domingo, 5 de outubro de 2014

OS REIS VIAJAM PARA A CIDADE ESPACIAL



OS PRÍNCIPES E OS PROBLEMAS AMOROSOS

— Governar bem é sentir no povo a aceitação dos atos do poder. É cuidar dos problemas sociais, é manter a cultura em alto nível, é conseguir dar felicidade à Nação. É ser tolerante até certo limite, é ter a justiça em primeiro lugar.
Regis falou durante as duas horas do primeiro dia de aula, sempre mostrando o caminho.
A medida que o tempo passava, cada vez mais, aprofundava nos inúmeros problemas de comandar.
Depois de cinco meses, após analisar criteriosamente o comportamento deles, pediu a presença de Sato e Tropo.
Já estavam até habituados às viagens espaciais, por várias vezes haviam voltado à Roda.
Dessa vez, na reunião, Regis solicitara apenas a presença de Marcos, do Padre Santos e de Jansen, explicando aos demais que a não convocação geral era para evitar volume de pessoas, visto que o assunto prioritário seria de cunho pessoal.

— Pedi a presença de Vossas Majestades, para esclarecermos pontos importantes para o futuro de suas Nações e dos habitantes desta cidade. Depois, tenho que conversar sobre seus filhos.
Apesar de havermos comentado anteriormente, falta uma pergunta que devo fazer. Aceitam os terrestres como parte de seus Reinos, respeitando suas leis?
— Por mim, não tenho a mínima objeção, respondeu Sato.
— Por mim também, completou Tropo.
— Isto era muito importante, precisava de uma definição. Elaboramos um documento para oficializarmos nosso acordo.
Cerca de mil terrestres já vivem normalmente na superfície, muitos se casaram lá e estão se misturando, poucos voltaram. Setenta por cento dos instrutores ficaram nas Vilas, desenvolvendo outras atividades.
Quero que fique bem claro, viajamos muito a procura de um lugar para vivermos e encontramos este planeta. Colocamos aqui dentro um pedaço do nosso, que não existe mais.
— Está sendo franco conosco, vou ser também, minha preocupação é com as armas que possuem, terrivelmente destruidoras, se quisessem poderiam nos exterminar, atalhou Tropo.
— Mas não fizemos nada disto.
Elas vieram com o desenvolvimento, coisa que infelizmente um dia irão fazer. Primeiro descobrem-se os materiais de fácil combustão, depois são associados e acabam compondo explosivos. Podem ser utilizados para fins os mais diversos, inclusive para matar.
Para exemplo, é provável que tenhamos de utilizá-las para limpeza dos locais para transferências das aldeias, depois voltarão para esta nave e um dia desaparecerão com ela.
Mas falando dos terrestres, quando os últimos descerem, ninguém mais poderá voltar.
— Por que não voltar?, perguntou intrigado Sato.
— Porque nosso combustível é limitado, talvez só daqui a mil anos seria possível a montagem de equipamentos para produzi-lo. Quero dizer que o material que se queima em cada viagem à superfície diminui nosso estoque. Vamos gastar muito para ajudá-los nos assentamentos, depois só teremos o suficiente para levarmos o restante das pessoas que vivem aqui, ou melhor, que quiserem descer.
— Quer dizer que tudo que está aqui dentro ficará perdido, continuou o Nogolano.
— Bem, vamos transferir para vocês o que pudermos, tudo que possa funcionar lá.
— Nos ajudaram a eliminar bandos de malfeitores, fornecendo armas para alguns Guardiães, comentou Sato, evidentemente interessado nelas.
— Foram casos isolados, de muita necessidade. Inocentes estavam sendo massacrados por eles. Há muito perigo no uso delas e não as entregamos nem ao pessoal daqui que foram para lá, raríssimas foram as exceções.
Voltando ao assunto, nossa finalidade é pacífica, simplesmente terão um aumento populacional de quase duas mil almas em cada País. Não pretendemos ocupar nenhum território, apenas queremos que nos considerem iguais e que aceitem nossa ajuda.
Depois daquelas palavras, ambos os Reis se descontraíram totalmente. Também, por que não aceitá-los? Só o progresso que estavam levando compensava tudo. Nunca iriam conseguir pagar tantos benefícios.
Ainda dialogaram por algum tempo. Depois, Regis leu o documento, ele e todos os presentes assinaram. Em seguida solicitou ficar a sós com Tropo e Sato. Os amigos saíram e uma outra conversa se iniciou:
— Quando seus filhos vieram para cá, solicitaram que fossem treinados para Reinar.
— Foi isto mesmo, respondeu Tropo, acompanhado do aceno afirmativo de Sato.
— Pois bem, isto está sendo feito. De antemão quero dizer-lhes que são inteligentíssimos, vejam, não estou falando para agradá-los. Qualquer um deles poderá assumir o governo. Porém, sempre existe os mais propensos a chefiar, assim, dentro de nossos conceitos e experiências, os que se enquadram plenamente são Jasp e Suni.
— Mas ela é mulher, interrompeu Sato.
— Mas tem uma cabeça perfeita para ser uma excelente Rainha. Tem total aptidão para reinar. Kalil, se assumir, será perfeito porque não deixará ninguém perceber que não é sua vocação. A tendência dele é arquitetura, seus cadernos estão cheios de desenhos e projetos.
Sato ficou pensativo, via no filho sua imagem.
— E Kiria? Perguntou Tropo por sua vez.
— Ela é meiga, ativa, nada lhe falta em termos de conhecimento, mas poderia apenas substituir o irmão. A vocação de Jasp é reinar, tanto quanto a de Suni. Estou preparando todos, sou o professor. Diariamente os venho instruindo em tudo que está a meu alcance.
Conversaram muito tempo ainda, depois foram encontrar com os filhos, passariam dois dias na Astronave.

