sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Gruta Misteriosa

--- Estou cansada, meus pés estão doendo.
--- Bem que te avisei Alice, a caminhada não seria fácil, não acreditou, teve que vir por desconfiança.
José, Antônio Carlos e Alice haviam saído muito cedo. De carro tomaram a estrada que ia para Monjolinho. Na metade do caminho, onde se descortina o Pico da Pirâmide, desceram e continuaram a pé.
Eram dez horas da manhã quando a mulher começou a reclamar e faltava muito para chegarem até na gruta.
Muitas lendas a envolviam. Diziam que quem se aventurava entrar nela, nunca mais voltava. Verdade ou não, o fato era que ninguém sequer passava pelo local.
Aproveitando a folga do fim de semana, José Zimas convidara o amigo para a aventura. Sabia que também era fanático por mistérios, assim, combinaram a excursão. Levaram cordas, lanternas, filmadora, alimentos, água e outros apetrechos. Com as pesadas mochilas, vagarosamente se puseram a caminho.
Alice se arrependia de ter insistido em acompanhar o marido. Insegurança, medo, percepção de que algo ruim ia acontecer perturbavam sua mente. Para vazão de seus sentimentos, não parava de xingar.
--- Não devia ter vindo. Já que está aqui, controle-se, encare isto como um piquenique.
--- Não posso Toninho, algo me diz para voltarmos.
--- Deixe de bobagem Alice, o que falam do local é superstição. Amanhã poderá contar as suas amigas sobre nossa aventura.
José sempre a frente, mantinha-se silencioso e observador. Tanto quanto Antônio, não passava dos vinte e oito. Amigos deste a infância se entendiam como se fossem irmãos. Sua fixação em visitar o famoso local era até exagerado. Dizia que iria lá, nem que fosse a última coisa que fizesse.
Depois de terem caminhado por horas, os rapazes também estavam cansados. Alice mal conseguia mudar os passos, nem reclamava mais, quando pararam deitou entre as pedras.
Antônio, preocupado, comentou com José:
--- Tem algo de errado, começo a dar razão aos comentários. Estou com calafrios, parece que onde estamos não faz parte do resto lá em baixo.
--- Calma Toninho, não vai ser agora que vai arrepender.
Também concordo, há mais de quinhentos metros venho notando ausência de vida animal. Volte com sua mulher, se quiser.
--- Estou com medo, Alice mais ainda, vou falar com ela.
Alice! Acorda!
--- O que é Toninho? Quero descansar.
--- Presta atenção. Você quer voltar?
Irritada, a moça nem pensou para responder:
--- Agora, que já estamos perto, vamos até o fim! Não volto! Não volto mesmo!
--- Está bem, vamos com você José.
Alimentados e mais dispostos, alcançaram o cume da montanha. Forte ventania os açoitava. A grande rocha que dava nome ao pico estava bem à frente e sua forma lembrava uma pirâmide. José, no auge da curiosidade, vistoriava o local. Não demorou em encontrar algo que o surpreendeu:
--- Vejam! São escritos antigos. Parece uma mensagem, ou alguma explicação.
--- Então pessoas já vieram aqui, comentou Alice.
Mas onde está a entrada? Não vejo nada.
--- Teremos de procurá-la, respondeu José.
Aproximaram da escarpa rochosa e passaram a explorá-la.
O sol estava preste a se por quando Alice gritou:
--- Achei! É aqui, não vimos porque a abertura está encoberta por esta pedra.
--- Sim, tem razão. Antônio comece a filmar e prepare as luzes, vamos entrar.
Penetraram através da pequena passagem, logo encontraram um salão, apenas um quadrado quase perfeito, cujas paredes pareciam retilíneas, mas nada mais. O local estava muito limpo. Num dos cantos, água descia de uma fenda, formando pequeno poço.
--- A não ser aqueles desenhos, nada mais há para registrar, disse Antônio, desligando a filmadora.
--- Ainda bem que trouxeram lampiões, podemos passar a noite aqui, lá fora venta muito, comentou Alice.
