domingo, 5 de outubro de 2014





TERCEIRA PARTE




 O FUTURO

                                      
 CINQUENTA MIL ANOS DEPOIS


O veículo deslizava pela lamacenta estrada, a chuva não parava. Dentro, Juno que estava como motorista, conversava com o amigo ao seu lado:
— Saímos do conforto para virmos neste fim de mundo e, para que?
Só para extrairmos ossos antigos. Meu carro é novo, comprei a um ano, veja só a lameira!
— Você reclama muito Juno, pense no que vamos ganhar se conseguirmos provar nossa teoria.
— Para falar a verdade não é teoria, estamos nos baseando em simples hipóteses. Há uma lenda nesta região que fala de um povo que veio do espaço para nos ajudar. Falam com tanta credulidade, que não custa fazermos algumas escavações.
Mas isto aqui é o fim do mundo!
— Segundo alguns registros, a região fica no equador, a mata é exuberante, por isto a lama e a chuva constante.
Nisto, Juno para o carro, não havia condição de continuar. A estrada terminara, dali em diante somente a pé.
— E agora Palo?
— Vamos vestir as roupas para mato e investigarmos cinco quilômetros a frente, se nada encontrarmos, voltaremos com um grupo de mateiros.
— Aqueles caçadores me deram certeza de que viram sinais de construções aqui, comentou Juno.
Vestiram as pesadas roupas e com facões começaram a penetrar a densa vegetação, marcando sempre as árvores onde passavam.
Caminharam em todas as direções, mas nada encontraram. Eram experientes, não era a primeira vez que vasculhavam áreas inóspitas a procura de coisas do passado.
— Que lugar entramos! Estou imundo, comido pelos insetos, nem o repelente que usei os afastou. Você parece melhor Juno.
— Tanto trabalho, para nada, mas os homens me pareceram sinceros e me mostraram no mapa o local.
— Estava junto, apontaram com o dedo, o que representa uma área maior. Mas está anoitecendo, é bom irmos para Tinira, temos trinta quilômetros de lama até pegarmos o asfalto, depois mais cinquenta.
Com muito custo saíram da velha estrada e rumaram para a pequena cidade. Sujos como estavam, só depois de muita explicação conseguiram um quarto no hotel.
Depois de escoarem pelo ralo a terra e o suor seco que traziam, trocaram de roupa e pediram refeição.
Enquanto se alimentavam, Juno comentou:
— Não tenho certeza, mas um pouco antes de entrar no asfalto, tem uma área plana e uma saliência no centro, como a existir uma grande pedra em baixo. Na penumbra, deu-me a nítida impressão de um majestoso prédio.
— Por que não me mostrou?
— Não tive certeza, na hora acreditei numa ilusão ótica. Já estamos aqui, seria bom voltarmos lá, acho que poderá valer a pena.

No dia seguinte, ambos voltaram para a região, mas antes de tomarem o atalho, munidos de binóculos saíram do carro e passaram a observar. Não demorou, Palo encontrou o local.
— Veja Juno, naquela direção. Não é o que viu?
— É aquilo mesmo. Podemos ir pelo asfalto, deve haver algum proprietário.
Entraram no veículo e dirigiram por alguns minutos, logo deram com a entrada, onde uma pequena casa parecia pertencer ao dono do sítio. Uma das poucas residências antigas feitas com toras de madeira.
Desceram com o carro o pequeno trecho e chegaram a um pátio frente a mesma. Logo um homem de meia idade veio ao encontro deles.
— Precisam de alguma coisa?
— Sim, Senhor...
— Polacin, as suas ordens.
— Pois bem Senhor Polacin, vimos aquela elevação no seu terreno, gostaríamos de ir até lá para darmos uma olhada de perto.
— Ah! O Morro do Colégio?
— Morro do Colégio! Por que?, Perguntou Palo.
— O nome foi sempre este, vem do tempo de meus bisavós. Nunca vi nada, mas me contaram que em noite escura aparecem estranhas luzes e que muitos ouvem vozes que parecem vir de dentro do morro.
— O terreno é muito plano em volta, não aproveita para plantar?
— Nada nasce, só erva ruim, muito duro para cavar.
— Podemos ir até lá?, Perguntou Juno.
— Fiquem o tempo que quiserem, mas muito cuidado com as cobras, ali está infestado delas. A gente mata, mas continuam a aparecer.
— Diante da advertência, os amigos foram calçar as botas, pegaram alguns instrumentos e caminharam em direção ao estranho e baixo platô.
— Veja como é realmente duro o chão, a vara de pressão indica material sólido a dois ou três metros, coberto por esta terra que parece socada.
— Chegamos Juno!
— Cuidado Palo! As cobras que o velho falou, jogue o jato de gás anti-réptil.
Imediatamente apontou o ejetor para elas e as pulverizou, no mesmo instante se retorceram e se prostraram. Assim, quase acabaram com as cargas de seus aparelhos até poderem se aproximar de uma das laterais do morro, onde o rochedo se direcionava em retíssima linha para o alto.
— Olhe isto, não parece coisa da natureza. Passe a marreta, vou tentar aumentar esta rachadura. Se for o que estou pensando, tudo isto é uma casca. Vou colocar explosivos, me dê a massa e dois sensores.
Palo se afasta do local e espera o amigo, logo que este chegou ouviu-se a surda explosão e a poeira bater neles.
— Vamos ver!, disse Juno.
No paredão, uma lasca fora arrancada, ficando visível uma parede de tijolões.
— Tem realmente uma construção em baixo e não é pequena. Veja o entrelaçamento dos blocos, são perfeitos.
Juno, olhe! A primeira camada de cobertura é de corais, sinal que isto já esteve no fundo do mar, ou antes as águas cobriam esta área.
— Depois ficou exposto, milhares de anos se passaram, permitindo a formação de uma cobertura aparentemente rochosa, camuflando o que se encontra em baixo.
Isto é muito importante, convém fazermos a marcação e avisarmos o Instituto.
— É aqui mesmo, não há dúvidas.
— É provável que os escritos antigos estejam certos, falam da grande casa de ensino e de homens do céu. Falam também de inundações e seja o que for que estiver aí, esteve longo período sob o mar.
— Precisamos cientificar Polacin, disse Palo, enquanto tirava fotos em todos os ângulos.
Voltaram à pequena casa, Polacin e a esposa os esperavam, logo que chegaram o velho disse:
— Ouvi uma explosão, o que estavam fazendo lá?
— Achamos uma mina de ouro! Respondeu Juno.
— Ouro? Perguntou o velho, com os olhos abertos e pensando em riqueza.
— Não o ouro que está pensando, mas deverá ganhar bom dinheiro. É provável que toda sua propriedade esteja sobre um sítio arqueológico.
— O que é isto?
— Quer dizer que poderemos descobrir aqui ruínas de lugares que existiram a milhares de anos. Voltaremos com um grupo especializado e com equipamentos, se confirmada como área de interesse, poderá arrendá-la ou vendê-la. Garanto que a oferta será muito boa.