Tropo sentia-se satisfeito, afinal era um homem que ia substituí-lo, pensava, um verdadeiro Rei.
— Que bom papai, você estar aqui. Que surpresa!, disse Kiria ao vê-lo, abraçando-o.
— Tudo bem com o Senhor?, foi a vez de Jasp num cumprimento mais distanciado.
Nisto, passou Kalil por perto; não deixou de aproximar-se de Kiria, colocando a mão sobre o ombro da moça, diante do olhar severo do Rei.
— Como vai Senhor Tropo?
Bem, respondeu um tanto seco.
— Kiria, depois a gente se encontra, vou falar com meu pai, está me esperando.
O Rei não gostou da intimidade do moço, era filho de seu amigo, mas era o outro Rei. Aquilo não estava em seus planos. Amargou um pouco e acabou não aguentando.
— O que significa isto minha filha?
— Isto o que, papai?
— Bem, o moço colocando a mão em seu ombro.
— Ah! Kalil! É meu namorado.
— Já imaginava isto. Justamente o filho de meu inimigo.
— Que inimigo? Deixe disto. Eu o amo e ele a mim e nada vai nos impedir.
Ia começar uma pequena discussão, quando Jasp interrompeu:
— Vamos deixar isto para depois, me pareceu tão feliz quando chegou. A conversa com Regis foi boa?
— Foi ótima meu filho. Sei que meu povo vai ficar em boas mãos.
Tropo começou a detalhar aspectos importantes sobre a vida de Rei e esqueceu o incidente.

Um pouco distante dali, Suni e Kalil abraçaram o pai que por sua vez desmanchava de felicidade por estar com eles. Era o tipo coruja, sofria com a ausência deles muito mais que Tat. Mas após o entusiasmo inicial, resolveu experimentar o filho:
— Você quer ser Rei Kalil?
— Bem papai, se o Senhor quiser que eu seja, eu serei.
— Não meu filho, gostaria de outra resposta.
— Não posso ser desonesto. Mentiria se afirmasse. Se assumir, pode crer, serei um bom Rei, mas sacrificaria minhas aptidões.
— Prefiro a honestidade, não tolherei seu caminho. E você minha filha, acha que pode governar uma Nação, enfrentar o preconceito que vai ser grande e dedicar sua vida ao povo?
— Sim papai. Aprendi a ver que as mulheres são iguais aos homens, que a única diferença é o sexo. Sei que posso comandar, não tenho medo.
— Sua mãe me disse que tem um namorado aqui, que pretendem se casar. Sabe, não me oponho em nada que seja para sua felicidade.
— Respeito o direito de Kalil, nem por um segundo pensava tomar seu lugar. Por outro lado, o objetivo dele é outro. Assim, sinto-me a vontade para dizer-lhe que se me aceitar, nada vai me impedir de ser Rainha, nem o Thomás.
De uma coisa pode ficar certo, gosto muito dele, mas se tivesse de escolher, o deixaria. Se vier a assumir o Reino, a única coisa que não vou querer é que me digam o que fazer. Poderei aceitar opiniões e até acatá-las mas imposições nunca, nem do senhor.
— Bem, minha filha, você manda! Exclamou o Rei, sorrindo por ver a firmeza dela.
— E você meu rapaz? Tem alguma garota daqui em vista?
O moço se desconcertou um pouco, titubeou e a acabou dizendo:
— Tenho, mas não é daqui é de lá mesmo. É Kiria a filha de Tropo.
O peludo homem quase caiu com a revelação.
— Mas ela! Não havia outras moças para namorar?
Tinha de ser a filha de Tropo?
O pai sabe?
— Se não sabia deve ter percebido. Agora pouco estive com ela e ainda o cumprimentei.

