OS REIS VIAJAM PARA A
CIDADE ESPACIAL
OS PRÍNCIPES E OS PROBLEMAS AMOROSOS
— Governar bem é sentir no
povo a aceitação dos atos do poder. É cuidar dos problemas sociais, é manter a
cultura em alto nível, é conseguir dar felicidade à Nação. É ser tolerante até
certo limite, é ter a justiça em primeiro lugar.
Regis falou durante as duas
horas do primeiro dia de aula, sempre mostrando o caminho.
A medida que o tempo
passava, cada vez mais, aprofundava nos inúmeros problemas de comandar.
Depois de cinco meses, após
analisar criteriosamente o comportamento deles, pediu a presença de Sato e
Tropo.
Já estavam até habituados às
viagens espaciais, por várias vezes haviam voltado à Roda.
Dessa vez, na reunião, Regis
solicitara apenas a presença de Marcos, do Padre Santos e de Jansen, explicando
aos demais que a não convocação geral era para evitar volume de pessoas, visto
que o assunto prioritário seria de cunho pessoal.
— Pedi a presença de Vossas
Majestades, para esclarecermos pontos importantes para o futuro de suas Nações
e dos habitantes desta cidade. Depois, tenho que conversar sobre seus filhos.
Apesar de havermos comentado
anteriormente, falta uma pergunta que devo fazer. Aceitam os terrestres como
parte de seus Reinos, respeitando suas leis?
— Por mim, não tenho a
mínima objeção, respondeu Sato.
— Por mim também, completou
Tropo.
— Isto era muito importante,
precisava de uma definição. Elaboramos um documento para oficializarmos nosso
acordo.
Cerca de mil terrestres já
vivem normalmente na superfície, muitos se casaram lá e estão se misturando,
poucos voltaram. Setenta por cento dos instrutores ficaram nas Vilas,
desenvolvendo outras atividades.
Quero que fique bem claro,
viajamos muito a procura de um lugar para vivermos e encontramos este planeta.
Colocamos aqui dentro um pedaço do nosso, que não existe mais.
— Está sendo franco conosco,
vou ser também, minha preocupação é com as armas que possuem, terrivelmente
destruidoras, se quisessem poderiam nos exterminar, atalhou Tropo.
— Mas não fizemos nada
disto.
Elas vieram com o
desenvolvimento, coisa que infelizmente um dia irão fazer. Primeiro
descobrem-se os materiais de fácil combustão, depois são associados e acabam
compondo explosivos. Podem ser utilizados para fins os mais diversos, inclusive
para matar.
Para exemplo, é provável que
tenhamos de utilizá-las para limpeza dos locais para transferências das
aldeias, depois voltarão para esta nave e um dia desaparecerão com ela.
Mas falando dos terrestres,
quando os últimos descerem, ninguém mais poderá voltar.
— Por que não voltar?,
perguntou intrigado Sato.
— Porque nosso combustível é
limitado, talvez só daqui a mil anos seria possível a montagem de equipamentos
para produzi-lo. Quero dizer que o material que se queima em cada viagem à
superfície diminui nosso estoque. Vamos gastar muito para ajudá-los nos
assentamentos, depois só teremos o suficiente para levarmos o restante das
pessoas que vivem aqui, ou melhor, que quiserem descer.
— Quer dizer que tudo que
está aqui dentro ficará perdido, continuou o Nogolano.
— Bem, vamos transferir para
vocês o que pudermos, tudo que possa funcionar lá.
— Nos ajudaram a eliminar
bandos de malfeitores, fornecendo armas para alguns Guardiães, comentou Sato,
evidentemente interessado nelas.
— Foram casos isolados, de
muita necessidade. Inocentes estavam sendo massacrados por eles. Há muito
perigo no uso delas e não as entregamos nem ao pessoal daqui que foram para lá,
raríssimas foram as exceções.
Voltando ao assunto, nossa
finalidade é pacífica, simplesmente terão um aumento populacional de quase duas
mil almas em cada País. Não pretendemos ocupar nenhum território, apenas
queremos que nos considerem iguais e que aceitem nossa ajuda.
Depois daquelas palavras,
ambos os Reis se descontraíram totalmente. Também, por que não aceitá-los? Só o
progresso que estavam levando compensava tudo. Nunca iriam conseguir pagar
tantos benefícios.
Ainda dialogaram por algum
tempo. Depois, Regis leu o documento, ele e todos os presentes assinaram. Em
seguida solicitou ficar a sós com Tropo e Sato. Os amigos saíram e uma outra
conversa se iniciou:
— Quando seus filhos vieram
para cá, solicitaram que fossem treinados para Reinar.
— Foi isto mesmo, respondeu
Tropo, acompanhado do aceno afirmativo de Sato.
— Pois bem, isto está sendo
feito. De antemão quero dizer-lhes que são inteligentíssimos, vejam, não estou
falando para agradá-los. Qualquer um deles poderá assumir o governo. Porém,
sempre existe os mais propensos a chefiar, assim, dentro de nossos conceitos e
experiências, os que se enquadram plenamente são Jasp e Suni.
— Mas ela é mulher,
interrompeu Sato.
— Mas tem uma cabeça
perfeita para ser uma excelente Rainha. Tem total aptidão para reinar. Kalil,
se assumir, será perfeito porque não deixará ninguém perceber que não é sua
vocação. A tendência dele é arquitetura, seus cadernos estão cheios de desenhos
e projetos.