Faltava um mês para a Conferência Internacional de Arqueologia, a descoberta de Juno e Palo poderia revolucionar os conceitos de que a origem humana não ultrapassava a dez ou doze mil anos. Os homens da ciência sempre negavam evidências que pudessem quebrar os chamados princípios lógicos.
O planeta havia sofrido um cataclismo, isto era evidente, o que não sabiam era que a grande civilização anteriormente existente fora totalmente engolida pelas terras e estas pelos oceanos. Nas novas formações geológicas a vegetação voltou exuberante e os poucos sobreviventes proliferaram, evoluíram e novamente compuseram a sociedade global, composta por duzentos e vinte Nações.
Algumas pessoas de mente mais aguçada escreveram livros procurando mostrar achados antigos que não poderiam ter sido executados por homens semianimais. Na tentativa de explicarem, a maioria se enveredou para origem alienígena. Uma boa parte seguiu o caminho sensacionalista, ciaram no descrédito e influíram na permanência de conceitos clássicos.
Embora tudo se perca no balançar de um astro, resíduos do passado permanecem e tornam-se quebra-cabeças indecifráveis.
A crosta se enruga, traz a tona vestígios da formação animal ou de outras eras e leva para o fundo a maior parte do que era presente.
Se fica na superfície, de grânulo em grânulo o vento decompõe. O que sobra, muitas vezes não oferece significado.
Com os fragmentos, formam-se o início da história. Nesta ciência desprezam-se escritos antigos, a menos que sejam comprovados. Para estes famosos homens do saber, as narrativas não passam de fábulas. Quando se descobre uma ruína, geralmente são associados a povos que vivem ou viveram na região em épocas relativamente recentes, sempre se evitando a datação exagerada.
O grande livro, pregado pelas seitas religiosas e incutido nas mentes dos povos, falam que no começo os homens eram peludos, que anjos deram a eles o conhecimento, que os salvaram. Que deram sementes e aves e que construíram a Casa da Luz. No conceito da fé, isto teria ocorrido a não mais de cinco mil anos.  

Palo e Juno voltaram para Cantro, capital de Satalan, Nação situada próxima ao equador de Marino. Logo que chegaram foram para suas casas. Há dias que estavam ausentes, mas antes combinaram levar o relatório no dia seguinte para o Instituto.
— Querida, cheguei!, disse Juno ao entrar em sua casa.
Luci logo veio, mas não estava receptiva, foi logo dizendo:
— Por acaso não existo? Esqueceu que tem mulher e filhos?
— É assim que me recebe, depois de tantos problemas que enfrentei? Fui mordido por moscas gigantes, estive muito tempo na mata.
— Em todo lugar, que saiba, tem telefone, além do seu que leva no carro. Podia ter perdido um pouco do seu precioso tempo e ter falado comigo.
— Mas onde estão as crianças?
— Minha mãe veio hoje e as levou.
— Luci, fizemos uma descoberta, talvez a maior já realizada neste planeta, se não me engano, talvez seja a Casa da Luz citada no Grande Livro.
— Está bem, vá trocar esta roupa imunda. No fim sobrou para mim. Aposto que a mochila está cheia, dinheiro que é bom!
— Pare de resmungar e venha me dar um abraço!
Ela sorriu e se aconchegou ao marido.

