segunda-feira, 1 de junho de 2009

A Surpresa

As chuvas haviam castigado as estradas do Sul de Minas, crateras ficaram visíveis em todas as extensões das rodovias. Foi nessa época que resolvi fazer uma viagem até Poços de Caldas.
Estava irritado com os solavancos e com os estragos que provavelmente causavam ao meu veículo. Arrependido de ter saído de casa, procurava me acalmar. Estava nessa tensão, quando de repente, senti-me leve, as rodas pareciam não sofrer atrito, a minha frente descortinava-se uma muito larga rodovia com seis vias.
Atônito, sem saber o que estava acontecendo, continuei a dirigir. Pensava:
--- Talvez fizeram uma nova estrada. Faz tempo que não vou a Poços.
Meu carro era o mesmo. A gasolina estava na reserva, precisava encontrar um posto para abastecer.
Enquanto visualizava o panorama, começava a ficar assustado, construções bastante estranhas margeavam o caminho. Placas com nomes de lugares que nunca havia ouvido falar. O asfalto perfeito parecia um tapete macio. Autos passavam em incríveis velocidades. O que via era espantoso, portanto devia estar sonhando.
Por várias vezes bati no meu rosto. Olhava o velocímetro e via que estava marcando cento e vinte, no entanto todos me ultrapassavam.
Como não encontrava nenhuma construção que se parecesse com um Posto, parei no primeiro lugar mais ou menos semelhante.
Mal saíra do veículo, voltei apavorado. Ia ligar a chave, mas algo me alcançou. Uma bola no formato de um olho, levitando se aproximou e uma voz saindo dela me perguntou:
--- Deseja alguma coisa?
Não sabia o que dizer. Com medo, mas curioso, respondi com outras perguntas:
--- O que está acontecendo? Renovaram a estrada? É um sistema moderno que foi instalado?
--- Você está no sistema viário sul. Já foi criado a duzentos anos. O sistema não é moderno, é uma das poucas vias de superfície.
--- Preciso de gasolina, como posso obter?
--- Gasolina? Já foi extinta, só é utilizada como solvente nas indústrias.
--- Estou muito confuso. Disse-me que ha duzentos anos já existe a rodovia! Agora, que não existe mais gasolina! De onde vim ainda hoje, ela se encontra em qualquer lugar.
--- Não é possível. Existe algo errado. A única explicação é você ter entrado numa dobra do tempo e está agora em 2.316. É raro acontecer, mas é a terceira vez que isto ocorre neste lugar.
Mais calmo, conversando com aquilo como se fosse uma pessoa, acabava por dar conta do que havia acontecido. Então havia entrado no futuro, mas como?
Não importava o porquê, era a realidade, quase desmaiei quando percebi. Refeito do susto, perguntei ao olho:
--- O que aconteceu aos outros?
--- Que saiba, depois de algum tempo desapareceram simplesmente, talvez tenham voltado ao lugar de origem.
--- Meu dinheiro deve ser diferente agora, como vou sobreviver?
--- Procure na próxima cidade o CNA.
--- CNA? Não tem como conseguir mesmo um pouco de gasolina?
--- CNA quer dizer Centro Nacional de Assistência. Quanto a gasolina, temos um pouco para outros fins, vou abastecer seu veículo.
Quando saí daquele local, estava consciente do que havia acontecido, portanto mais nada me surpreenderia.
Não demorou, vislumbrei a grande metrópole. Acompanhei moderníssimos transportadores, seguindo-os até o centro, mas não rodei muito, logo um olho me mandou parar:
--- Você está poluindo o ambiente, não pode dirigir com seu carro.
Estava adivinhando. Parei num local que me pareceu próprio e continuei a pé. Perguntando para transeuntes cheguei ao CNA.
Entrei no local, pensava encontrar lotado, mas estava vazio. No piso vitrificado uma seta indicava a direção a tomar, a segui e acabei ficando frente a um visor. Logo uma voz me orientou:
--- Coloque a mão sobre a placa a sua direita.
Atendi, meu rosto apareceu no visor a minha frente.
E a voz que vinha daquele sistema continuou:
--- Conte toda sua história, sem omitir detalhes.
Contei tudo que havia me acontecido pensando que não iria receber qualquer ajuda.
Terminada a narrativa, apareceram pessoas para me receber. Sem mostrarem nenhuma perplexidade me fizeram passar por uma triagem completa, recebi dinheiro plástico, alimentação e um tipo de relógio para me comunicar com o Centro em caso de necessidade. Bem a vontade, conversei com aqueles atendentes da época, chegando a familiarizar-me com alguns deles. Foi então que fiquei sabendo: O Brasil liderava as Nações, éramos o País mais rico, a pobreza praticamente não existia. Viajávamos pelo espaço, trazíamos minérios de asteróides e possuíamos naves que se dirigiam para as estrelas. Os Estados Unidos e a Europa haviam entrado em decadência devido a preconceitos internos. A união racial do nosso dera certo, tanto que o próprio centro raramente era utilizado.
Naqueles dias vivi numa época ainda não sonhada, ganhara uma segurança muito grande.
É verdade que ninguém me dá fé quanto faço esta narrativa, mas a realidade é que passei por tal experiência.
Como voltei?
Estava já me habituando com a estranha modernidade, quando certo dia resolvi procurar meu carro. Encontrei-o no mesmo local. Foi apenas entrar dentro dele e colocar a mão sobre o volante para tudo se dissolver. Vi-me novamente na estrada esburacada e muita conhecida, no mesmo local onde tudo havia mudado.
Não continuei o caminho, retornei o carro e voltei para minha casa. Até hoje não compreendo o que me aconteceu. Sei apenas que estive por algum tempo no futuro, disto tenho certeza, porque ainda guardo o relógio que ganhei do CNA.

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