terça-feira, 23 de junho de 2009

Aula de História - Conto


O professor Jacinto possuía um andar rápido, olhar vivo, baixo e relativamente gordo, solteirão, muito alegre, mas exigente em suas aulas. Vestia-se à antiga e quase sempre fazia parte nas chacotas dos jovens. Lecionava História Geral, ora numa classe ora noutra. Possuía uma energia incomum e não permitia nenhum ruído durante seu trabalho.
Depois de anos transmitindo seus conhecimentos cansara de explicar a matéria oficial.
Certo dia entrou resoluto na sala da oitava série. A algazarra de segundos antes deu lugar ao habitual silêncio. Dirigiu-se para sua mesa, sentou-se, retirou de sua pasta os costumeiros livros e jogou-os ao chão.
Os jovens, apreensivos, observaram o ato e ficaram atônitos. Afinal, que pretendia com aquilo?
Em seguida, levantou-se. Foi para o quadro negro, virou-se para a classe e disse:
--- Quero saber de vocês, com toda sinceridade, o que acham das aulas de história. Não precisam ter qualquer receio, quero pura e simplesmente a opinião real, e esperou.
Ricardo, que era bastante extrovertido e querendo se mostrar para os colegas, logo levantou o braço e respondeu:
--- Uma chatice professor.
Jacinto, em seguida, vendo a apreensão geral, continuou:
--- Não se preocupem, era isto que queria ouvir. Realmente até eu não suporto mais repetir os mesmos fatos, portanto, os que partilham da opinião do Ricardo levantem os braços.
Não demorou em que todos apoiassem o colega. Apenas Jandira, a primeira da classe se posicionou ao contrário e tão logo os demais abaixaram os braços, ela levantou o seu:
--- Não concordo professor, isto é um absurdo. Afinal temos que conhecer tudo sobre nossos ancestrais para podermos continuar e melhorar a vida.
--- Certíssimo Jandira e é justamente o que deve ser feito.
Ricardo ouvindo o professor concordar levantou-se e observou:
--- Não estou entendendo. Afinal...
Jacinto não esperou o rapaz terminar:
--- Escutem todos, hoje decidi dar uma aula diferente, falar de uma história que não está escrita, que não segue o padrão oficial. Será mais uma conversa com vocês, portanto quero que façam perguntas.
Um murmúrio e depois um início de pequeno tumulto teve começo, coisa que de imediato não aprovou, chamou a atenção e a quietude voltou.
Alice que se sentava na última fileira, junto com os baderneiros, timidamente perguntou:
--- Professor, afinal o que quer nos dizer?
---Quero dizer que está acontecendo muitas coisas erradas, que precisamos parar para pensar. A sociedade está regredindo.
--- Não concordo com isto. Disse José Carlos, considerado um dos mais inteligentes da turma, continuando: Como pode dizer uma coisa destas quando dominamos uma tecnologia sem precedentes?
--- Ah meu jovem, precisa viver muito e pesquisar. Tecnologia não quer dizer desenvolvimento do homem. Por acaso pensa que esta fase humana é de agora?
--- Lógico professor!
--- Não, a Terra esteve pronta para habitação há um bilhão de anos ou talvez mais; não serão irrisórios quinze mil anos que conhecemos da história que servirão de parâmetros para afirmações deste tipo.
Por comodismo a ciência oficial, principalmente a arqueologia, deixam de lado tudo aquilo que não podem explicar. Tenho certeza, a história humana possui muitos elos com o remoto passado. Muitos achados inexplicáveis permanecem sem explicações lógicas. Objetos incrustados em pedras, martelo, vaso, etc., ou ainda ruínas gigantescas com pedras unidas e ligadas por processos de altíssima tecnologia. Pedras tão grandes que até hoje fogem da compreensão de como puderam ser colocadas nos lugares onde se encontram. Fóssil de mão humana, bolas de pedras exatas em Costa Rica, pirâmides espalhadas em todo planeta, crânios de cristais e muitas outras coisas que estão em museus.
