas, que deverão ser cumpridas com rigor, assim:
1 — até 2.935, um ou dois
parques fabris de enorme envergadura deverão ficar prontos em cada continente.
A área para este fim deverá ser grande o suficiente para comportar a criação de
vários centros de treinamento, de escolas e acomodações para os futuros
tripulantes.
Paralelo aos
empreendimentos, deverá ser criado um processo educativo mundial, para controle
da natalidade. Apenas 7.500.000 poderão ser embarcados, entre jovens,
cientistas e instrutores, o restante que permanecer no planeta não poderá
continuar a procriar, também não poderá ter idade suficiente para alcançar o
final.
Nosso plano visa a extinção
do homem na Terra alguns anos antes da catástrofe.
2 — Até 3.O35, após a
implantação dos polos de produção das peças, o trabalho será executado em terra
e no espaço, para a construção das espaçonaves. O tempo se justifica diante da
técnica a ser aplicada em cada detalhe dos componentes metálicos.
Durante o mesmo período a
produção agrícola e de bens de consumo será de máxima importância. Os
excedentes deverão ser levados para grandes câmaras de suspensão degenerativa.
Servirão para suprirem as naves e para os que ficarem.
3 — A última etapa, partindo
de 3.035 vai até 3.080, ano em que a Terra enviará seus filhos para a grande
viagem.
Neste espaço de tempo, todos
os jovens e crianças do mundo, com idade máxima de vinte anos, deverão ser
encaminhados para os centros de treinamento. Somente eles irão gerar, sob
controle, os representantes humanos que conhecerão o vazio sideral.
Completando a explicação, o cientista observou
que logo após a partida das naves, os últimos habitantes da Terra ainda teriam
130 anos para usufruírem do planeta. Como os mais novos não iriam ter menos de
trinta, mesmo com a média etária de 150, nenhum deles veria o dia do
apocalipse, desde que cumprissem com determinação um rígido controle de
natalidade.
Sobre a viagem: alcançariam Alpha Centauro em
500 anos aproximadamente, uma vez que a velocidade média do comboio seria de
3.000 quilômetros por segundo.
Terminada a exposição, o
projeto foi colocado em votação. Nenhum chefe de Nação optou contra, a
aprovação foi unânime.
Ainda, naquela assembleia,
foram decididos pontos fundamentais, como liberalidade de fronteiras,
estabelecimentos das áreas para os futuros parques, padronização do trabalho,
das peças e linguagem única.
O controle de natalidade foi um dos fatores
mais debatido, no entanto, diante do equilíbrio que os próprios habitantes
mantinham, ficou resolvido apenas partirem para um sistema universal de
orientação e acompanhamento. Se necessário, outras medidas seriam tomadas.
Terminada as negociações, em
menos de trinta dias foram iniciadas as grandes construções em terra. Assim, no
Planalto Central, começaram as implantações da grande Base que serviria a
América do Sul. O mesmo nos Estados Unidos, China, França, Austrália, África do
Sul e Índia.
Após cinco anos, os grandes
complexos estavam prontos. Iniciava-se a produção das grandes peças.
Os anos passaram, naves com
minérios especiais da região dos asteroides e das luas de Júpiter desciam e
voltavam, permitindo obtenção de ligas duríssimas.
Enormes vigas não paravam
nas plataformas, uma a uma iam sendo enviadas para engates. As carcaças dos
grandes navios, gradativamente tomavam forma.
Os trabalhadores em órbita
viviam nas diversas estações requisitadas. Androides manipulados se misturavam
com os humanos na grande tarefa.
Em terra, cumpriam-se
fielmente as instruções governamentais, os excedentes de produção iam
abarrotando os armazéns.
De tempos em tempos, os
astrônomos conferiam a trajetória do grande meteoro, o resultado era sempre o
mesmo.
Grandes metrópoles se ergueram a volta dos parques.
O jovem trabalhador do início das obras estava centenário, alguns já haviam
partido.