Palo, solteiro, encontrou o pai e a mãe preocupados, nem lhes havia dito que ia viajar. Deu algumas desculpas, tomou banho e foi saborear uma refeição.

Descansado, rumou para seu pequeno escritório e pôs-se a elaborar o relatório, não esquecendo o mínimo detalhe.
Tanto quanto Juno, estava entusiasmado, saiu um pouco para espairecer mas logo voltou e foi dormir. Quando acordou o amigo já o esperava.
— Vamos Palo! O trânsito não está fácil.
— Quer tomar café?
— Não, obrigado.
Depois de alguns minutos, os dois desceram as escadas, saíram do prédio e foram para o veículo.
Enquanto dirigia, Juno perguntou:
— Fez o relatório Palo? Juntou as fotos?
— Fiz, anotei tudo que lembrei. As fotos estão juntas.
— Lá eu assino. O importante é não ter esquecido de nada.
Levaram cerca de uma hora para chegarem ao majestoso edifício, onde vários Institutos funcionavam. Entraram no elevador e apertaram o décimo andar.
Diversas divisórias separavam os vários setores de trabalho. Caminharam até o cômodo da chefia e encontraram Luca.
— Entrem e sentem-se, disse a ambos.
Como foram de viagem?
— Muito bem Luca, acreditamos haver encontrado algo muito importante.
— Isto é bom, estavam ameaçando fechar o Instituto.
Me forneçam o relatório e os comprovantes de despesas.
— Estão aqui, disse Palo, entregando os documentos.
Luca ao abrir o relatório viu que não estava assinado.
— Deram-me um papel sem importância.
— Como? Atalhou Juno.
— Sem assinatura não vale.
— Desculpe Luca, por gentileza me arranje uma caneta.
Após assinar o documento e entregar ao Chefe, este leu, viu as fotos e exclamou:
— Isto é fantástico! Quero vocês amanhã mesmo lá, com máquinas e o que for necessário. Provável que também vá. Vou comunicar com o Presidente, sobre o achado.
— Mas ainda não temos certeza, disse Juno.
— Certeza do que? Precisa mais? Vá por mim, o que encontraram poderá revolucionar a história. Por outro lado isto vai gerar turismo e dinheiro.
Vou colocá-lo como chefe das escavações e Palo como seu auxiliar imediato. Vão ficar muito tempo lá, tratem de arranjar acomodações semi-permanentes.
— Tudo bem Luca, só que neste caso tenho de levar a família, terei de alugar uma casa em Tinira. O Instituto pagará tudo?
— Lógico Juno. Quanto a você Palo, fique numa pensão ou apartamento. Me enviem os contratos.
Agora, façamos a lista de material e pessoal. Vamos ter muito trabalho ainda hoje.
Quando saíram do prédio, já estava anoitecendo. Luca não queria perda de tempo, temia a invasão de terceiros, uma vez que o dono da propriedade não iria fazer segredo.
Não foi fácil Juno convencer a esposa.
— Não vou para esse fim de mundo! Não vou!
— Luci, é meu trabalho, chegou o momento de melhorarmos. Você pode até ficar aqui, mas não sei quanto tempo vou demorar. Cada pá de terra é peneirada, o trabalho é vagaroso e eles querem algum resultado antes da Conferência.
— Você quer ir sozinho! Não é isto?
— Mas quem falou em ir só? Quero sua companhia, mas não quero que vá magoada. Parece que não percebeu que isto poderá ser uma das maiores realizações no campo arqueológico.
— Então arranje tudo primeiro, depois venha me buscar.
— Sem ressentimentos?
— Sim. Como viveria longe de você?