Sato não queria aquela união, mas era um sentimental e não disse mais nada ao filho. Compreendia as coisas do coração e resolveu deixar correr o tempo. No íntimo sabia que Tropo não aprovaria o casamento.
Durante o almoço oferecido às duas famílias, para angústia de Tropo, Kalil sentara-se próximo a Kiria. Sato observava o amigo, percebendo a não aprovação, pelos gestos bruscos e aparência irritada.
O Rei nogolano não deu importância a Tropo, afinal o compreendia. Realmente era difícil aceitar aquela situação.
Logo após a refeição os filhos foram para as aulas e os dois ficaram a sós.
O sumano estava quieto, mas Sato o tirou de seus pensamentos, propositadamente lhe perguntou:
— O que você acha dos habitantes daqui irem para lá?
Esquecendo um pouco a filha, resolveu responder:
— Acredito que muitos deles não vão deixar este lugar. Pelo que entendi, na posição que colocaram esta cidade no espaço, ela poderá permanecer por tempo indeterminado, tanto que nossos netos ficariam velhos e ela ainda existiria.
— Nestes últimos anos, aprendi muito sobre eles, me aprofundei na história da Terra, nos mínimos detalhes, tal como você.
Estão economizando combustível para nos auxiliar nas inundações. É um preparado químico muito complexo que não poderá ser reposto, como o próprio Regis nos disse. Portanto, futuramente não poderão mais descerem.
— Entre nós, temos de aproveitar o momento. Seria oportuno escolhermos áreas para implantarmos escolas iguais a que existe nesta nave.
— É verdade, já sabemos onde estão as regiões livres, temos de encontrar lugares favoráveis para a construção de grandes pavilhões.
O que você acha de pedirmos ajuda a Regis? Tenho certeza de que nosso interesse é o dele. Possuem muitos tipos de máquinas, poderão auxiliar no levantamento dos prédios.
— Outra coisa Sato, podemos levar professores daqui. Para isto, construiremos casas próximas às escolas. Vamos expor a ideia a Regis.
Tropo se entusiasmara, até esquecera o namorado da filha, aquilo que argumentaram era importante demais.
Poderia mudar suas Nações. Não esperaram, foram até o prédio onde haviam estado. Encontraram Sancho, que se prestou a chamar o Chefe da Central.
Regis admirou a volta deles, mas alegremente os encaminhou para seu escritório.
Ambos explicaram detalhadamente o plano e pediram apoio.
— Já definiram os locais?
— Não, mas lhe informaremos logo. Poderíamos até analisarmos agora, mas temos medo de precipitação.
— Bem, logo que se definam, mande evacuar as áreas, por ora, uma em cada País. Ninguém deverá ficar nas proximidades, os moradores das vilas próximas deverão ser avisados. Ouvirão grandes barulhos, como trovoadas. Não haverá nenhum perigo se não estiverem nos locais. Depois seguirão máquinas para nivelar a terra. Precisamos fazer isto para rapidez e também devido às densas matas. Vamos necessitar de muitos trabalhadores das aldeias.
Para nós servirá de experiência para quando tivermos de mudar as Vilas.

Depois que os Reis saíram, Regis mandou chamar o Tenente que não se fez por esperar.
— Fusco, prepare-se para ação de combate.
— Ação de combate?
— Sim, vamos ter de limpar duas áreas para implantarmos duas grandes escolas em plena selva. Como poderemos fazer isto?
— Não será difícil, apenas com um avião equipado com mísseis as clareiras poderão ser abertas, depois com um transportador poderemos deixar máquinas de terraplanagem, homens e material. Minha parte poderá ser executada em dois dias.
— Bem, ótimo! Mas agora me veio uma preocupação. Temos sempre falado no combustível, mas me esqueci de perguntar sobre as bombas para abertura das clareiras, serão suficientes para quando tivermos de transferir as muitas centenas de vilas?
— Já efetuei um levantamento, parece que nossa raça só pensava na destruição. Temos um compartimento na base superlotado dos mísseis que precisamos, mais que suficiente para toda operação. Garanto-lhe que ainda sobrará uma boa quantidade. Só para completar, o que vamos utilizar estão enquadrados no que chamavam armas convencionais, existem outros tipos, de efeitos catastróficos, um grande arsenal.
— Vá deixando tudo preparado. Brevemente vou avisá-lo para agir. Agora, por favor, passe na escola e peça a Corin para dispensar Kalil das aulas e que venha até aqui agora.
Fusco saiu e fez o comunicado. Não demorou o rapaz se apresentou a Regis.
— O Senhor me mandou chamar?
— Sim, sei que gosta de arquitetura. Quero que me faça a planta para duas grandes escolas, para um suporte de mil alunos cada.
Os olhos do rapaz brilharam.
— Preciso dos dados do terreno.
— Se lhe disser, que será plano e muito firme?
Também vou querer a esquematização de cem casas ou mais para abrigarem professores e moradores normais, dentro de um estilo que possa ser realizado em sua Nação.
Sei que uma semana não seria suficiente para a planificação. De quanto tempo necessitará para executar as plantas das duas escolas e das vilas satélites?
— Sr. Regis, só uma pergunta: Haverá energia elétrica?
— Sim, vamos colocar geradores a óleo. Foi bom me perguntar. O material que vocês usam para alimentar archotes do que é feito?
— De uma resina vegetal muito abundante. É muito inflamável.
— Peça a seu pai para nos enviar alguns litros dela, vamos testar, se der certo poderá haver energia por muito tempo.
— Voltando ao assunto, você se acha capaz de me fornecer a esquematização completa, com sistemas sanitários, de esgoto e iluminação?
— Já estudei muito sobre tudo isto, espero poder fazer em dois meses o trabalho, desde que me libere para uso dos computadores.
— Você terá carta branca, mãos a obra. Vou falar com Corin, ficará dispensado das aulas nesse período. Pode pegar todo material que quiser na Distribuição, leve este cartão, lhe dará acesso.
Kalil saiu empolgado do escritório. No caminho encontrou o pai e Tropo, a conversarem.
— Olha meu pai!, mostrando o cartão. Regis me deu a tarefa de desenhar as escolas que vão ser construídas. Deverei também planificar duas Vilas, uma para cada prédio de ensino. Tenho dois meses para isto. Dizendo isto, continuou o caminho.
Sato, virando-se para o amigo, antes que dissesse qualquer coisa:
— Nosso plano começa a dar certo, espero que meu filho saiba fazer o que lhe pediram.
Tropo nada respondeu. Apenas continuou no assunto que estavam conversando. Mas pensou:
— Se der certo, até que não seria um mal negócio vir a ser meu genro.
O dia para eles havia sido muito agitado, assim, resolveram descansar em seus apartamentos.
Quando Sato chegou, encontrou o filho com um grande pacote.
— Disse que vai desenhar as escolas?
— Isto mesmo meu pai, já peguei tudo que é necessário. Terei de trabalhar muito. Mas antes que me esqueça, Regis solicitou que quando chegar lá, a nave vai esperar um pouco para que possa conseguir alguns litros de óleo que se usa em archote.
— Mas para que será isto?
— Vão testá-lo num gerador de energia elétrica.
— O que é isto?
— É uma máquina para produzir luz, como a que temos aqui.
— Então a escola poderá ser iluminada?
— Claro meu pai.