Os “colossos”, externamente,
ficaram prontos, trezentos e sessenta no total, muito mais do que determinava o
projeto. As “rodas” giravam, estavam criadas as forças gravitacionais para a
sobrevivência humana. Nelas tudo funcionava com perfeição, inclusive o oxigênio
ambiental. Iniciava-se o trabalho interno, o acabamento, a formação das
condições terrestres.
PREPARATIVOS PARA A VIAGEM
O grande momento se
aproximava, cem anos haviam passado. Os navios estavam em fase de acabamento, iniciava-se
a colocação da terra e as construções internas. Era a última etapa, chegara a
hora da preparação humana.
Um levantamento mundial
mostrou o quadro que se esperava. Em todo planeta as maternidades raramente
recebiam pacientes. O controle de natalidade fora cumprido com rigor.
A tristeza de um mundo
desprovido do sorriso das crianças se abatia sobre os povos, principalmente
quando as poucas existentes foram levadas para os centros de treinamento. Para
amargar ainda mais, adolescentes e jovens também foram banidos dos lares.
No mundo em agonia, os
velhos desapareciam, tal qual sempre fora. Casas esvaziavam-se e cidades
morriam.
Exceto nos campos de preparação,
as crianças deixavam de existir. Os jovens e adolescentes também não eram
vistos em outro lugar. Para amenizar, a cibernética criou androides com
aparências infanto-juvenis. Foram espalhados no planeta, mas não eram reais e a
ilusão não supria o grande vazio.
Nas cidades da juventude,
como passaram a ser chamadas, exércitos de professores, psicólogos, médicos e
especialistas cuidavam dos futuros germinadores das sementes que lotariam as
naves.
Após cinco anos, as uniões
controladas se iniciaram e os meninos e meninas que embarcariam na grande
viagem começaram a nascer.
Enquanto isto, os pequenos
mundos artificiais eram preparados nos mínimos detalhes.
As primeiras crianças
cresceram e também já eram pais, quando a grandiosa obra ficou pronta.
Em setembro de 3.080, a
enorme massa ainda jovem era colocada em suas acomodações. Independente da
idade, cientistas, instrutores e pessoas indispensáveis também embarcaram. Nada
fora esquecido, inclusive animais foram levados para setores reservados.
Passariam a vida no cosmos,
gerações nasceriam naquelas Rodas. As bases estavam lotadas com tudo que a
Terra possuía, só faltavam as fábricas. Os suprimentos eram para muitos
séculos.
Trezentas e sessenta
gigantes se reuniram em órbita estacionária sobre o Planalto Central. Por dias
o facho luminoso se fez presente nas noites de Brasília.
O último adeus foi acenado.
Os que ficaram não veriam o final.
O comboio singrou o sistema
solar e ganhou o vazio sideral. Formava três colunas comandadas pela nave 001
que ia a frente. Distantes cinquenta quilômetros uma da outra, se dispunham nas
filas em ordem numérica crescente.
As comunidades com média de
2.5OO pessoas cada, eram cidades flutuantes que esperavam alcançar num futuro
distante, algum mundo em Alpha Centauro.
A maioria dos viajantes
nunca haviam usufruído de tanto conforto, nem da liberdade que encontraram.
Confinados desde o nascimento até iniciarem a jornada, estavam habituados a um
mundo fechado, com pouco contato com a natureza. Todos falavam a mesma língua,
um tipo de “esperanto”.
FIM DA TERRA
A VISITA DOS IONIS
O plano humano funcionou, as
cidades embutidas nos círculos metálicos levavam pedaços de um mundo prestes a
sucumbir.
As primeiras gerações já
estavam substituindo os velhos habitantes.
O conjunto dos navios
formava o “território” de uma grande nação, com alegrias, tristezas, trabalhos
e entretenimentos. Um pedaço de nova história já existia.