No dia seguinte, um comboio de máquinas e veículos saiu de Cantro em direção à Tinira.
Na pequena casa a beira da rodovia, Lana, esposa de Polacin estava nervosa e preocupada com os estranhos que haviam ido até lá.
— Pola, quem são aqueles homens ?
— Me disseram que eram... que eram...
Me esqueci, mas falaram que vão voltar e que aquela terra tem valor.
— Aquilo não presta, quem sabe compram da gente, precisamos de dinheiro.
— É mesmo, faz tempo que não compro uma roupa, precisamos fazer muitos consertos na casa, completou Polacin.
Estavam ainda conversando, quando o barulho de vários carros e máquinas os fez saírem para verem o que acontecia. Voltaram para dentro da casa assustados.
— Senhor Polacin! Sou Luca do Instituto, disse do lado de fora.
O velho abriu a porta, receoso diante do volume de pessoas.
— Entre Seu Luca e sente-se.
— Sua terra tem algo que nos interessa, antes de entrarmos, precisamos negociar.
— Se for o pedaço onde os moços entraram, eu vendo.
— É justamente ali mesmo. Encontramos restos de construção muito antiga e isto nos interessa.
— Eles disseram, confio no Senhor.
— Esta venda é para o Governo, vamos lhe pagar cem mil, está bem?
— Tudo isto?
— Se está achando muito, nós diminuímos.
— Não, negócio fechado.
— Vou providenciar os papéis e o dinheiro, dentro de dois dias lhe faremos o pagamento.
O velho ria atoa, nunca esperava ganhar tanto.
Em seguida, Luca deu ordem para o pessoal entrar.
Imediatamente começaram derrubando as velhas cercas que dividiam o local e passaram a assentar um moderno alambrado. Uma tabuleta proibindo a entrada e indicando área de pesquisa mostrava a marca oficial. Naquele mesmo dia, barracas foram montadas e um portão dava acesso ao terreno.
Polacin e a mulher acompanhavam aquela loucura e não entendiam como em tão pouco tempo haviam modificado tudo.
Terminada a primeira parte, Juno orientou seu pessoal sobre os procedimentos. A pedido do Chefe, fariam um buraco nos tijolos descobertos.
Vestindo roupas especiais, um grupo iniciou a abertura. Tijolão por tijolão foram cuidadosamente sendo extraídos, mas a noite veio e o trabalho parou.
No dia seguinte continuaram, até que o homem a frente, no pequeno túnel gritou:
— Vazio do outro lado!
Retirou mais três tijolões e levou luz para o interior, voltou estarrecido dizendo:
— Tem tanta cobra ai dentro, que não se vê outra coisa.
Enquanto explicava, elas começaram a sair, mas logo o venenoso gás foi eliminando-as.
Juno, se aproximando do trabalhador, disse:
— O que acha Turibo? Usando os pulverizadores individuais, poderemos entrar?
— Espere um pouco Seu Juno, vou colocar os tijolões para tampar o buraco.
Voltou-se e continuando a eliminar cobras que tentavam sair, foi fechando rapidamente o local. Depois disse:
— São tantas que não dava nem tempo de lhe responder. Não vai dar para entrar, será preciso um bombeamento de gás por várias horas, em seguida uma turma para retirá-las e queimá-las, calculo que um caminhão será pouco para retirar o que há ali dentro.
— Como elas puderam proliferar tanto? Perguntou Palo.
— Deve haver muitos ratos e se eles existem é porque sobrou muito material para sobreviverem, respondeu Luca.
— Por isto que o pessoal daqui tinha receio de chegar perto, dizendo que ouviam vozes. Naturalmente na quietude da noite, os sons dos movimentos delas, os pios e os guinchos dos ratos foram ouvidos e confundidos, comentou Palo.
Juno conversou com Luca, não estavam preparados para uma situação daquela. O Chefe se comunicou com a sede e pediu o envio aéreo urgente de um compressor grande e muito veneno para víboras.
Duas horas depois, o avião especial parou sobre o campo de pesquisas e desceu o equipamento solicitado.
Distribuíram máscaras para todos, até para os velhos Pola e Lana, que demoraram a entender. Na estrada, elementos do grupo ficaram orientando os veículos para não pararem.
Enquanto isto, o bombeamento pesado era introduzido no buraco, a fumaça azulada depois de algum tempo começou a aparecer em vários pontos do terreno e da elevação. Quando o gás turvava o ambiente externo, houve a ordem de parada. A operação estava concretizada.
Os primeiros a verem o interior foram os encarregados da limpeza, que munidos de tridentes foram retirando os répteis inertes juntamente com ratos que pareciam não acabar.
Uma vala foi aberta e pás carregadeiras levavam aos poucos aqueles indesejáveis habitantes para incineração.
Terminada a limpeza, o grupo de vistoria entrou. O primeiro foi Luca, depois Juno, Palo, Turibo e dois elementos com fortes lâmpadas.
Ficaram abismados com o que viram, Luca foi o primeiro a falar, dirigindo-se a Juno:
— Depois de recuperarmos isto, vai haver uma total mudança nos conceitos até hoje mantidos. Devemos estar num prédio construído a muito mais de trinta mil anos. Não esqueça de deixar uma pequena parte como está, para que os futuros visitantes possam imaginar como foi encontrada. Tire fotos do local antes das escavações.