Milhares, milhões ou até bilhões de anos de história estão sob nossos pés, soterrada por cataclismos ou guerras. Evidência até de conflitos atômicos existem, pois em alguns lugares a vitrificação permanece.
--- Tudo isto é utopia. Observou a aluna Gilda.
--- Será mesmo Gilda? Acredite, são realidades palpáveis descartadas do ensino. Alguns escritores buscam em extraterrestres as justificativas e desperdiçam hipóteses. Buscam no sensacionalismo imaginário evidenciar acontecimentos que também não podem explicar. No meu modo de entender, qualquer evidência de vida na remota antiguidade teve origem em nosso próprio planeta.
--- Mas os UFOS existem. Argumentou Júlio, que estava bem próximo do professor.
--- Júlio, a distância entre as estrelas é tão grande que a mais próxima de nós está a 4,5 anos luz e naves com velocidade da luz, isto sim me parece utopia. Para viajar pelo cosmos os seres teriam de viver gerações e gerações dentro de gigantescas naves, o que também não é impossível. Poderia ocorrer quando um planeta estivesse no fim e digo mais, poderia até ser o motivo de existirmos. No entanto, partilho mais da evolução natural de nossa espécie.
--- Mas professor se é como diz, alguma coisa deveria ter sobrado em nossa evolução social e não percebo nada disto. Toda nossa cultura vem sendo criada principalmente nos últimos séculos. Comentou Jandira.
--- Digo que não Jandira e afirmo que estamos regredindo. O que você acha da liberalidade sexual?
A pergunta surpreendeu a moça, que não esperava a radical mudança de assunto.
--- Ora professor é o mundo de hoje. Os conceitos antigos vão sendo superados.
Todos aplaudiram a resposta da jovem e pensaram: - queremos ver o que o professor vai responder. Mas Jacinto havia provocado propositalmente a situação. Disse então:
--- Nem todos os conceitos que consideramos antigos foram criados na presente civilização. Resíduos de experiências anteriores estão nos livros sagrados e até na cultura indígena.
--- Mas professor, isto faz parte de religião e não da história. Continuou Jandira.
--- Engano seu: a bíblia e outros livros da antiguidade citam normas de vida, de higiene, de saúde e de sabedoria. Muitos dos pecados são hoje banalizados, principalmente com relação a sexo. Pecado quer dizer uma proibição tal qual as leis que regem as ações dos povos.
Os interessados financeiramente em lucros a qualquer custo tramam e tornam a mídia uma forma de alterar o modo de vida transmitido pelos antepassados. Falo dos que viveram a trinta ou cem mil anos, cuja evolução tecnológica foi superior a existente.
--- Mas qual a prova disto professor? Perguntou o aluno Júlio.
--- Ora Júlio será preciso mais prova que a AIDS e a possibilidade do surgimento de vírus mais terríveis que poderão dizimar povos?
Quando a humanidade seguia princípios mais rígidos, a doença era desconhecida. Talvez Sodoma e Gomorra tidas como focos de promiscuidades tenham sido destruídas, ou melhor, desintegradas por bombas atômicas para tentarem impedir a proliferação de males oriundos de um povo desrespeitador das normas da vida existente.
A finalidade do sexo é a procriação tal qual os mamíferos em geral.
Logo após o último comentário, Jacinto olhou o relógio, e continuou:
Por hoje nosso tempo esgotou, amanhã continuarei, tenho ainda muito a falar sobre nossos remotíssimos antepassados. Entre os assuntos que escolhi: as construções gigantescas e os povos gigantes que as ergueram, os sinais no solo que somente são vistos de avião, as lendas indianas que hoje fazem sentido e o porque da extinção das civilizações anteriores.
Em tempo, estudem em casa a vida de Tiradentes. Haverá apenas mais uma aula como a de hoje, depois voltaremos à rotina.
O sinal soou e o professor retirou-se.

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