O ano já era 3.210,
aproximava-se a data sinistra. As imagens da Terra chegavam muito ruins. Há
vários anos que haviam cessado os contatos verbais. De vivo, apenas alguns
animais nas fantasmagóricas cenas recebidas.
Como haviam cumprido um
quarto da travessia, somente no ano seguinte é que veriam os últimos momentos
da Mãe-Terra. Foi o que aconteceu.
Em 8 de novembro de 3.2ll,
captava-se o fim, a revolta da natureza, tudo se incendiando e tornando-se
massa informe, última imagem recebida.
Os velhos choraram, eram os
únicos que entendiam aquele final e o enorme trabalho realizado.
Dois meses após era
reiniciada a contagem do tempo, o ano UM começou em Janeiro de 3.212.
Nem tudo era perfeição,
descontentamentos, focos de desentendimentos e até acidentes graves faziam
parte do dia a dia. Nessa primeira fase da viagem, a mais grave ocorrência fora
com o navio 096, onde a Roda parou, mais de oitenta habitantes da comunidade
perderam a vida.
Viagens entre as Cidades
Espaciais tornaram-se comuns. Dos ônibus, os passageiros podiam ver o exterior,
o negrume do cosmos pontilhado de estrelas e as luzes dos navios. O grupamento
aparentemente imóvel, ganhava distância.
Entre os fatos mais interessantes
registrados, foi o do contato com alienígenas, no décimo ano da nova contagem.
Originários de um planeta do
sistema Tau-Ceti, abordaram o comboio, numa nave menor que qualquer das cidades
espaciais. Comunicaram-se na língua dos humanos e por alguns dias visitaram o
mundo dos terráqueos. Pequenos, de cabeças avantajadas, olhos oblíquos, se
mostraram amáveis e logo ganharam a confiança. Nas entrevistas, disseram ter
visto a Terra, após a catástrofe. Eram cientistas, de há muito conheciam tudo
sobre o mundo dos homens, mas nunca haviam optado pelo contato. Foram eles que
informaram sobre a total impossibilidade da vida no sistema solar após a
colisão. Disseram vir de um planeta chamado Ion, onde a evolução técnica havia
superado todas as barreiras.
A visita dos Ionis foi a
única de extraterrestres, durante toda travessia, as futuras gerações não mais
iriam ter aquela oportunidade. Vieram num momento muito oportuno, abafando
movimento de grupos radicais que perturbavam a ordem, exigindo a volta das astronaves.
Esses grupos diziam que não passavam de cobaias, que tudo fora preparado para
pensarem que a vida no planeta deixara de existir.
Uma insensatez, mas
aconteceu, tudo começara há vários anos antes, na nave 007 numa aula de
história, quando o aluno Pasteli expôs sua ideia e logo ganhou a adesão de
muitos colegas. Aquilo que não teria passado de “bate papo” entre aluno e
professor acabou transformando-o em líder. Gostou da ideia e passou a
pressionar as autoridades. Formou uma associação que acabou estendendo por
todas as comunidades.
Pasteli reconheceu o erro
quando os Ionis lhe mostraram a verdade. Apresentou-se no sistema televisivo,
se desculpou com a sociedade e a organização foi extinta.
FATOS MARCANTES
Duzentos e cinquenta anos
após a partida da Terra, a frota se encontrava em pleno vazio sideral. Nada no
exterior perturbava o caminhar dos humanos. A geração era outra, ideias novas
surgiram. Mudanças nas regras, com liberalidades prejudicavam a estabilidade.
Tudo que fora implantando,
parecia desmoronar. Uma regressão moral levava os jovens ao vandalismo e a
abusos de toda ordem. Roubos e assassinatos se registravam. Cidades ameaçavam
outras. Nada ia bem.
O sentido da viagem
perdia-se. A nave militar 002 destinada à formação de reservistas, tornara-se
um grande presídio.
Uma radical mudança era
necessária. Foi o que aconteceu. O Presidente Tobias, principal responsável
pela situação, pressionado pelos conservadores acabou se demitindo.