A notícia caiu como uma bomba, choveram jornalistas de todas as partes do mundo. Queriam registrar o fato histórico.
Juno trouxe a esposa e os filhos e passaram a residir na pequena cidade.
Palo ficou numa pensão e dava cobertura ao amigo, principalmente quando precisava se ausentar.
A conferência internacional se realizou, Juno foi chamado a participar. Em meio aos grandes mestres, se sobressaiu. Sua palestra foi marcante, munido de fotos e filmes, mostrou os primeiros resultados de seu trabalho, a certo ponto disse:
— Estamos prestes a desvendar um elo muito significativo de nossa existência. Tudo indica tratar-se de um colégio de Ensino. Encontramos compartimentos semelhantes aos de salas de aulas. Ainda não temos uma medição exata do tempo, mas pelas incrustações marinhas e pelos resíduos petrificados de lodo, foi possível encontrar substâncias orgânicas, cuja datação retrocede a trinta mil anos, época de um provável abaixamento da região ou cobertura pelas águas.
— Isto é um absurdo! Interrompeu Gigan um dos representantes apegados aos princípios clássicos.
Deve haver erro em tudo isto, já foi provado que estamos neste planeta a apenas doze mil anos no máximo. Antes disto éramos primatas peludos.
— Bem Dr. Gigan, respeito sua opinião, mas o que estou dizendo são fatos. Outra coisa, até onde chegamos, observamos que em tudo foi utilizado uma avançada técnica de engenharia.
Terminada a conferência, Luca convidou os participantes para conhecerem o sítio arqueológico.
Gigan foi o maior interessado, logo que chegou passou a examinar tudo que via, no final, chamou Juno e confidenciou:
— Você tem razão, estou errado em afirmar coisas que me pareciam lógicas. Meu livro, diante do que estou vendo, foi um tremendo erro.
— Foi difícil também para mim aceitar os fatos, pena que só agora descobrimos esta área. O incompreensível é que os habitantes desta região conhecem este lugar como Morro do Colégio.
— Isto é uma coincidência, devido ao formato da elevação, que lembra uma grande casa. Mas devo dar-lhe os parabéns pelo trabalho.
Se não se importar, gostaria de ficar por uns tempos acompanhando as escavações.
— Por mim é uma satisfação, mas por favor fale com Luca, meu Chefe.
Extrair cuidadosamente a terra e a carapaça calcária proveniente dos corais era um trabalho difícil, mas aos poucos as paredes tomavam forma.
Os portais de entrada apareceram e na lateral direita uma placa metálica se fez saliente. Foi um alvoroço, Juno correu para vê-la. Foi retirada e limpa. Nenhuma ranhura, nenhuma corrosão. Os escritos eram em relevo, claros e uniformes.
Gigan, que se mantinha diariamente junto com os jovens, conhecia aqueles caracteres e se prontificou a traduzi-los.
— É incrível Juno, a escrita pertence às línguas mortas. Aqui se lê:
Escola projetada por Kalil, filho de Sato Rei dos Nogos.
Engenheiro construtor: Gilbert Luma — Nave T 355 — Cidade espacial Terrestre — inaugurada em 14.780 T. Marino.
— Fantástico! É prova conclusiva a favor do grande Livro. Isto dá a entender que uma raça estranha veio até ao planeta e ajudou os habitantes locais. Veja que a placa está perfeita, deve ser uma liga desconhecida.
Gigan ficou pensativo por alguns instantes, depois comentou:
— Uma coisa é certa Juno, a vida neste mundo recomeçou a doze mil anos, disto não tenho dúvidas. Na realidade ela se extingue periodicamente, deixando alguns sobreviventes que novamente se proliferam e formam nova civilização, são idas e vindas sucessivas. Este achado não tem ligação com os povos de agora, faz parte de uma civilização anterior, que talvez tenha chegado a estágio semelhante ao nosso.
— Tem razão, concordo plenamente. De qualquer forma o prédio foi erguido por nossos ancestrais, prova de que homem é bem velho.
— Não deixa passar nada! Eu sei o que escrevi, vou ter de fazer um novo livro, disse Gigan em tom de brincadeira, não se importando com a afirmativa de Juno. Continuou:
Por falar nisto, possuo muitas anotações, chegou a hora de voltar para meu País.

O trabalho continuou por mais de um ano, até que uma limpeza total removeu a terra e todos os resíduos, inclusive da praça frontal. O grande Colégio apareceu, com algumas colunas caídas, quase sem teto, com sinais de muitas reformas. Nos compartimentos, o que era de madeira e ferro desapareceram, exceto as peças de metais desconhecidos. Atendendo Luca, Juno deixou uma pequena parte do edifício na forma primitiva.
Muitos objetos encontrados foram levados para o Museu Nacional de Cantro, tais como restos metálicos de maquinarias, um crânio de cristal com todos os detalhes internos, uma placa de homenagem para Kiria, enfim, uma grande quantidade de peças conservadas na argila dura. Provas de que num tempo pré-histórico os habitantes de Marino viviam iguais aos da atualidade, embora muitas peças mostrassem fases diversas.
Cerâmica comum, sofisticados ornamentos e presença de aparelhos irreconhecíveis, denotando técnica avançada contrastante.
A missão fora completada, Palo recebeu uma carta chamando-o para a Capital. Juno permaneceu com uma equipe para manter a ordem e receber turistas. Um pequeno prédio foi construído no local, para servir de escritório e guarda de equipamentos.
Seus dias eram monótonos, não condizendo com o que desejava. Várias vezes visitava Polacin, depois que o fluxo de visitantes diminuíra.
O assunto que no início revolucionou os meios científicos e provocou impacto, gradativamente perdeu o sensacionalismo e apenas ficou como parte dos registros históricos.
Na sua residência, em Tinira, a vida no lar não ia bem, por culpa dele mesmo. Irritadiço não dava atenção aos filhos, que amuados viam um pai diferente, até que Luci resolveu intervir.
— Você não pode fazer isto com teus filhos, será que não vê que não têm culpa de seus problemas?
A Jane está tristonha, teve até febre e o pequeno Jesse tem chorado muito. Pare um pouco para pensar neles, para não dizer em mim também.
— É a vida que estou levando, uma rotina. O dia todo parado, meus homens olhando uns para os outros, ociosos.
— Olha Juno, eu que não entendo nada de seu trabalho, vou lhe dizer uma coisa que talvez possa não gostar: você não tem criatividade, conhece a fundo a arqueologia, por que não conta a história de sua descoberta? Faça um livro, um romance, qualquer coisa, aproveite o tempo livre que tem, ao invés de ficar reclamando. Na minha opinião, sabe por que Luca deixa você aqui?
— Nem posso imaginar.
— Mas eu posso, provavelmente ele acha que as escavações não estão completas, devendo existir muita coisa mais na área, perto ou mais longe do Colégio.
Está ganhando bem, estou gostando da cidade. Fiz amizades, acho que é um bom local para criarmos nossos filhos. Se fosse você, pensaria um pouco mais antes de jogar a sorte pela janela.
Enquanto Luci falava, Juno lembrou-se de Gigan, que não perdera um minuto de tempo enquanto estivera lá, anotara tudo e quando saiu levou farto material para editar um livro. Pensou:
— Ela está certa em todos os sentidos, preciso tomar novo rumo. Amanhã mesmo vou voltar a vistoriar a região, na realidade não me pareceu que os caçadores ao falarem em vestígio de construção, queriam dizer especificamente sobre o sítio trabalhado.
Juno concordou e prometeu melhorar. Procurou os filhos para brincar, fazendo com isto retornar a alegria na família.
As palavras da mulher fizeram muito efeito, se tranquilizou, mas ficou ansioso pelo dia seguinte. Quase não dormiu, seus pensamentos não deixavam. Iria compor um livro e continuar as pesquisas, arrependia-se de não ter pensado antes. Não entendia porque precisou alguém lhe falar para que seu cérebro voltasse a agir.
Amanheceu no pátio do colégio, examinando por ali algumas possibilidades para novas pesquisas.
As horas passaram, o dia veio magnífico. Aos poucos o grupamento de vinte homens também chegou. Turibo foi o primeiro, assim, logo que o viu chamou:
— Turibo venha cá!
— Pois não patrão.
— Vou precisar que selecione dez homens que saibam fazer pesquisa em florestas. Tenho a impressão que junto ao colégio não há mais nada.
— Estávamos precisando disto.