Sato ficou pensativo, via no
filho sua imagem.
— E Kiria? Perguntou Tropo
por sua vez.
— Ela é meiga, ativa, nada
lhe falta em termos de conhecimento, mas poderia apenas substituir o irmão. A
vocação de Jasp é reinar, tanto quanto a de Suni. Estou preparando todos, sou o
professor. Diariamente os venho instruindo em tudo que está a meu alcance.
Conversaram muito tempo
ainda, depois foram encontrar com os filhos, passariam dois dias na Astronave.
Tropo sentia-se satisfeito,
afinal era um homem que ia substituí-lo, pensava, um verdadeiro Rei.
— Que bom papai, você estar
aqui. Que surpresa!, disse Kiria ao vê-lo, abraçando-o.
— Tudo bem com o Senhor?,
foi a vez de Jasp num cumprimento mais distanciado.
Nisto, passou Kalil por
perto; não deixou de aproximar-se de Kiria, colocando a mão sobre o ombro da
moça, diante do olhar severo do Rei.
— Como vai Senhor Tropo?
Bem, respondeu um tanto
seco.
— Kiria, depois a gente se
encontra, vou falar com meu pai, está me esperando.
O Rei não gostou da
intimidade do moço, era filho de seu amigo, mas era o outro Rei. Aquilo não
estava em seus planos. Amargou um pouco e acabou não aguentando.
— O que significa isto minha
filha?
— Isto o que, papai?
— Bem, o moço colocando a
mão em seu ombro.
— Ah! Kalil! É meu namorado.
— Já imaginava isto.
Justamente o filho de meu inimigo.
— Que inimigo? Deixe disto.
Eu o amo e ele a mim e nada vai nos impedir.
Ia começar uma pequena
discussão, quando Jasp interrompeu:
— Vamos deixar isto para
depois, me pareceu tão feliz quando chegou. A conversa com Regis foi boa?
— Foi ótima meu filho. Sei
que meu povo vai ficar em boas mãos.
Tropo começou a detalhar
aspectos importantes sobre a vida de Rei e esqueceu o incidente.
Um pouco distante dali, Suni
e Kalil abraçaram o pai que por sua vez desmanchava de felicidade por estar com
eles. Era o tipo coruja, sofria com a ausência deles muito mais que Tat. Mas
após o entusiasmo inicial, resolveu experimentar o filho:
— Você quer ser Rei Kalil?
— Bem papai, se o Senhor
quiser que eu seja, eu serei.
— Não meu filho, gostaria de
outra resposta.
— Não posso ser desonesto.
Mentiria se afirmasse. Se assumir, pode crer, serei um bom Rei, mas
sacrificaria minhas aptidões.
— Prefiro a honestidade, não
tolherei seu caminho. E você minha filha, acha que pode governar uma Nação,
enfrentar o preconceito que vai ser grande e dedicar sua vida ao povo?
— Sim papai. Aprendi a ver
que as mulheres são iguais aos homens, que a única diferença é o sexo. Sei que
posso comandar, não tenho medo.
— Sua mãe me disse que tem um
namorado aqui, que pretendem se casar. Sabe, não me oponho em nada que seja
para sua felicidade.
— Respeito o direito de
Kalil, nem por um segundo pensava tomar seu lugar. Por outro lado, o objetivo
dele é outro. Assim, sinto-me a vontade para dizer-lhe que se me aceitar, nada
vai me impedir de ser Rainha, nem o Thomás.
De uma coisa pode ficar
certo, gosto muito dele, mas se tivesse de escolher, o deixaria. Se vier a
assumir o Reino, a única coisa que não vou querer é que me digam o que fazer.
Poderei aceitar opiniões e até acatá-las mas imposições nunca, nem do senhor.
— Bem, minha filha, você
manda! Exclamou o Rei, sorrindo por ver a firmeza dela.
— E você meu rapaz? Tem
alguma garota daqui em vista?
O moço se desconcertou um
pouco, titubeou e a acabou dizendo:
— Tenho, mas não é daqui é
de lá mesmo. É Kiria a filha de Tropo.
O peludo homem quase caiu
com a revelação.
— Mas ela! Não havia outras
moças para namorar?
Tinha de ser a filha de
Tropo?
O pai sabe?
— Se não sabia deve ter
percebido. Agora pouco estive com ela e ainda o cumprimentei.
Sato não queria aquela
união, mas era um sentimental e não disse mais nada ao filho. Compreendia as
coisas do coração e resolveu deixar correr o tempo. No íntimo sabia que Tropo
não aprovaria o casamento.
Durante o almoço oferecido
às duas famílias, para angústia de Tropo, Kalil sentara-se próximo a Kiria.
Sato observava o amigo, percebendo a não aprovação, pelos gestos bruscos e
aparência irritada.
O Rei nogolano não deu
importância a Tropo, afinal o compreendia. Realmente era difícil aceitar aquela
situação.
Logo após a refeição os
filhos foram para as aulas e os dois ficaram a sós.
O sumano estava quieto, mas
Sato o tirou de seus pensamentos, propositadamente lhe perguntou:
— O que você acha dos
habitantes daqui irem para lá?
Esquecendo um pouco a filha,
resolveu responder:
— Acredito que muitos deles
não vão deixar este lugar. Pelo que entendi, na posição que colocaram esta
cidade no espaço, ela poderá permanecer por tempo indeterminado, tanto que
nossos netos ficariam velhos e ela ainda existiria.