Jonas Tetri assumiu, formou
novo conselho, mudou a maior parte dos comandantes de naves e reestruturou a
segurança, baniu as novas leis, retornando ao sistema anterior. Utilizando
forças militares prendeu os transgressores. Com a Nave 002 superlotada, ameaçou
deixá-la a deriva, com o sistema de direção danificado. Não o fez, o susto fora
suficiente para conseguir novamente a ordem.
Tudo voltou a antiga rotina,
no comércio, nas festas, nas aulas, nos esportes, nos cultos e em todas as
atividades. As excursões passaram a ser novamente bem recebidas e a alegria
retornou.
Desde o acidente da 096, a
manutenção passou a ser permanente, aquilo dificilmente voltaria a ocorrer. No
entanto, o ser humano é falho e pode criar o acidente. Foi o caso do Comandante
Brenus da 120.
Estava ele, sentado, frente
ao painel de sua responsabilidade, quando o sono lhe veio e não percebeu a
ordem do Comando Geral. Uma avalanche de meteoros se aproximava, a ação de
desvio deveria ser imediata.
Não fossem os auxiliares
tomarem conhecimento e acordá-lo, aquele Navio seria despedaçado.
Tão logo abriu os olhos,
mandou que se retirassem, acionassem os alarmes e levassem os habitantes para a
base. Enquanto isto, procurava trabalhar contra o tempo, acionando os
propulsores para se colocar junto com os demais navios.
Antes mesmo dos últimos
moradores seguirem para o abrigo, o ribombar das pedras soavam como uma grande
tempestade.
Quando a Astronave se
nivelou, um grupo de inspeção com trajes protetores entrou na Roda. Tudo estava
em ordem, menos o ar que se extinguira.
Brenus, ainda com a mão nos
comandos, estava imóvel. Fora negligente e herói, mesmo vendo a vida se esvair,
manuseou os controles até o último instante.
Depois deste acontecimento
tudo novamente retornou a normalidade.
A jornada interminável
seguia o destino. Corria o ano 130, o sistema Alpha já tomava conta dos telões.
Foi quando um ponto luminoso começou a aparecer, para no espaço de alguns meses
se tornar uma brilhante estrela.
Um sentimento de que talvez
estivesse chegando o momento de encontrar novo lar, não deixou de oferecer uma
sensação de ansiedade coletiva. Mas logo os comunicados dos centros de estudo
desfizeram falsos comentários, era apenas um micro sistema planetário, sem
registro científico.
Passaram perto do conjunto, dois
planetoides iluminados por um pequeno sol.
O comboio cumulava os fatos.
Em cada cidade a vida dos habitantes e todas as ocorrências eram processadas.
Uma infinidade de informações, se compiladas formariam volumes sem conta sobre
os terrestres.
No espaço entre um sistema
estelar e outro, nada realmente existe. Um objeto parado ou em alta velocidade,
visualmente se torna inerte. O vácuo, a falta de atrito, permitiram aos humanos
colocar os pequenos mundos na direção dos sóis mais próximos. Aos poucos
ganhavam distância, quase sem acidentes externos.
Famílias se sucederam dentro
de um rígido controle de natalidade. Cada roda mantinha em média 4.500 pessoas
em todas as faixas etárias. No cotidiano, os acontecimentos locais e das
cidades vizinhas davam sustentação emocional aos moradores.
No correr dos anos, sempre
alguma coisa alegrava ou chocava a nação.
Um curioso episódio dessa “odisseia”,
foi o encontro de uma nave alienígena perdida, pouco antes de entrarem nos
domínios de Alpha Centauro.
Detectada com surpresa pelo
comando geral e percebida a não resposta dos diversos sinais emitidos, foi dada
ordem de abordagem.