--- O jeito é dormir, sinto-me frustrado, só encontramos círculos desenhados. Tudo era fantasia, superstição, pensei que íamos participar de uma grande aventura.
--- Ora José, o que queria mais?
Trocaram mais alguns comentários e se acomodaram como puderam. Na manhã seguinte se preparavam para descer, quando José passando pela inscrição do lado de fora, fez uma observação:
--- Ou estou muito enganado, mas parece que os caracteres estão mais legíveis do que ontem!
Alice e Antônio concordaram, mas não deram muita importância e os três começaram a descer a montanha. À medida que caminhavam notaram diferenças no panorama.
Surpresa foi quando chegaram onde era possível enxergar a estrada.
--- O que significa isto? A estrada desapareceu, as casas dos sitiantes também. Só existe mata fechada. Será que invertemos a direção e estamos descendo pelo lado oposto?
--- Não Antônio, marquei bem por onde tínhamos que voltar.
Acho que aconteceu. Lá não é uma simples gruta é uma passagem no tempo. Acho que estamos no passado.
Apavorada Alice se pôs a chorar. Estavam perdidos num mundo desconhecido.
De qualquer forma continuaram.
Num dado momento perceberam movimentos nas folhagens da incrível floresta. De repente uma flecha se fixou no solo, próxima a José, que gritou:
--- Vamos voltar! Corram! São Índios!
Deram o que tinham, a filmadora ficou enroscada em um dos galhos e alguns apetrechos foram deixados para diminuição do peso das mochilas. Depois de ganharem razoável distância, viram os nativos com seus arcos, apenas observando. Com certeza, temiam o lugar.
Quando chegaram novamente no topo, sentiram-se seguros, pelo menos ali os selvagens não iriam. Mas as rações acabariam e teriam de procurar alimento.
Passado o susto, recompostos, se reuniram para tomarem uma decisão. A primeira a falar foi Alice:
--- Como vamos viver entre os selvagens?
--- Tenho uma idéia, atalhou José.
Já que a gruta é uma porta no tempo, poderemos fazer muitas viagens, até acertarmos uma época que nos permita uma melhor vivência.
--- E se voltarmos cada vez mais no tempo? Perguntou Antônio.
--- É um risco. Mas alguém escreveu aquela mensagem. As letras são esquisitas, mas uniformes, portanto só pode ser pessoa com sabedoria. Sinal de que esteve aqui em época remota, no entanto, deveria haver civilização.
Aqueles círculos desenhados, um dentro do outro, devem significar várias épocas, ou seja, várias passagens. Por exemplo, o último ou os últimos pode referir-se ao futuro e os internos ao passado. Quem sabe possamos até voltar para nosso tempo ou próximo dele.
Agora, se quiserem me acompanhar, vou tomar lugar e partir.
Os três concordaram e retornaram para o interior da pedra.
Passados alguns dias desde a saída de Campolândia, pequena cidade onde residiam, os habitantes estavam alvoroçados. A polícia local, avisada da existência de um carro abandonado, procedera a retirada do mesmo. Nesse meio tempo, amigos e conhecidos estranharam a ausência deles.
Muitos sabiam da fixação de José em visitar a gruta. Os comentários tomaram conta. Até o pequeno jornal da cidade colocou o fato na primeira página, dando versões desencontradas, mas afirmando que haviam seguido para o Pico da Pirâmide.
Dona Josefa, vizinha do casal, como a maioria das pessoas, comentava:
--- Não deviam ter ido lá. Coitada da Alice, ainda bem que não tinham filhos. Ninguém volta. Meu marido conta que um tio-avô dele se aventurou a fazer o mesmo e nunca mais se soube do homem.
--- Zefa, tem coisas que não entendemos. Cruz credo! Com certas coisas não se brinca, dizem que lá é lugar do Demo, Deus que me livre!
Bem, preciso fazer umas comprinhas. Tchau!