— Nestes últimos anos,
aprendi muito sobre eles, me aprofundei na história da Terra, nos mínimos
detalhes, tal como você.
Estão economizando
combustível para nos auxiliar nas inundações. É um preparado químico muito complexo
que não poderá ser reposto, como o próprio Regis nos disse. Portanto,
futuramente não poderão mais descerem.
— Entre nós, temos de
aproveitar o momento. Seria oportuno escolhermos áreas para implantarmos
escolas iguais a que existe nesta nave.
— É verdade, já sabemos onde
estão as regiões livres, temos de encontrar lugares favoráveis para a
construção de grandes pavilhões.
O que você acha de pedirmos
ajuda a Regis? Tenho certeza de que nosso interesse é o dele. Possuem muitos
tipos de máquinas, poderão auxiliar no levantamento dos prédios.
— Outra coisa Sato, podemos
levar professores daqui. Para isto, construiremos casas próximas às escolas.
Vamos expor a ideia a Regis.
Tropo se entusiasmara, até
esquecera o namorado da filha, aquilo que argumentaram era importante demais.
Poderia mudar suas Nações.
Não esperaram, foram até o prédio onde haviam estado. Encontraram Sancho, que
se prestou a chamar o Chefe da Central.
Regis admirou a volta deles,
mas alegremente os encaminhou para seu escritório.
Ambos explicaram
detalhadamente o plano e pediram apoio.
— Já definiram os locais?
— Não, mas lhe informaremos
logo. Poderíamos até analisarmos agora, mas temos medo de precipitação.
— Bem, logo que se definam,
mande evacuar as áreas, por ora, uma em cada País. Ninguém deverá ficar nas
proximidades, os moradores das vilas próximas deverão ser avisados. Ouvirão
grandes barulhos, como trovoadas. Não haverá nenhum perigo se não estiverem nos
locais. Depois seguirão máquinas para nivelar a terra. Precisamos fazer isto
para rapidez e também devido às densas matas. Vamos necessitar de muitos
trabalhadores das aldeias.
Para nós servirá de
experiência para quando tivermos de mudar as Vilas.
Depois que os Reis saíram,
Regis mandou chamar o Tenente que não se fez por esperar.
— Fusco, prepare-se para
ação de combate.
— Ação de combate?
— Sim, vamos ter de limpar
duas áreas para implantarmos duas grandes escolas em plena selva. Como
poderemos fazer isto?
— Não será difícil, apenas
com um avião equipado com mísseis as clareiras poderão ser abertas, depois com
um transportador poderemos deixar máquinas de terraplanagem, homens e material.
Minha parte poderá ser executada em dois dias.
— Bem, ótimo! Mas agora me
veio uma preocupação. Temos sempre falado no combustível, mas me esqueci de
perguntar sobre as bombas para abertura das clareiras, serão suficientes para
quando tivermos de transferir as muitas centenas de vilas?
— Já efetuei um
levantamento, parece que nossa raça só pensava na destruição. Temos um
compartimento na base superlotado dos mísseis que precisamos, mais que
suficiente para toda operação. Garanto-lhe que ainda sobrará uma boa
quantidade. Só para completar, o que vamos utilizar estão enquadrados no que
chamavam armas convencionais, existem outros tipos, de efeitos catastróficos,
um grande arsenal.
— Vá deixando tudo
preparado. Brevemente vou avisá-lo para agir. Agora, por favor, passe na escola
e peça a Corin para dispensar Kalil das aulas e que venha até aqui agora.
Fusco saiu e fez o
comunicado. Não demorou o rapaz se apresentou a Regis.
— O Senhor me mandou chamar?
— Sim, sei que gosta de
arquitetura. Quero que me faça a planta para duas grandes escolas, para um
suporte de mil alunos cada.
Os olhos do rapaz brilharam.
— Preciso dos dados do
terreno.
— Se lhe disser, que será
plano e muito firme?
Também vou querer a
esquematização de cem casas ou mais para abrigarem professores e moradores
normais, dentro de um estilo que possa ser realizado em sua Nação.
Sei que uma semana não seria
suficiente para a planificação. De quanto tempo necessitará para executar as
plantas das duas escolas e das vilas satélites?
— Sr. Regis, só uma
pergunta: Haverá energia elétrica?
— Sim, vamos colocar
geradores a óleo. Foi bom me perguntar. O material que vocês usam para alimentar
archotes do que é feito?
— De uma resina vegetal
muito abundante. É muito inflamável.
— Peça a seu pai para nos
enviar alguns litros dela, vamos testar, se der certo poderá haver energia por
muito tempo.
— Voltando ao assunto, você
se acha capaz de me fornecer a esquematização completa, com sistemas
sanitários, de esgoto e iluminação?
— Já estudei muito sobre
tudo isto, espero poder fazer em dois meses o trabalho, desde que me libere
para uso dos computadores.
— Você terá carta branca,
mãos a obra. Vou falar com Corin, ficará dispensado das aulas nesse período.
Pode pegar todo material que quiser na Distribuição, leve este cartão, lhe dará
acesso.
Kalil saiu empolgado do
escritório. No caminho encontrou o pai e Tropo, a conversarem.
— Olha meu pai!, mostrando o
cartão. Regis me deu a tarefa de desenhar as escolas que vão ser construídas.