Tomada as precauções
necessárias, cientistas e técnicos forçaram a escotilha e invadiram o enorme
objeto. Atmosfera e gravidade artificial igual a dos humanos compunham o
ambiente vital do aparelho. Esqueletos dos últimos sobreviventes se espalhavam
no centro de controle.
O aparelho não estava
danificado. Descobriram como operá-lo e o mesmo passou a fazer parte da frota,
tornando-se temporariamente um tipo de “museu”.
O mistério da morte dos
tripulantes foi desvendado. Simplesmente as reservas alimentícias se esgotaram.
Surpreendente atraso diante da técnica encontrada.
Conforme as gravações de
bordo, originavam-se de um planeta estável, 30 anos luz da área onde a
astronave fora encontrada. Faziam regulares incursões estelares e podiam
atingir até 60.000 km s/s. Portanto, a capacidade de mobilidade do objeto era
incomparável com a máxima dos navios terrestres.
O ocorrido marcou um período
de agitação nas comunidades, a existência de seres semelhantes na periferia da
galáxia não surpreendia, mas colocava dúvida sobre a origem evolutiva animal.
Reforçando a teoria, de que o homem há muito plantava sementes nas estrelas.
Naquela fase da viagem, a
juventude se mostrava muito inquieta, adquiria índices culturais altíssimos,
mas não conseguia aplicar os conhecimentos. Rapazes e moças entravam na vida
adulta praticando as mesmas rotinas dos antepassados. Trabalhos quase artesanais,
comércio e raras oportunidades de pertencerem aos quadros de comandos dos
navios.
A capturação da astronave
motivou um grupo liderado por Guilherme Telles. Suas ideias tomaram forma e
ultrapassaram o círculo metálico da 210. Persistente e atuante, acabou por
conseguir o uso da nave alienígena.
Reuniu uma tripulação de
quinhentos homens e mulheres na faixa de 25 a 30 anos, após rigorosa seleção.
Por bom tempo trabalharam no
aparelho, adaptando-o para as condições terrestres, não deixando de incluírem
um sistema de conservação alimentar permanente.
Concluída a reforma, algumas
incursões foram realizadas, todas de curta duração, o suficiente para
perceberem que no vazio nada existia.
Frustrada as expectativas, o
projeto inicial perdera sentido. Guilherme não se entregou, convenceu o comando
geral e obteve permissão para seguir à frente do comboio, buscando o objetivo
da missão. Assim, no ano 190 o navio partiu deixando a frota. Nascia uma
esperança, se chegassem ao destino, um elo poderia ser vital.
Alpha C tomava conta dos
visores, os planetas podiam ser detectados, doze ao todo, gélidos, de vários
tamanhos. Acompanhavam o grande astro em agonia. Seu brilho era visto porque a
frota penetrava seus domínios.
Os antigos e fiéis
instrumentos de bordo indicavam justamente a primeira estrela do sistema.
Também a ordem de desaceleração do comboio, passando-o para a velocidade
mínima, o caminho dali para frente seria de risco. Assim, mais lentas ainda
seguiam as naves, de 3.000 para 300 Kms./s. Asteroides, meteoros, cometas
poderiam infestar a área astral, principalmente considerando que até planetas
se escondessem no escuro éter. Corria então o ano 300.
A frota atravessou o primeiro sistema sem maiores
problemas, enviando mísseis de reconhecimento, foi possível uma visão frontal
do caminho e uma reaceleração controlada.
O COMETA GIGANTE
A CHEGADA EM ATLAN
Em 320, completava-se 450
anos terrestres da grande travessia. O conjunto estelar Alpha A e B estavam
próximos, o fim da viagem estava chegando.
Foi nessa região espacial
que um fato nunca esperado aconteceu. Um cometa gigantesco se aproximava.
Parecia não haver saída para a raça humana. Aquilo era tão grande que poderia
colher todo comboio. Não passavam de pontinhos negros diante do núcleo
esbranquiçado chegando.
O Presidente na época,
Salinas, não encontrou alternativa, expediu imediata ordem de aceleração total.