Depois de se prepararem, caminharam alguns quilômetros até chegarem às matas. Rastrearam grande área durante todo o dia, sem nada encontrarem.
Desta vez, Juno não se deu por vencido, no dia seguinte e no outro, continuaram a vasculhar a região. O arqueólogo já estava desanimando quando Turibo o chamou:
— Um dos homens viu algo, venha com cuidado, o lugar é perigoso.
Afastando os arbustos e fazendo picadas, chegaram. A quina perfeita de um bloco chamava a atenção.
— Pode ser apenas uma pedra, mas vamos cavar, chame todo pessoal.
A pequena ponta de pedra, foi se estendendo, sempre retilínea, na lateral um paredão foi se formando, até que Juno mandou parar.
— Daqui para a frente, somente com máquinas. Vamos voltar, vou telefonar para Luca.
Logo que chegou fez a ligação para o chefe. Explicou sobre a descoberta, mas não soube dizer do que se tratava, apenas que era muito grande.
 
Tinira dera um salto, de uma típica cidade agrícola, de repente viu erguerem-se dois grandes hotéis para turistas.
Melhorias eram constantes, e a mais nova notícia veio acender ainda mais o entusiasmo dos habitantes.
Tanto no escritório, quanto em casa o telefone não parava. Agências de notícias e curiosos queriam saber detalhes e procuravam contatá-lo. Por fim desabafou com a esposa:
— Foi ontem que começamos a escavar. Estou quase a desligar o telefone.
Falando nisto, tenho de ir ao encontro de Luca, vai chegar hoje.