Kiria estava evitando o pai, mas tinha de ir vê-lo, no dia seguinte voltaria cedo para Vale Verde. Conversou com Jasp e ambos foram para o apartamento dele.
Quando chegaram, encontraram-no alegre e descontraído. A ruga da testa havia desaparecido. Falando normalmente com os filhos, de repente lembrou-se de Kalil e disse para a moça:
— Pela terceira vez hoje vi seu namorado.
Imediatamente ela ficou séria, sabia que viriam advertências, se estacou e perguntou:
— Por que está me dizendo papai?
— Não é preciso se armar, pensei um pouco, ele me parece inteligente.
Mais que depressa a moça, sorrindo, tornou a perguntar:
— O Senhor acha? Que bom!, e abraçou Tropo.
— Tem uma condição.
— Qual papai?
— Só vou aceitá-lo se cumprir o que prometeu a Regis.
— O que foi que prometeu?
— Pergunte a ele, respondeu o pai também sorrindo.
Jasp partilhava da alegria da irmã, fazendo para ela o sinal de positivo.
No dia seguinte, enquanto caminhavam para o elevador que os levaria a base, Tropo, para ver a reação de Sato, comentou:
— Nosso filhos formam um belo par.
Aquele posicionamento surpreendeu o nogolano, que não chegara a se opor ao filho, sorrindo completou:
— Faremos uma bela festa.
Falando no meu filho, através dele, Regis me pediu para providenciar óleo de archotes e colocar na nave antes de voltar. Vale Verde é mais perto, preciso que me ajude a consegui-lo.

Uma semana após, Jansen recebia pelo comunicador as indicações dos locais. Mapeou e fotografou as duas regiões, passando o resultado para Regis. Este chamou Fusco, juntos assinalaram os setores de desmatamento.
Jansen voltou a se comunicar com os Reis para saber se as áreas indicadas estavam livres. Alguns dias depois deram a confirmação. Conforme fora previsto, um avião militar destruiu a formação vegetal, em seguida as enormes máquinas de terraplanagem entraram em ação.
Kalil passava dias e noites trabalhando nos projetos, havia recebido fotos da área e pelo processamento planara as mesmas. Com elas podia conseguir uma visão quase real de como ficariam as Vilas.
Depois que Kiria lhe contara que o pai o aceitara, trabalhava com muito maior zelo. Dedicava-se ao desenho como se aquilo fosse um filho. Emagrecera, os olhos se salientavam sob o fundo roxeado.
— Se não para um pouco, eu deixo você! Esbravejou a moça, vendo a situação do namorado.
— Não se preocupe meu bem. Já estou no final, mais três dias e entrego o material para Regis. Venha vê-lo.
Kiria se aproximou, olhou as várias folhas e comentou:
— Está muito bonito, mas não entendo nada.
— Então olhe no vídeo.
— Nossa! Fez tudo isto? Que maravilha!
A grande escola, as ruas, jardins, as casas. Você não esqueceu de nada, parece até parte desta cidade.
— Faltam alguns retoques, depois vou descansar.
— Trouxe alimento, pelo menos coma. Não quero vê-lo doente.

Regis estava entretido com vários papéis em sua mesa, quando o moço, pedindo licença, se apresentou com a pasta.
— Sr. Regis, o que me pediu está pronto. Aqui está todo o planejamento e os “chips” do processador.
O comandante da Central recebeu a documentação e olhou superficialmente, comentando:
— Fez tudo isto? Está de parabéns Kalil, o que está me apresentando parece uma obra de arte. Vou analisar e depois entregar para execução. Está muito pálido, vá ao centro médico e descanse por uma semana.
— Se me permite, é o que vou fazer, realmente estou me sentindo muito cansado. Até mais Sr. Regis.
Kiria o esperava do lado de fora, tão logo saiu o levou para tratamento.
O médico que o atendeu, forneceu vitaminas e lhe aplicou injeções para fortalecê-lo, recomendando a moça que o fizesse ficar de cama uma semana.