Deverei também planificar duas Vilas, uma para cada prédio de ensino. Tenho
dois meses para isto. Dizendo isto, continuou o caminho.
Sato, virando-se para o
amigo, antes que dissesse qualquer coisa:
— Nosso plano começa a dar
certo, espero que meu filho saiba fazer o que lhe pediram.
Tropo nada respondeu. Apenas
continuou no assunto que estavam conversando. Mas pensou:
— Se der certo, até que não
seria um mal negócio vir a ser meu genro.
O dia para eles havia sido
muito agitado, assim, resolveram descansar em seus apartamentos.
Quando Sato chegou,
encontrou o filho com um grande pacote.
— Disse que vai desenhar as
escolas?
— Isto mesmo meu pai, já
peguei tudo que é necessário. Terei de trabalhar muito. Mas antes que me
esqueça, Regis solicitou que quando chegar lá, a nave vai esperar um pouco para
que possa conseguir alguns litros de óleo que se usa em archote.
— Mas para que será isto?
— Vão testá-lo num gerador
de energia elétrica.
— O que é isto?
— É uma máquina para
produzir luz, como a que temos aqui.
— Então a escola poderá ser
iluminada?
— Claro meu pai.
Kiria estava evitando o pai,
mas tinha de ir vê-lo, no dia seguinte voltaria cedo para Vale Verde. Conversou
com Jasp e ambos foram para o apartamento dele.
Quando chegaram,
encontraram-no alegre e descontraído. A ruga da testa havia desaparecido.
Falando normalmente com os filhos, de repente lembrou-se de Kalil e disse para
a moça:
— Pela terceira vez hoje vi seu
namorado.
Imediatamente ela ficou
séria, sabia que viriam advertências, se estacou e perguntou:
— Por que está me dizendo
papai?
— Não é preciso se armar,
pensei um pouco, ele me parece inteligente.
Mais que depressa a moça,
sorrindo, tornou a perguntar:
— O Senhor acha? Que bom!, e
abraçou Tropo.
— Tem uma condição.
— Qual papai?
— Só vou aceitá-lo se
cumprir o que prometeu a Regis.
— O que foi que prometeu?
— Pergunte a ele, respondeu
o pai também sorrindo.
Jasp partilhava da alegria
da irmã, fazendo para ela o sinal de positivo.
No dia seguinte, enquanto
caminhavam para o elevador que os levaria a base, Tropo, para ver a reação de
Sato, comentou:
— Nosso filhos formam um
belo par.
Aquele posicionamento
surpreendeu o nogolano, que não chegara a se opor ao filho, sorrindo completou:
— Faremos uma bela festa.
Falando no meu filho,
através dele, Regis me pediu para providenciar óleo de archotes e colocar na
nave antes de voltar. Vale Verde é mais perto, preciso que me ajude a consegui-lo.
Uma semana após, Jansen
recebia pelo comunicador as indicações dos locais. Mapeou e fotografou as duas
regiões, passando o resultado para Regis. Este chamou Fusco, juntos assinalaram
os setores de desmatamento.
Jansen voltou a se comunicar
com os Reis para saber se as áreas indicadas estavam livres. Alguns dias depois
deram a confirmação. Conforme fora previsto, um avião militar destruiu a
formação vegetal, em seguida as enormes máquinas de terraplanagem entraram em
ação.
Kalil passava dias e noites
trabalhando nos projetos, havia recebido fotos da área e pelo processamento
planara as mesmas. Com elas podia conseguir uma visão quase real de como
ficariam as Vilas.
Depois que Kiria lhe contara
que o pai o aceitara, trabalhava com muito maior zelo. Dedicava-se ao desenho
como se aquilo fosse um filho. Emagrecera, os olhos se salientavam sob o fundo
roxeado.
— Se não para um pouco, eu
deixo você! Esbravejou a moça, vendo a situação do namorado.
— Não se preocupe meu bem.
Já estou no final, mais três dias e entrego o material para Regis. Venha vê-lo.
Kiria se aproximou, olhou as
várias folhas e comentou:
— Está muito bonito, mas não
entendo nada.
— Então olhe no vídeo.
— Nossa! Fez tudo isto? Que
maravilha!
A grande escola, as ruas,
jardins, as casas. Você não esqueceu de nada, parece até parte desta cidade.
— Faltam alguns retoques,
depois vou descansar.
— Trouxe alimento, pelo
menos coma. Não quero vê-lo doente.
Regis estava entretido com
vários papéis em sua mesa, quando o moço, pedindo licença, se apresentou com a
pasta.
— Sr. Regis, o que me pediu
está pronto. Aqui está todo o planejamento e os “chips” do processador.
O comandante da Central
recebeu a documentação e olhou superficialmente, comentando:
— Fez tudo isto? Está de
parabéns Kalil, o que está me apresentando parece uma obra de arte. Vou
analisar e depois entregar para execução. Está muito pálido, vá ao centro
médico e descanse por uma semana.
— Se me permite, é o que vou
fazer, realmente estou me sentindo muito cansado. Até mais Sr. Regis.
Kiria o esperava do lado de
fora, tão logo saiu o levou para tratamento.
O médico que o atendeu,
forneceu vitaminas e lhe aplicou injeções para fortalecê-lo, recomendando a
moça que o fizesse ficar de cama uma semana.
Thomás, jovem de porte
atlético, alto, cabelos pretos e curtos, se apaixonara por Suni.