Enquanto isto, nossos excursionistas malogrados entravam no local, passavam a noite e saiam para ver o lado de fora. Nas últimas vezes o panorama era o de um deserto escaldante e o que pensavam ser apenas uma gruta era realmente uma pirâmide. A placa que deveria ser de advertência fazia parte da mesma.
O pouco alimento que possuíam estava sendo racionado. O medo começava a não ter sentido. Tornaram-se joguetes na mão do tempo.
Os rapazes não estavam nem conseguindo raciocinar. Alice era a única que parecia entender a situação e foi ela quem esbravejou com razão:
--- Vocês parecem inúteis. Ao invés de procurarem uma saída se limitam a comer e a dormir. Dessa forma chegaremos no tempo dos Dinossauros!
Mal disse isto e se ouviu o uivo de algum animal muito esquisito.
José, muito assustado observou:
--- É verdade Alice, dormimos demais esperando solução, temos é que encontra-la. Já estamos passando fome. Vamos analisar com atenção os desenhos.
Dizendo isto, entraram para observar os sinais. Eram vários círculos muitos bem delineados e cavados com profundidade na rocha. Em cada um existia símbolo impossível de entender. Frustrados retornaram para fora da pirâmide e o panorama era o mesmo, um imenso deserto.
Antonio, num desabafo, observou:
--- O que vamos fazer! Precisamos encontrar alimentos. O jeito é enfrentarmos, pelo menos agora não temos que descer ou subir, tudo é plano.
--- Peguemos nossas coisas e vamos em frente. Argumentou José.
Alice concordou, colocaram as mochilas e passaram a caminhar sobre a quente areia.
Estavam desanimados, mas queriam sobreviver, isto era o que importava.
Silenciosamente, passos inseguros, sede e fome os perturbavam. De repente, ruídos no céu. A esperança renasce.
--- Vejam, são aviões? Não acredito! Não parecem com os que conhecemos. Disse José.
--- Não importa! Façamos sinais! Respondeu Alice.
Indiferentes ao que seriam se puseram a acenar.
Não demorou em um dos veículos descer verticalmente e se posicionar bem ao lado deles. Uma porta se abriu e um jovem fez sinais para que entrassem.
Dentro da nave, pela janela, puderam ver um mundo diferente, com cidades majestosas. Cerca de meia hora depois, o avião se posicionou numa grande plataforma, onde uma construção fantástica se colocava à frente. Sempre por gestos, saíram e foram introduzidos para o interior. Várias pessoas os esperavam, nada entendiam, falavam num idioma incompreensível.
Em voz baixa, José segredou para os amigos:
--- Acho que desta vez entramos no futuro!
Um homem aparentando ser velho, vestido de branco, alto e com espessa barba, se aproximou deles e apontando para si, disse:
--- Efran.
Os visitantes, então fizeram o mesmo, dizendo cada um seus nomes.
Alice, que não agüentava mais a sede e fome, fez o sinal universal.
Foram então levados para um local onde puderam se fartar com exóticas iguarias e de água.
Passado algum tempo, Efran fez sinal para eles o acompanhar e assim acabaram entrando num laboratório. Embora com relutância cada um introduziu na cabeça um estranho capacete. O velho fez o mesmo e, depois de algum tempo foram liberados do quase incômodo objeto.
Ficaram surpresos ao perceberem que após aquela operação Efran passou a conversar normalmente com eles.
--- Há muito tempo esperávamos falar com alguém do futuro. Vimos tentando há muitos anos. Vocês são os primeiros a chegar.
Recuperados e não mais com surpresas, Alice interpelou:
--- Afinal estamos no passado ou no futuro?
--- Vocês estão exatamente 342.129.207 anos no passado de vocês e nós os trouxemos do futuro. Esperávamos que nada existisse nessa datação. É incrível! Vocês estão aqui!
José que possuía um conhecimento maior observou:
--- Surpreso estou eu, vendo aviões e tudo o que possuem, pensei estar no futuro. O interessante é que vocês são iguais a nós.