Thomás, jovem de porte atlético, alto, cabelos pretos e curtos, se apaixonara por Suni.
Laura, sua mãe vivia procurando desviá-lo da nogolana, chegando ao ponto de convidar moças conhecidas para tentar conquistá-lo. Dizia:
— Isto não vai dar certo meu filho, ela é de raça diferente.
— Mãe, ela é igual a nós, os pelos foram devido a glaciação do planeta. Por outro lado, isto não vem ao caso e é bom saber que não vivo sem a Suni.
Marcos, seu pai, era um homem quase inativo, desde que o navio ficara estacionado. Ultimamente se limitava a olhar os mostradores e verificar os equipamentos, numa rotina diária.
Na verdade, não quisera se envolver no processo de transferência dos terrestres para Marino. Há tempos, quando o navio ainda percorria o espaço, sua atividade era total. Mas não se martirizava por isto, vivia alegre e despreocupado, de qualquer forma cumpria a sua missão.
A esposa, querendo o apoio dele, disse:
— Marcos, você precisa tomar uma atitude com seu filho. Ele está namorando aquela peluda. Já pensou como vão sair nosso netos?
— Iguais a bonitos cachorrinhos. Vou ficar contente em pegá-los.
— Não brinque, a situação é séria.
— E daí? Ele gosta da moça. É filha de Rei, portanto é uma princesa, o que você quer mais?
— Não concordo, é de outra raça.
— Você Laura, parece não raciocinar. Nós vamos nos misturar com eles, quer você queira ou não.
Isto até é sorte para nosso filho. É garantia de total sobrevivência. Estive conversando com Regis, ele me disse que essa moça que você está desprezando vai ser Rainha, quando voltar governará a Nação. O irmão não quer, tem outras aspirações.
— Verdade Marcos?
— Verdaaade Laura! Ainda vai importunar nosso filho?
— Não Marcos. Não sabia!
— Ele ainda está em casa, vá falar com ele.
Depois da revelação do marido, interessada e arrependida, foi falar com Thomás, que estava em seu quarto e não ouvira aquele diálogo.
— Meu filho, preciso falar com você.
— De novo não mãe.
— Olha, não vou me importar mais com seu namoro com Suni. É o nome dela?
— Por que esta mudança? Perguntou desconfiado o rapaz.
— Bem, pensei melhor. Seu pai me explicou que vamos ter de mesclar a raça, que isto será uma consequência normal no correr dos tempos.
Qualquer hora, traga-a aqui, quero conhecê-la.
— Qualquer dia destes, falo com ela.
Por si mesmo, o rapaz estava balançando em seu namoro, surgira um problema, ela seria a Rainha dos Nogos. Muito franca já havia lhe dito que nada a impediria de assumir o poder.
Suni amava o jovem, mas não se sentia repartida quando se tratava de subir ao trono. Pensava:
— Se casar comigo e me seguir, hei de encontrar uma forma de deixá-lo encarregado de alguma função importante, que o faça me ajudar. Evitarei que fique frustrado.
Nas aulas de Regis, era a mais interessada, anotava tudo. Dizia sempre que não cometeria erros em sua administração.

Passado algum tempo, o moço a convidou para ir conhecer sua família. Ficou contente, se aprontou e foi otimamente recebida, principalmente pela mãe.
Quando saíram e ele foi levá-la para o alojamento, no caminho Suni perguntou:
— Certa vez me disse que sua mãe não aprovava nosso namoro.
— Sou filho único, acredito que naquela época ela estava com ciúmes.
— Ela sabe que se casarmos, você terá de ir comigo para Catun?
— Sabe, apenas espera que sejamos felizes.
— Então, por que esta cara emburrada? Nem me abraçou hoje!
— Quer que eu fale a verdade?
— Claro Thomás.
— Queria você só para mim. Não consigo imaginá-la Rainha, dando ordens. Veja bem, estou me abrindo como me pediu. Apenas que este fato está mexendo com minha cabeça. Sei que sou capaz de enfrentar qualquer situação, não pensaria duas vezes se tivesse que dar minha vida para salvá-la. Mas isto é mais forte do que possa imaginar. Nem durmo direito.
— Eu o compreendo, não posso recriminá-lo ou forçá-lo, só lhe digo que o amo muito, mas que minha obrigação para com meu povo está acima de tudo. Meu irmão não deve assumir, passaria a vida dele como meu pai.
— Não entendi Suni. Como seu pai?
— A vocação dele nunca fora governar, o faz até com perfeição máxima, apenas para cumprir seu papel. É um fanático da cartografia. Primeiro, não quero que isto se repita, segundo desejo ser Rainha, não para me exibir, mas porque é minha aptidão.
Falando nisto, qual é sua vocação? Até hoje não me disse.
— Agora me deixou envergonhado. Tenho procurado algo para fazer, já tentei várias coisas, tudo parece fora de meu interesse.
— Procure algo que mexa totalmente com seu cérebro, que sinta vontade de fazer, de construir. Logo que descobrir, me entenderá melhor. Por exemplo, você não estranha meu irmão ter deixado o trono para mim? Sabe para que?
— Não.
— Para ser um arquiteto. Passou dois meses, quase sem comer, trabalhando dias e noites, para esquematizar duas grandes escolas e duas vilas que vão ser construídas em Marino. E o projeto dele foi totalmente aprovado, sem nenhum corte.
Como todo pessoal daqui, deve ter conhecido o Joseli, foi para a superfície para distribuir galinhas. Acabou sendo grande comerciante delas em Vale Verde, nunca mais voltou. Perguntaram a ele se queria mudar de ramo, disse que aquilo era sua vocação e que não trocaria por qualquer outra coisa.
Com isto, quero dizer que cedo ou tarde cada um acaba descobrindo seu caminho.
— Você tem razão, acredite, vou descobrir algo, tem muita coisa para ser feito na superfície.
Abraçou e beijou Suni, depois voltou para casa bastante atordoado pelas ideias que lhe passavam.
Encontrou seu pai acordado. Precisava de alguém para falar, que pudesse ajudá-lo.
— Papai, podemos conversar um pouco?
— Fale filho.
— Minha mãe já foi dormir.
— Já.
— Estou com um problema e preciso de sua ajuda. Vou confiar em você, é muito íntimo o que vou dizer.
Estou apaixonado por Suni, ela vai ser Rainha dos Nogos, não consigo aceitar a situação de viver com uma mulher poderosa. Ela diz que é por vocação e necessidade que assumirá a posição.
Fui franco, disse o que pensava. Ela me deu a entender que se tivesse algo em mente, um objetivo de vida eu a entenderia. Me perguntou sobre minha vocação, não soube responder. Me deu exemplos, mas por mais que reflita nada me surge. É esta a minha situação.
— Você está errado em misturar o amor com o trabalho que ela irá fazer, isto terá de respeitar. Ela está certa em tudo que lhe falou.
Quanto a vocação, vou falar com Corin, tenho certeza que ele resolverá seu problema. Durma, não pense mais nisto, amanhã tudo se arranjará.
— Obrigado pai, já me ajudou muito.