Laura, sua mãe vivia
procurando desviá-lo da nogolana, chegando ao ponto de convidar moças
conhecidas para tentar conquistá-lo. Dizia:
— Isto não vai dar certo meu
filho, ela é de raça diferente.
— Mãe, ela é igual a nós, os
pelos foram devido a glaciação do planeta. Por outro lado, isto não vem ao caso
e é bom saber que não vivo sem a Suni.
Marcos, seu pai, era um
homem quase inativo, desde que o navio ficara estacionado. Ultimamente se
limitava a olhar os mostradores e verificar os equipamentos, numa rotina
diária.
Na verdade, não quisera se
envolver no processo de transferência dos terrestres para Marino. Há tempos,
quando o navio ainda percorria o espaço, sua atividade era total. Mas não se
martirizava por isto, vivia alegre e despreocupado, de qualquer forma cumpria a
sua missão.
A esposa, querendo o apoio
dele, disse:
— Marcos, você precisa tomar
uma atitude com seu filho. Ele está namorando aquela peluda. Já pensou como vão
sair nosso netos?
— Iguais a bonitos cachorrinhos.
Vou ficar contente em pegá-los.
— Não brinque, a situação é
séria.
— E daí? Ele gosta da moça.
É filha de Rei, portanto é uma princesa, o que você quer mais?
— Não concordo, é de outra
raça.
— Você Laura, parece não
raciocinar. Nós vamos nos misturar com eles, quer você queira ou não.
Isto até é sorte para nosso
filho. É garantia de total sobrevivência. Estive conversando com Regis, ele me
disse que essa moça que você está desprezando vai ser Rainha, quando voltar
governará a Nação. O irmão não quer, tem outras aspirações.
— Verdade Marcos?
— Verdaaade Laura! Ainda vai
importunar nosso filho?
— Não Marcos. Não sabia!
— Ele ainda está em casa, vá
falar com ele.
Depois da revelação do
marido, interessada e arrependida, foi falar com Thomás, que estava em seu
quarto e não ouvira aquele diálogo.
— Meu filho, preciso falar
com você.
— De novo não mãe.
— Olha, não vou me importar
mais com seu namoro com Suni. É o nome dela?
— Por que esta mudança?
Perguntou desconfiado o rapaz.
— Bem, pensei melhor. Seu pai
me explicou que vamos ter de mesclar a raça, que isto será uma consequência
normal no correr dos tempos.
Qualquer hora, traga-a aqui,
quero conhecê-la.
— Qualquer dia destes, falo
com ela.
Por si mesmo, o rapaz estava
balançando em seu namoro, surgira um problema, ela seria a Rainha dos Nogos.
Muito franca já havia lhe dito que nada a impediria de assumir o poder.
Suni amava o jovem, mas não
se sentia repartida quando se tratava de subir ao trono. Pensava:
— Se casar comigo e me
seguir, hei de encontrar uma forma de deixá-lo encarregado de alguma função
importante, que o faça me ajudar. Evitarei que fique frustrado.
Nas aulas de Regis, era a
mais interessada, anotava tudo. Dizia sempre que não cometeria erros em sua
administração.
Passado algum tempo, o moço
a convidou para ir conhecer sua família. Ficou contente, se aprontou e foi
otimamente recebida, principalmente pela mãe.
Quando saíram e ele foi
levá-la para o alojamento, no caminho Suni perguntou:
— Certa vez me disse que sua
mãe não aprovava nosso namoro.
— Sou filho único, acredito
que naquela época ela estava com ciúmes.
— Ela sabe que se casarmos,
você terá de ir comigo para Catun?
— Sabe, apenas espera que
sejamos felizes.
— Então, por que esta cara
emburrada? Nem me abraçou hoje!
— Quer que eu fale a
verdade?
— Claro Thomás.
— Queria você só para mim.
Não consigo imaginá-la Rainha, dando ordens. Veja bem, estou me abrindo como me
pediu. Apenas que este fato está mexendo com minha cabeça. Sei que sou capaz de
enfrentar qualquer situação, não pensaria duas vezes se tivesse que dar minha
vida para salvá-la. Mas isto é mais forte do que possa imaginar. Nem durmo
direito.
— Eu o compreendo, não posso
recriminá-lo ou forçá-lo, só lhe digo que o amo muito, mas que minha obrigação
para com meu povo está acima de tudo. Meu irmão não deve assumir, passaria a
vida dele como meu pai.
— Não entendi Suni. Como seu
pai?
— A vocação dele nunca fora
governar, o faz até com perfeição máxima, apenas para cumprir seu papel. É um
fanático da cartografia. Primeiro, não quero que isto se repita, segundo desejo
ser Rainha, não para me exibir, mas porque é minha aptidão.
Falando nisto, qual é sua
vocação? Até hoje não me disse.
— Agora me deixou
envergonhado. Tenho procurado algo para fazer, já tentei várias coisas, tudo
parece fora de meu interesse.
— Procure algo que mexa
totalmente com seu cérebro, que sinta vontade de fazer, de construir. Logo que
descobrir, me entenderá melhor. Por exemplo, você não estranha meu irmão ter
deixado o trono para mim? Sabe para que?
— Não.
— Para ser um arquiteto.
Passou dois meses, quase sem comer, trabalhando dias e noites, para
esquematizar duas grandes escolas e duas vilas que vão ser construídas em
Marino. E o projeto dele foi totalmente aprovado, sem nenhum corte.