Foi o maior desastre ocorrido, o astro passou e dez navios desapareceram, os
últimos das fileiras. Outras naves também próximas ficaram descontroladas e com
muitas avarias. Milhares de vidas se perderam, não contando as das espaçonaves
perdidas. O lamentável acidente fez toda nação chorar.
Salvos os navios vitimados e
recuperadas as cidades, a frota se alinhou novamente e seguiu o destino.
Vinte anos após, a população
já havia esquecido a tragédia, nenhum outro problema ocorrera. Faltava muito
pouco para entrarem em Alpha A/B, quando a ponte de comando da nave 001 ordenou
o envio de sondas para os diversos planetas dos sistemas, concentrando-as nos
centrais de ambas estrelas, onde os antigos davam como certa a possibilidade de
vida. Observaram então a incrível máquina celeste, dois sóis, um de intensidade
luminosa maior do que o outro, se orbitando, levando nessa dança suas famílias.
Nesse jogo, a equidistância com os dois centros de energia permitia dois mundos
se beneficiarem das condições para a vida. Confirmação logo obtida através das
imagens que começavam a chegar.
Os centros de estudos
estavam em intenso trabalho, quando débeis sinais radiofônicos começaram a
chegar. A princípio pensaram ser de alguma das naves perdidas, mas melhorando
os controles de captação, ficaram atônitos quando entenderam tratar-se do filho
de Guilherme Telles, que já vivia no mundo que procuravam. As mensagens
demoravam a chegar e era difícil o entendimento.
O então Presidente Alves
respondeu, pedindo para que melhorasse a transmissão.
Passado algum tempo, Argos
voltou, desta vez a voz era clara. Contou sobre a viagem, nascera dentro da
espaçonave e vivera nela até os vinte anos, aprendera tudo sobre navegação.
Conforme o filho de Telles,
ao entrarem no sistema a nave quase foi destruída por Asteroides pequenos, por
isto não possuíam condições de comunicação eficiente. Ao descerem no planeta
encontraram alguns nativos de estaturas médias e olhos grandes, mas simpáticos.
O maior problema foi o das doenças. Não estavam imunizados, mais da metade dos
tripulantes não suportaram e faleceram; inclusive o próprio pai.
Quanto às condições do
ambiente, eram as melhores, pouquíssimas as divergências com os padrões
terrestres. Períodos noturnos e diurnos variavam de acordo com as posições
solares e os satélites naturais, nunca se formando escuridão. Estações mais
secas, mais frias e de chuvas se revezavam.
A ajuda de Argos eliminava
todas as dificuldades que poderiam ter para chegar ao azulado mundo de Atlan,
nome dado pelos pioneiros, 5o. planeta da Alpha A, com três luas e dois sóis.
Assim, após ultrapassarem a barreira de Asteroides, iniciaram intensos
preparativos, criaram vacinas ativadoras de anticorpos e receberam treinamentos
intensivos de como viver na superfície. Sempre auxiliados por aquele homem do
solo; o grande conjunto das trezentas e cinquentas astronaves orbitaram a
futura morada.
Desceram tudo que podiam,
pessoas, animais, máquinas, equipamentos de todo tipo, inclusive algumas bases.
A grandiosa tarefa terminou com o envio das cidades vazias, junto com a maioria
dos lastros para os dois sóis.
Na superfície do belo
planeta, os campos verdejantes estavam prontos para receber os humanos. Os
nativos eram pouquíssimos, não passavam de três mil em todo globo. Mares,
oceanos, rios, lagos, montanhas, pássaros, animais desconhecidos e ruínas de
uma civilização extinta compunham a paisagem do novo paraíso.
Quinze milhões de terrestres
invadiram territórios sem dono e iniciaram a colonização. Eram passageiros,
sementes, que encontraram o solo; o porto de chegada.
Oi Armando consegui entrar no seu Blog
ResponderExcluir