Marcos era amigo particular do Padre Santos, antes de procurar Corin foi contatá-lo.
Único representante religioso da Astronave, somava para si os problemas individuais dos que se sentiam frustrados, infelizes. Estimado e respeitado, sempre ouvia atento as situações e procurava orientar.
O comandante contou-lhe o problema do filho, achando até uma atitude normal da idade, mas o sacerdote não concordou.
Conhecia o rapaz, fora um dos professores dele, sabia que possuía uma inteligência vibrante.
— Peça a ele para vir falar comigo, por enquanto esqueça Corin.
Marcos saiu, o religioso ficou pensativo. Seus olhos serenos, sob a face muito vivida, onde as rugas lhe assentavam com suavidade, pareciam ver muito além. Seus cabelos brancos cobriam um cérebro privilegiado, onde segredos do Universo se escondiam.
O tempo passava, ele se mantinha atrás de sua mesa, sabia que o moço viria. Cerca de uma hora ficou ali, quando o rapaz entrou.
— Sente-se Thomás, temos que conversar.
— Meu pai me falou ...
— Sim, pedi para vir falar comigo. É muito importante o que tenho para lhe dizer.
Embora lhe possa parecer até simples, cada palavra nossa não poderá ser ventilada nunca, porque prejudicaria todo o futuro. Preciso que me prometa silêncio pelo resto da vida.
— Prometo Padre Santos. Mas por que tanto segredo?
— Porque você foi escolhido pelo Criador para uma grande missão. Será o peso de equilíbrio na balança dos destinos de uma Nação. Precisa encarar este fato com muita seriedade.
— Não entendi. Afinal do que está falando?
— De seu casamento com Suni. Ela governará seu país, com você ou sem. Duas mulheres diferentes, com seu apoio fará um magnífico reinado, poderá até não dizer mas contará com você em todos os momentos. Sem, ela tornar-se-á amarga, tirana e poderá levar a discórdia ao novo mundo.
— Tenho absoluta certeza do que lhe disse, como tenho de morrer um dia.
— Meu pai lhe falou sobre isto?
— Não Thomás, seu pai está apenas preocupado com sua vocação. O que lhe falei, eu sei, não me pergunte como.
— Por que você acha que viemos parar aqui? Não era nem para existirmos mais.
— Você sabia que os habitantes de Marino, já nos esperavam?
Que isto está registrado em livros religiosos deles?
Preciso lhe dizer mais?
Se quiser posso mostrar-lhe muito mais, é o que pretendo fazer, mas não hoje.
Mude seu comportamento com a moça, incentive-a. Diga que estará a seu lado, que a ajudará em tudo que ela quiser.
Veja bem, em tudo que ela quiser, não no que você quiser.
É importantíssimo que seja Rainha e que não encontre interferências nas decisões.
Seu destino está nas mãos de Deus. Portanto mude sua atitude, cada gesto contrário seu a estará levando para o outro lado, portanto inverta a situação.
Não irá demorar para pedir a Regis sua presença nas aulas. Sabe para que?
— Para me inteirar dos problemas e ajudá-la no futuro.
— Corretamente, espere e verá.
Se tudo correr como penso, uma das grandes dificuldades no comando da Nação será a economia. O desenvolvimento repentino fará nascer nova mentalidade, o que provocará grande dependência de dinheiro. Este deverá estar muito bem distribuído, porque se não ocorrer, haverá focos de riqueza ao lado de muita miséria.
Apesar da precária existência de hoje, a população sobrevive razoavelmente. Com aumento de bens de consumo, as pessoas vão querer ter coisas. Acabarão gastando o que não possuem, consequentemente lhes faltarão para o alimento, para roupas e para cuidados com a saúde. Poderão haver descontentamentos e revoltas e até o trono poderá ficar em perigo.
Thomás, você alicerçará isto, evitando as más consequências. Compreende o que estou lhe dizendo?
— Sim, Padre Santos, nunca havia pensado nesses problemas.
— Pois então pense, tudo vai mudar lá em baixo. O grupo de Marinenses quando sair daqui, irão com mil ideias e vão influenciar os de lá. Aliado a isto, este navio vai esvaziar, a febre pelo ouro ataca todo e qualquer ser humano. Garanto-lhe que apenas alguns velhos vão querer ficar aqui.
Por outro lado, a vida num planeta, representa um enraizamento sem limites de tempo, o que atende às diretrizes do Criador. Por isto viemos parar neste canto da Galáxia.
A justiça é a base de uma sociedade perfeita, você também poderá ajudar a criá-la.
— Padre, acho que já sei o que fazer.
Encontrei o que estava procurando.
— Vá em frente, guarde o que lhe disse.