Como todo pessoal daqui,
deve ter conhecido o Joseli, foi para a superfície para distribuir galinhas.
Acabou sendo grande comerciante delas em Vale Verde, nunca mais voltou. Perguntaram
a ele se queria mudar de ramo, disse que aquilo era sua vocação e que não
trocaria por qualquer outra coisa.
Com isto, quero dizer que
cedo ou tarde cada um acaba descobrindo seu caminho.
— Você tem razão, acredite,
vou descobrir algo, tem muita coisa para ser feito na superfície.
Abraçou e beijou Suni,
depois voltou para casa bastante atordoado pelas ideias que lhe passavam.
Encontrou seu pai acordado.
Precisava de alguém para falar, que pudesse ajudá-lo.
— Papai, podemos conversar
um pouco?
— Fale filho.
— Minha mãe já foi dormir.
— Já.
— Estou com um problema e
preciso de sua ajuda. Vou confiar em você, é muito íntimo o que vou dizer.
Estou apaixonado por Suni,
ela vai ser Rainha dos Nogos, não consigo aceitar a situação de viver com uma
mulher poderosa. Ela diz que é por vocação e necessidade que assumirá a
posição.
Fui franco, disse o que
pensava. Ela me deu a entender que se tivesse algo em mente, um objetivo de
vida eu a entenderia. Me perguntou sobre minha vocação, não soube responder. Me
deu exemplos, mas por mais que reflita nada me surge. É esta a minha situação.
— Você está errado em
misturar o amor com o trabalho que ela irá fazer, isto terá de respeitar. Ela
está certa em tudo que lhe falou.
Quanto a vocação, vou falar
com Corin, tenho certeza que ele resolverá seu problema. Durma, não pense mais
nisto, amanhã tudo se arranjará.
— Obrigado pai, já me ajudou
muito.
Marcos era amigo particular
do Padre Santos, antes de procurar Corin foi contatá-lo.
Único representante
religioso da Astronave, somava para si os problemas individuais dos que se
sentiam frustrados, infelizes. Estimado e respeitado, sempre ouvia atento as
situações e procurava orientar.
O comandante contou-lhe o
problema do filho, achando até uma atitude normal da idade, mas o sacerdote não
concordou.
Conhecia o rapaz, fora um
dos professores dele, sabia que possuía uma inteligência vibrante.
— Peça a ele para vir falar
comigo, por enquanto esqueça Corin.
Marcos saiu, o religioso
ficou pensativo. Seus olhos serenos, sob a face muito vivida, onde as rugas lhe
assentavam com suavidade, pareciam ver muito além. Seus cabelos brancos cobriam
um cérebro privilegiado, onde segredos do Universo se escondiam.
O tempo passava, ele se
mantinha atrás de sua mesa, sabia que o moço viria. Cerca de uma hora ficou
ali, quando o rapaz entrou.
— Sente-se Thomás, temos que
conversar.
— Meu pai me falou ...
— Sim, pedi para vir falar
comigo. É muito importante o que tenho para lhe dizer.
Embora lhe possa parecer até
simples, cada palavra nossa não poderá ser ventilada nunca, porque prejudicaria
todo o futuro. Preciso que me prometa silêncio pelo resto da vida.
— Prometo Padre Santos. Mas
por que tanto segredo?
— Porque você foi escolhido
pelo Criador para uma grande missão. Será o peso de equilíbrio na balança dos
destinos de uma Nação. Precisa encarar este fato com muita seriedade.
— Não entendi. Afinal do que
está falando?
— De seu casamento com Suni.
Ela governará seu país, com você ou sem. Duas mulheres diferentes, com seu
apoio fará um magnífico reinado, poderá até não dizer mas contará com você em
todos os momentos. Sem, ela tornar-se-á amarga, tirana e poderá levar a
discórdia ao novo mundo.
— Tenho absoluta certeza do
que lhe disse, como tenho de morrer um dia.
— Meu pai lhe falou sobre isto?
— Não Thomás, seu pai está
apenas preocupado com sua vocação. O que lhe falei, eu sei, não me pergunte
como.
— Por que você acha que
viemos parar aqui? Não era nem para existirmos mais.
— Você sabia que os
habitantes de Marino, já nos esperavam?
Que isto está registrado em
livros religiosos deles?
Preciso lhe dizer mais?
Se quiser posso mostrar-lhe
muito mais, é o que pretendo fazer, mas não hoje.
Mude seu comportamento com a
moça, incentive-a. Diga que estará a seu lado, que a ajudará em tudo que ela
quiser.
Veja bem, em tudo que ela
quiser, não no que você quiser.
É importantíssimo que seja Rainha
e que não encontre interferências nas decisões.
Seu destino está nas mãos de
Deus. Portanto mude sua atitude, cada gesto contrário seu a estará levando para
o outro lado, portanto inverta a situação.
Não irá demorar para pedir a
Regis sua presença nas aulas. Sabe para que?
— Para me inteirar dos
problemas e ajudá-la no futuro.
— Corretamente, espere e
verá.
Se tudo correr como penso,
uma das grandes dificuldades no comando da Nação será a economia. O
desenvolvimento repentino fará nascer nova mentalidade, o que provocará grande
dependência de dinheiro. Este deverá estar muito bem distribuído, porque se não
ocorrer, haverá focos de riqueza ao lado de muita miséria.