Foi difícil levar o maquinário à encosta da montanha, árvores centenárias cobriam a grande pedra que aflorava. Uma rápida estrada foi necessária, além da autorização do proprietário da área.
Uma forma cúbica sobre uma base retangular com cerca de vinte metros de altura por cinquenta de extensão, apareceu em meio à densa vegetação. Um paralelepípedo gigante, sem aberturas, transtornava os entendidos. Que fora feito por mãos humanas, não havia dúvida.
Luca e Juno observavam aquele monumento esquisito. A primeira vista, parecia sem sentido. Tanto esforço, para levantarem uma simples pedra?
— É muito estranho. Nossos ancestrais não iriam fazer tudo isto por nada. Não estaremos frente a uma caixa do tempo?
— É isto Juno, você disse certo. Uma caixa do tempo, mas como entrar nela?
— Se for como estou pensando, deveremos encontrar alguma indicação. De qualquer forma devemos tentar uma perfuração. Vou pedir para o guindaste nos levantar, vamos examinar.
Sentaram-se numa espécie de banqueta e a pedido deles foram elevados até o centro da parte frontal. Munidos de hastes parecidas com lanças, passaram a tatear o paredão.
— Veja, aqui parece haver alguns sinais. Apontou Juno, limpando a superfície.
— São caracteres, mas poucas letras podem ser notadas.
— Aqui tem um sulco, vou limpá-lo, afirmou Luca.
Virando a ponta metálica sobre o buraco, conseguiu introduzi-la cerca de cinquenta centímetros. Nisto, logo abaixo, percebeu a existência de outro, depois mais outro. Foram dez os pontos, delineando um quadrado, como se fosse uma porta.
Depois, fizeram uma vistoria completa em volta da pedra, nada mais encontrando.
Colocando garras nos buracos, tentaram aluir, mas nada. Foi então que alguém deu a ideia de colocarem explosivos.
Luca pensou durante algum tempo, depois comentando com Juno:
— Vamos tentar com explosivos?
— Parece a única forma. Tudo é sólido demais, as brocas se quebram. Vamos ver o que acontece.
Turibo foi encarregado de colocar as cargas.
Todos se afastaram, detonadas simultaneamente, ouviu-se uma explosão fortíssima e surda. Os sulcos eram os únicos pontos vulneráveis da “rocha”. Quando pensavam que apenas o centro fosse estraçalhado, ficaram surpresos ao verem que um vão se abrira em volta, liberando um tampão.
Com garras, puxaram a pedra solta, que cedeu e depois de quatro metros despencou, deixando aberto os segredos do interior.
Os cientistas estavam trêmulos de emoção, a suposição tornara-se realidade. Entrariam no mundo da pré-história.
Cinco homens, com vestimentas especiais, liderados por Lucas desceram na rampa formada. Com fortes lâmpadas iluminaram o pequeno corredor. Foi então que depararam com uma vedação metálica que brilhou ao contato da luz.
Naquela estranha porta, caracteres bem cunhados tomavam toda a frente. Tentaram forçá-la, mas foi inútil. Lucas mandou filmar, depois saiu com os demais e liberou o acesso aos jornalistas presentes.
Depois de deixar Turibo incumbido de colocar portões de ferro na entrada, Juno acompanhou o Chefe à Capital.
No Instituto, foram para o laboratório para decifrarem a mensagem, mas nada conseguiram, a não ser perceberem semelhança com os dizeres da placa do colégio, traduzida por Gigan.
Lucas entrou em contato com o famoso cientista, que logo se pôs a caminho. Um dia depois, chegou e o primeiro a encontrar foi o amigo Juno.
— Como vai Gigan! Não voltou mais ao “Colégio”.
— Tudo bem Juno, ainda ando escrevendo muito, mas qualquer dia destes vou até lá. Mas onde está o texto que Lucas me falou?
— Venha, vou lhe mostrar.
Juno o levou a presença de Lucas, que após cumprimentá-lo encaminhou-o para o laboratório, dizendo depois que as imagens aparecerem no vídeo:
— Isto é o que está escrito.
Gigan, fez uma análise, depois sorridente, observou:
— Posso traduzir, diz o seguinte:

Bem-vindos ao passado de Marino. Esta é uma caixa do tempo. Dentro encontrarão objetos de uso cotidiano, mensagens de todos os povos e uma visão total de nossa época. Construímos esta urna com materiais super-resistentes. Há fortes indícios que o planeta sofrerá em breve forte reversão polar. Ano 15.380 — Kivia-Listac.
Para abertura, observar pequeno círculo central, perfurar dez centímetros para liberar válvula. Colocar material explosivo. Alto vácuo interno, manter distância, forte sucção de ar.
  