 Thomás, depois da orientação recebida, voltou feliz para casa, era outro, completamente mudado. Sua cabeça fervilhava, mas de ansiedade para “partilhar” do reinado de Suni. Encontrou seu pai, que logo lhe perguntou:
— Como foi a conversa com o Padre Santos?
— Ótima, foi a melhor coisa que me aconteceu até hoje.
— Me conte, gostaria de saber.
— Desculpe pai, o Padre me pediu segredo, o que sei vou levar para o túmulo. Só lhe digo que tudo vai mudar em minha vida, para melhor.
— Ainda vai querer falar com Corin?
— Não será mais preciso. Pode ficar tranquilo, está tudo certo mesmo. Por enquanto vou estudar mais um pouco.
Nisto Laura entrou, carregando alguns pacotes.
— O que vamos ter para o almoço, mãe?
Fazia tempo que o filho não dizia aquelas habituais palavras, ultimamente pouco ligava para os alimentos, estava sempre apático. Ela sorriu e ficou alegre, logo disse:
— O que você quer comer? Já sei, vou fazer seu prato predileto.
O ambiente naquela casa mudara, a felicidade voltara e os três tiveram uma bela refeição.

Naquela tarde, Suni estava triste, pouco dormira, não conseguira nem prestar a atenção nas aulas do dia. Entendia Thomás e pensava:
— Por que tudo é tão difícil? Não quero perdê-lo. Afinal sou mulher, porque tenho de insistir na ideia de ser Rainha?
Sentada no banco da pequena praça, alheia aos transeuntes, perdida em seus pensamentos, não viu quando o namorado chegou. Assustou-se quando este lhe abraçou por trás e lhe deu um beijo no rosto.
— Quem é? É você?
— Tem outro namorado por acaso?
— Só você meu bem. É o único e já me deixa doente, se tivesse mais morreria.
— Você estava tão distante, não viu quando cheguei.
— Estou muito preocupada, sei que não aceita que seja Rainha, por outro lado o amo muito. Estou sofrendo com isto.
— Então pare de sofrer. Também passei a noite pensando, refleti muito, meu sentimento por você está acima de tudo.
— Quer dizer, você irá comigo? Disse Suni, com os olhos a brilhar de felicidade.
— Sim, minha princesa, e serei seu humilde servo, falou em tom brincalhão.
— Você me deixa muito feliz, disse a moça chorando e abraçando o rapaz, ao mesmo tempo interpelando:
Mas, por que mudou tanto? O que lhe fez me aceitar como Rainha?
— Meu coração. Não poderia viver sem você, então pensei nos seus motivos e não nos meus e resolvi inverter, quem sabe poderei ajudá-la na sua grande missão.
— E quanto! Já o está fazendo. Agora posso continuar a aprender. Sabe que por sua causa, nem sei o que Regis falou na aula de hoje.
— Garanto-lhe que isto não vai acontecer mais.
— Também estava preocupado com a vocação.
— Vou me dedicar no momento aos estudos, vou aperfeiçoar meus conhecimentos de ciências econômicas.
A noite veio e os dois ficaram por muito tempo juntos, saboreando aqueles momentos, descontraídos, por fim se entendiam.