Apesar da precária
existência de hoje, a população sobrevive razoavelmente. Com aumento de bens de
consumo, as pessoas vão querer ter coisas. Acabarão gastando o que não possuem,
consequentemente lhes faltarão para o alimento, para roupas e para cuidados com
a saúde. Poderão haver descontentamentos e revoltas e até o trono poderá ficar
em perigo.
Thomás, você alicerçará
isto, evitando as más consequências. Compreende o que estou lhe dizendo?
— Sim, Padre Santos, nunca
havia pensado nesses problemas.
— Pois então pense, tudo vai
mudar lá em baixo. O grupo de Marinenses quando sair daqui, irão com mil ideias
e vão influenciar os de lá. Aliado a isto, este navio vai esvaziar, a febre
pelo ouro ataca todo e qualquer ser humano. Garanto-lhe que apenas alguns
velhos vão querer ficar aqui.
Por outro lado, a vida num
planeta, representa um enraizamento sem limites de tempo, o que atende às
diretrizes do Criador. Por isto viemos parar neste canto da Galáxia.
A justiça é a base de uma
sociedade perfeita, você também poderá ajudar a criá-la.
— Padre, acho que já sei o
que fazer.
Encontrei o que estava
procurando.
— Vá em frente, guarde o que
lhe disse.
Thomás, depois da orientação recebida, voltou
feliz para casa, era outro, completamente mudado. Sua cabeça fervilhava, mas de
ansiedade para “partilhar” do reinado de Suni. Encontrou seu pai, que logo lhe
perguntou:
— Como foi a conversa com o
Padre Santos?
— Ótima, foi a melhor coisa
que me aconteceu até hoje.
— Me conte, gostaria de
saber.
— Desculpe pai, o Padre me
pediu segredo, o que sei vou levar para o túmulo. Só lhe digo que tudo vai
mudar em minha vida, para melhor.
— Ainda vai querer falar com
Corin?
— Não será mais preciso.
Pode ficar tranquilo, está tudo certo mesmo. Por enquanto vou estudar mais um
pouco.
Nisto Laura entrou,
carregando alguns pacotes.
— O que vamos ter para o
almoço, mãe?
Fazia tempo que o filho não
dizia aquelas habituais palavras, ultimamente pouco ligava para os alimentos,
estava sempre apático. Ela sorriu e ficou alegre, logo disse:
— O que você quer comer? Já
sei, vou fazer seu prato predileto.
O ambiente naquela casa
mudara, a felicidade voltara e os três tiveram uma bela refeição.
Naquela tarde, Suni estava
triste, pouco dormira, não conseguira nem prestar a atenção nas aulas do dia.
Entendia Thomás e pensava:
— Por que tudo é tão
difícil? Não quero perdê-lo. Afinal sou mulher, porque tenho de insistir na ideia
de ser Rainha?
Sentada no banco da pequena
praça, alheia aos transeuntes, perdida em seus pensamentos, não viu quando o
namorado chegou. Assustou-se quando este lhe abraçou por trás e lhe deu um
beijo no rosto.
— Quem é? É você?
— Tem outro namorado por
acaso?
— Só você meu bem. É o único
e já me deixa doente, se tivesse mais morreria.
— Você estava tão distante,
não viu quando cheguei.
— Estou muito preocupada,
sei que não aceita que seja Rainha, por outro lado o amo muito. Estou sofrendo
com isto.
— Então pare de sofrer.
Também passei a noite pensando, refleti muito, meu sentimento por você está
acima de tudo.
— Quer dizer, você irá
comigo? Disse Suni, com os olhos a brilhar de felicidade.
— Sim, minha princesa, e
serei seu humilde servo, falou em tom brincalhão.
— Você me deixa muito feliz,
disse a moça chorando e abraçando o rapaz, ao mesmo tempo interpelando:
Mas, por que mudou tanto? O
que lhe fez me aceitar como Rainha?
— Meu coração. Não poderia
viver sem você, então pensei nos seus motivos e não nos meus e resolvi
inverter, quem sabe poderei ajudá-la na sua grande missão.
— E quanto! Já o está
fazendo. Agora posso continuar a aprender. Sabe que por sua causa, nem sei o
que Regis falou na aula de hoje.
— Garanto-lhe que isto não
vai acontecer mais.
— Também estava preocupado
com a vocação.
— Vou me dedicar no momento
aos estudos, vou aperfeiçoar meus conhecimentos de ciências econômicas.
A noite veio e os dois
ficaram por muito tempo juntos, saboreando aqueles momentos, descontraídos, por
fim se entendiam.
— — —
Regis sabia com pormenores,
todas as falhas da civilização arcaica de Marino, precisava explicar aos
futuros Reis, assim numa das aulas:
— Com base nas informações
que possuo, vou dizer alguns detalhes importantes sobre suas Nações.
Sem generalizar, é oportuno
que saibam que muitas de suas Vilas não são pacatas. Em várias delas, nossos
instrutores testemunharam cenas de selvageria. Abusos de autoridade, bandos de
malfeitores, casos de agressões em famílias por motivos fúteis. Usa-se muito a
execução sumária, sem uma severa apuração dos fatos.
O longo período da guerra
deixou sequelas graves, como a tendência homicida de muitos ex-combatentes.
Falta um código de leis, os
direitos e deveres são vagos, na maioria das vezes quem estabelece as regras
são os guardiões.