Efran pensou um pouco e respondeu:
--- Enquanto fazia a leitura do cérebro de vocês, observava a construção do mesmo naquele visor. Por mutações ou não, há uma boa diferença. O nosso possui uma fissura longitudinal e mais de quatorze circunvoluções, o que não ocorre no de vocês.
--- Fique sabendo Efran que acreditava que o homem tivesse no máximo 200.000 anos.
--- É um grande erro, quer queiramos ou não, somos seus ancestrais. Já colhemos todo o conhecimento que possuem e, honestamente apenas regrediram.
--- Teremos condições para voltarmos para nosso tempo.
--- Nosso sistema já delineou as coordenadas para voltarem após o tempo real de ausência, depois de retornarem não entrem novamente.
Ficarão um pouco de tempo aqui para conhecerem a vida de agora, depois os colocaremos dentro da pirâmide e lhe entregaremos um pequeno dispositivo que lhes indicará o momento de saírem.
--- Peço desculpas Efran, mas quero voltar imediatamente. Disse Antonio.
Alice também apoiou o marido e José não fez objeção.
--- Uma vez que é o desejo de vocês, se encaminhem para a saída. Uma nave os levará para o local. Peguem esta pequena caixa, quando a luz acender saiam imediatamente. Entregou a mesma ao José.
Após as despedidas, foram levados para a Pirâmide, com alguns suprimentos.
Os dias passavam e a luz da caixinha não acendia. Por sorte os suprimentos eram suficientes.
--- Será que o velho nos tapeou? Perguntou Alice.
--- Espero que não. Respondeu Antonio.
A maior parte do longo tempo, o silêncio era o mais comum. Cada um simplesmente refletia no que lhes acontecera. Temiam o que estava por vir e se agarravam as esperanças.
Alice já estava cansada, dia após dia e nada, sempre a mesma coisa, aquelas quatro paredes que pareciam prisão. Não conseguia conciliar o sono, de repente tudo clareou como se fosse um dia interno. A pequena lâmpada era fortíssima e ela gritou:
--- Acordem! Acordem! Vamos sair agora!
Num sobressalto José e Antônio se puseram de pé, colocaram as mochilas e ela fez o mesmo. Nem pegaram a caixa, saíram e estava escuro como breu, apenas poucas estrelas eram visualizadas no meio de nuvens.
--- Melhor esperarmos um pouco, voltemos para dentro! Disse Antonio.
--- Nunca! Esperemos aqui fora! Exclamou Alice, impaciente.
--- Vou buscar a caixa com a lâmpada. Observou José.
--- Não faça isto José, deixe lá!
--- Mas temos que mostrar isto!
--- Não José, não temos que mostrar nada. Fechemos sim bem a entrada desta gruta. Vocês dois tem mais força, coloquem a pedra tampando.
Obedecendo, fizeram o que ela mandara. Depois José disse:
--- Só espero que estejamos em nosso tempo.
Esperaram a alvorada e, muito felizes comemoraram a volta, entre risos e abraços.
--- Bem, vamos descer e entrar no carro. Disse Antonio.
Quando chegaram no local. Cadê o veículo?
--- Nossa! Não está aqui! Comentou José.
--- Bem, não importa, vamos a pé até à rodovia, lá pediremos carona.
E assim fizeram.
Quando entraram na cidade, a surpresa era geral.
Um amigo de José se aproximou e perguntou:
--- O que aconteceu? Fazem dois meses que estamos procurando vocês!
--- Dois meses! Exclamou Alice.
--- Bem, nos perdemos na mata. Respondeu José.
O amigo olhou desconfiado para José, mas não disse nada. Em seguida se distanciou.
--- Por que você mentiu José?
--- Antonio, vamos pensar primeiro no que dizer. Por ora façamos um acordo, vamos dizer que nos perdemos, só isto. Como vamos explicar tudo que passamos? Ninguém acreditará e cairemos no ridículo, por isto queria pegar a caixa com a luz. Perdemos a filmadora, máquinas fotográficas, enfim os registros que havíamos conseguido. Resumindo não temos nada para apoio de nossa história.

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