— — —

Regis sabia com pormenores, todas as falhas da civilização arcaica de Marino, precisava explicar aos futuros Reis, assim numa das aulas:
— Com base nas informações que possuo, vou dizer alguns detalhes importantes sobre suas Nações.
Sem generalizar, é oportuno que saibam que muitas de suas Vilas não são pacatas. Em várias delas, nossos instrutores testemunharam cenas de selvageria. Abusos de autoridade, bandos de malfeitores, casos de agressões em famílias por motivos fúteis. Usa-se muito a execução sumária, sem uma severa apuração dos fatos.
O longo período da guerra deixou sequelas graves, como a tendência homicida de muitos ex-combatentes.
Falta um código de leis, os direitos e deveres são vagos, na maioria das vezes quem estabelece as regras são os guardiões.
Agora pergunto, como pode um único homem, ser prefeito, polícia, Juiz, executor e muitas outras coisas?
— Temos de mudar tudo, todo um sistema de vida. Interrompeu Jasp.
— Sim, não da noite para o dia. Vocês terão de anotar as prioridades, terão de aproveitar parte de seus colegas. Ninguém governa sozinho, vão ter de ficar ladeados de auxiliares honestos e dedicados. Distribuir tarefas é a forma lógica, depois acompanhar os resultados.
Na extinta Terra, todos os governos que existiram possuíam ministros para as mais variadas funções.
— Já estudamos muitas coisas, inclusive sobre sistemas de governos. Só agora estamos tendo oportunidade de aprofundar no assunto. Tratando-se especificamente de nossas Nações, quais seriam os principais ministros? Perguntou Suni.
— No caso de vocês, acredito que os principais seriam no início o da Justiça, o das Finanças e o da Educação. Os demais, de acordo com as necessidades. Não poderão esquecer que irão construir muitas estradas, haverá muito trabalho e assim por diante. Cada setor deverá possuir uma coordenação. O desenvolvimento vai depender muito das pessoas que escolherem.
— Mas no sentido de governar, como no caso de meu pai, que tudo decide, não haveria perda de poder com a introdução dessas pessoas? Atalhou Jasp.
— Não, porque o papel delas será o de tomar providências, que você poderá aprovar ou não. Toda e qualquer ordem vai depender da assinatura do Rei. O seu poder será total e poderá fazer muito mais coisas. Serão muitas cabeças a trabalhar para o benefício da Nação. Outra coisa, se não ficar satisfeito com um Ministro, poderá substituí-lo.
— Sobre Finanças, me diga alguma coisa. Pediu Suni.
— Depois da Nação se enquadrar nas regras da justiça, o Ministro das Finanças passará a ser o principal. A distribuição de rendas para o povo está ligada diretamente a todos os demais problemas. Vocês, com a cultura adquirida, bem como os demais jovens de Marino que aqui estão, irão transformar o modo de vida atual, incluindo os terráqueos que estão vivendo lá e os que ainda embarcarão.
Indústrias, estradas, veículos e muito mais, mudarão a fisionomia de Marino. Desde o início até uma total evolução, o dinheiro marcará a presença, sem ele nada funciona. Moedas darão lugar ao papel-moeda. Bancos serão necessários, inclusive um Central, para o controle financeiro.
Não se esqueçam que inicialmente haverá uma mudança repentina, gerando necessidades de um controle sobre a distribuição da riqueza, sendo necessário atenção máxima para focos de grande fartura ao lado da miséria.
Para todas as atividades o dinheiro deverá estar presente, sem excesso, para não gerar inflação. Ela começa com a exploração do custo de qualquer produto ou serviço. A melhor forma de contê-la sempre será através de um controle oficial de preços.
Resumindo, precisarão criar o sistema financeiro, ou melhor, modernizar o que possuem.
Kalil que até aquele momento se calara, argumentou:
— Vamos ter muito trabalho, os terrestres são conhecedores de uma ciência muito avançada. Não digo que devam participar de nosso governo, criariam antagonismos com parte da população. Num percentual baixo, nada impediria que alguns partilhassem das decisões. Por outro lado temos nossos irmãos que como nós, assimilaram sabedoria. Agora pergunto: seria possível ser fornecido uma relação dos melhores candidatos a cargos de confiança, incluindo nossos amigos terrestres?
— Sua pergunta é válida, mas como conhecer o melhor?
Isto terão de fazer pessoalmente, só lhes digo, a nota alta de aproveitamento escolar não reflete o caráter. Cada um esconde suas verdadeiras intenções. Na escolha deverão analisar a alma e não a aparência. Não posso e não devo fazer isto por vocês. Se errarem não poderão fazer acusações, senão a si próprios.
E você Kiria? Nada diz?
— Quero o bem de minha Nação, confio no Jasp, tenho certeza que saberá encontrar pessoas de responsabilidade para acompanhá-lo no seu reinado.
— Desde que chegaram aqui, conviveram em igualdade de condições com os demais estudantes, fizeram amizades, se conhecem. Não os separei, como era a intenção de seus pais, pelo contrário queria que não se isolassem, justamente para esta ocasião. Saberão agora encontrar seus auxiliares, Marinenses ou Terrestres, a decisão será exclusivamente de vocês. Quando conseguirem as relações, apenas duas, uma para Nogos e outra para Suma, com os nomes definitivos, eu as quero. Passarei a Corin a responsabilidade pela reciclagem, adequando as funções. Ai então, se nesse treinamento não conseguirem aprovação, pedirei outros nomes.
Isto não irá excluir o candidato, definiremos uma função que possa ocupar. Acreditem, dificilmente acertarão todos de imediato.
Por hoje terminamos.
Kalil, preciso falar com você.

Após a saída dos outros, Regis comentou:

— O serviço de terraplanagem foi concluído. Os terrenos estão prontos para receberem os assentamentos. Tudo vai ser construído conforme suas especificações. Temos engenheiros lá, com cópias de seu projeto. Você gostaria de acompanhar as construções nos locais das obras? Não precisa me responder agora, pense e me dê a resposta amanhã, sei que irá falar com Kiria. 

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