Agora pergunto, como pode um
único homem, ser prefeito, polícia, Juiz, executor e muitas outras coisas?
— Temos de mudar tudo, todo
um sistema de vida. Interrompeu Jasp.
— Sim, não da noite para o
dia. Vocês terão de anotar as prioridades, terão de aproveitar parte de seus
colegas. Ninguém governa sozinho, vão ter de ficar ladeados de auxiliares honestos
e dedicados. Distribuir tarefas é a forma lógica, depois acompanhar os
resultados.
Na extinta Terra, todos os
governos que existiram possuíam ministros para as mais variadas funções.
— Já estudamos muitas
coisas, inclusive sobre sistemas de governos. Só agora estamos tendo
oportunidade de aprofundar no assunto. Tratando-se especificamente de nossas
Nações, quais seriam os principais ministros? Perguntou Suni.
— No caso de vocês, acredito
que os principais seriam no início o da Justiça, o das Finanças e o da
Educação. Os demais, de acordo com as necessidades. Não poderão esquecer que
irão construir muitas estradas, haverá muito trabalho e assim por diante. Cada
setor deverá possuir uma coordenação. O desenvolvimento vai depender muito das
pessoas que escolherem.
— Mas no sentido de
governar, como no caso de meu pai, que tudo decide, não haveria perda de poder
com a introdução dessas pessoas? Atalhou Jasp.
— Não, porque o papel delas
será o de tomar providências, que você poderá aprovar ou não. Toda e qualquer
ordem vai depender da assinatura do Rei. O seu poder será total e poderá fazer
muito mais coisas. Serão muitas cabeças a trabalhar para o benefício da Nação.
Outra coisa, se não ficar satisfeito com um Ministro, poderá substituí-lo.
— Sobre Finanças, me diga
alguma coisa. Pediu Suni.
— Depois da Nação se
enquadrar nas regras da justiça, o Ministro das Finanças passará a ser o
principal. A distribuição de rendas para o povo está ligada diretamente a todos
os demais problemas. Vocês, com a cultura adquirida, bem como os demais jovens
de Marino que aqui estão, irão transformar o modo de vida atual, incluindo os
terráqueos que estão vivendo lá e os que ainda embarcarão.
Indústrias, estradas,
veículos e muito mais, mudarão a fisionomia de Marino. Desde o início até uma
total evolução, o dinheiro marcará a presença, sem ele nada funciona. Moedas
darão lugar ao papel-moeda. Bancos serão necessários, inclusive um Central,
para o controle financeiro.
Não se esqueçam que
inicialmente haverá uma mudança repentina, gerando necessidades de um controle
sobre a distribuição da riqueza, sendo necessário atenção máxima para focos de
grande fartura ao lado da miséria.
Para todas as atividades o
dinheiro deverá estar presente, sem excesso, para não gerar inflação. Ela
começa com a exploração do custo de qualquer produto ou serviço. A melhor forma
de contê-la sempre será através de um controle oficial de preços.
Resumindo, precisarão criar
o sistema financeiro, ou melhor, modernizar o que possuem.
Kalil que até aquele momento
se calara, argumentou:
— Vamos ter muito trabalho, os
terrestres são conhecedores de uma ciência muito avançada. Não digo que devam
participar de nosso governo, criariam antagonismos com parte da população. Num
percentual baixo, nada impediria que alguns partilhassem das decisões. Por
outro lado temos nossos irmãos que como nós, assimilaram sabedoria. Agora
pergunto: seria possível ser fornecido uma relação dos melhores candidatos a
cargos de confiança, incluindo nossos amigos terrestres?
— Sua pergunta é válida, mas
como conhecer o melhor?
Isto terão de fazer
pessoalmente, só lhes digo, a nota alta de aproveitamento escolar não reflete o
caráter. Cada um esconde suas verdadeiras intenções. Na escolha deverão
analisar a alma e não a aparência. Não posso e não devo fazer isto por vocês.
Se errarem não poderão fazer acusações, senão a si próprios.
E você Kiria? Nada diz?
— Quero o bem de minha
Nação, confio no Jasp, tenho certeza que saberá encontrar pessoas de
responsabilidade para acompanhá-lo no seu reinado.
— Desde que chegaram aqui,
conviveram em igualdade de condições com os demais estudantes, fizeram
amizades, se conhecem. Não os separei, como era a intenção de seus pais, pelo
contrário queria que não se isolassem, justamente para esta ocasião. Saberão
agora encontrar seus auxiliares, Marinenses ou Terrestres, a decisão será
exclusivamente de vocês. Quando conseguirem as relações, apenas duas, uma para
Nogos e outra para Suma, com os nomes definitivos, eu as quero. Passarei a
Corin a responsabilidade pela reciclagem, adequando as funções. Ai então, se
nesse treinamento não conseguirem aprovação, pedirei outros nomes.
Isto não irá excluir o
candidato, definiremos uma função que possa ocupar. Acreditem, dificilmente
acertarão todos de imediato.
Por hoje terminamos.
Kalil, preciso falar com
você.
Após a saída dos outros,
Regis comentou:
— O serviço de terraplanagem
foi concluído. Os terrenos estão prontos para receberem os assentamentos. Tudo
vai ser construído conforme suas especificações. Temos engenheiros lá, com
cópias de seu projeto. Você gostaria de acompanhar as construções nos locais
das obras? Não precisa me responder agora, pense e me dê a resposta amanhã, sei
que irá falar com Kiria.
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