Cientificados dos procedimentos, voltaram.
Massa colocada e a explosão, depois o forte sibilo que por algum tempo permaneceu.
O grupo passou para seis, Gigan não deixou por menos, fez questão de participar.
A vedação da entrada cedeu com um simples empurrão. A chapa deslizou-se para a direita, dando espetacular visão do compartimento, onde objetos de todos os tipos se dispunham como numa grande loja. De veículos a ferramentas, de canetas a uma grande prateleira lotada de livros. Coisas de uso doméstico a artefatos militares, uma infinidade de objetos de um mundo que se assemelhava ao atual. Corredores e escadas permitiam acesso a todos os setores.
Considerando o achado de interesse nacional, ao sair Lucas observou aos jornalistas e curiosos, que no momento os portões permaneceriam fechados até liberação governamental.
Embora os repórteres os assediassem, o grupo se dirigiu para o escritório do “Colégio”. O Chefe do instituto estava preocupado, com razão, o que observara era muito grandioso e não caberia a ele e nem aos acompanhantes tecerem comentários.
Seu primeiro procedimento foi avisar a Presidência sobre o achado, pedindo o envio de uma guarnição para o local.
Falando com os acompanhantes, pediu sigilo absoluto, até liberação superior.
Depois da agitação, ainda no escritório de Juno, este comentou:
— O que vimos é fantástico, nós que pensávamos estar no auge tecnológico, encontramos coisas além da nossa concepção. Como vamos sair dessa, perante a imprensa?
— Particularmente, gostaria de contar tudo, mas não posso. Provavelmente seria punido, disse Luca.
— E quanto a mim, que sou estrangeiro? Perguntou Gigan.
— Quanto ao Senhor, teremos de confiar em sua palavra, nada mais. Como sabe, tive de informar os nomes de cada um, por outro lado, não houve tempo para qualquer anotação e será isto que os federais procurarão.
Informaram para aguardarmos aqui, um helicóptero trará os agentes de segurança.
Enquanto o grupo passava o tempo trocando ideias sobre o assunto, uma aeronave pousou no que seria o antigo pátio da antiquíssima construção.
Quatro membros do comando, impecavelmente vestidos desceram.
Luca foi recebê-los, cumprimentou-os, um deles se aproximou e disse:
— Sou Sigan, o Senhor é Luca, correto?
— Sim, as suas ordens.
Logo que começaram a falar, um deles com uma câmara, filmava tudo.
— Gostaria de conhecer, Juno, Moden, Tino, Suno e Gigan.
O Agente conversou com cada um, principalmente com Gigan, pedindo a este a devida discrição.
Requisitaram o filme e disseram que comandariam a operação. Quanto a Gigan, por ser estrangeiro, agradeceram a colaboração, mas que dali em diante não poderiam permitir-lhe a entrada na Caixa do Tempo. No entanto não descartaram ajuda e pediram que aguardasse a oportunidade.
Após a orientação, Sigan de posse das chaves de entrada, pediu a Luca acompanhá-los para uma vistoria.
Ao chegarem, soldados já cercavam todo o bloco. Não demorou e atravessaram os portais que mostravam uma era de evolução inacreditável.
O Chefe da Segurança surpreendeu-se ao ver a perfeição de tudo quanto se encontrava ali, tocando em alguns objetos, observou:
Veja Luca, há um tipo de resina cobrindo tudo, provavelmente isto e o alto vácuo mantiveram intactas todas as coisas. A umidade é zero e a temperatura é menor que a externa, prova que todo o cômodo deve estar revestido por uma camada antitérmica.
Tateando, fazendo anotações, filmando, os agentes se espalharam em vários pontos. Fortes luzes anteriormente colocadas, permitiam visualização perfeita. Entremeando os comentários, o responsável pelo trabalho arqueológico perguntou:
— Nós como descobridores, como ficaremos?
— Por que pergunta? Continuarão normalmente o trabalho, só a divulgação ficará sob nossa responsabilidade.
Há dois ângulos nesta descoberta, primeiro o valor histórico, tendo em vista a conotação de fatos que nos ligam a um passado distante. Outro é a possibilidade de copiarmos técnicas e é isto que na realidade interessa aos meios oficiais, pois representará evolução acelerada.
Vocês terão liberdade até para retirarem peças e levarem para museus, desde que passem por nossa aprovação. Só não queremos no momento, dar a público qualquer informação sobre objetos que venham a ser considerados de interesse econômico ou militar. Todo material que assim for julgado, será removido para estudo. Um grupo de técnicos fará o levantamento. Terminado este trabalho e procedidas as transferências, o restante ficará para estudo. Isto não vai demorar, tenho certeza, não afetará a pesquisa que fazem.
— Obrigado Sigan, pela explicação. Quer dizer que após tomarem suas providências, ficaremos liberados totalmente. Neste caso, poderíamos manter Gigan? Ele é importante, conhece com profundidade as línguas extintas.
— Perfeitamente, não vejo impedimentos, se também acharem conveniente.
Já era noite quando Luca retornou ao escritório, encontrando ainda seu grupo, inclusive o estrangeiro.
— Foi bom vocês ficarem, sei que devem estar com fome, mas preciso lhes dizer o que aconteceu.
Fez então um relato completo e pediu a Gigan aguardar alguns dias, até a normalização.

Para os cientistas o importante era estabelecer um elo com o mundo atual. Juno e Gigan foram os mais atuantes. A retirada de parte das peças em nada alterara o trabalho arqueológico.
O que sobrou para os arqueólogos era suficiente.
O trabalho de pesquisa continuou. Tudo se encaixava, livros e um sistema de processamento em perfeitas condições, mostravam a face antiga do homem, tão moderno como os que procuravam desvendar os mistérios.
O Grande Livro que até então era a base de apoio científico, aos poucos ia ruindo diante da realidade.
Fruto de ideias distorcidas, cheios de claros, misturava o passado remoto com fatos mais recentes.
Quinze mil anos onde duas nações não precisaram esperar a evolução natural. Foram auxiliadas por uma raça que viera de um planeta chamado Terra, se partiram em muitos países. Conseguiram um estágio fantástico e chegaram a enviar naves para outras estrelas.

Tudo registrado, até a previsão de uma grande catástrofe, principal razão de construírem a Caixa do Tempo.
Juno e Gigan se associaram na preparação do maior estudo já realizado, não menos do que dez volumes de quinhentas páginas cada, assim mesmo, sintetizando acontecimentos.
Na última folha deixaram a seguinte mensagem:

No Universo não há dimensão de tempo, não há passado nem futuro, nem começo, nem fim. O homem ou ser inteligente é transitório, aparece em um planeta e desaparece em outro.
É um mutante e outras vezes não. É criatura perfeita. Raciocina por si. Morre milhões de vezes e renasce sempre mais inteligente, até atingir o auge dos conhecimentos. Muitas vezes busca no infinito, entre bilhões de estrelas outro mundo ideal.
Em seu caminhar encontra trajetórias definidas, caminhos preparados pelo ARQUITETO UNIVERSAL.

Fim

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