segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Vida no Universo

José Sidério um astronauta do século XXII dirigia-se para o centro de lançamentos na Base de Alcântara. Seria o primeiro homem só a se aventurar pelo cosmos.
A astronave estava pronta, a carcaça era de cerâmica tão forte que nenhum calor romperia a estrutura. Um motor fotônico permitiria que alcançasse velocidade próxima da luz. O compartimento onde se alojaria, um invólucro de hibernação somente se abriria quando chegasse ao destino.
A estrela programada, denominada H23, estava há vinte e três anos luz, onde, um terceiro planeta aparentemente semelhante à Terra a orbitava.
Sidério era jovem, beirava os trinta, cabelos castanhos, estatura média, olhos vivos sempre mantendo mistério. Não entendia o mundo em que vivia. Violências e guerras pareciam fazer parte da humanidade. Para fazer sua grande viajem abandonara todos os vínculos pessoais. Sabia perfeitamente que não retornaria. Quando lá chegasse, suas mensagens levariam tanto tempo para chegar que o mundo que deixaria seria outro.
Na Base um grupo de cientistas o esperava. O grande momento aproximava-se. O chefe da equipe Dr. Cervantes foi ao encontro da cobaia que já estava vestido e lhe disse:
--- Sidério, ainda há tempo para que desista. Depois que entrar no cilindro não haverá mais condição de retorno. Retirou de uma pasta um documento, leu o conteúdo e continuou: a sua autenticação digital retira de nós toda responsabilidade sobre sua vida.
O jovem não pensou duas vezes, pegou a placa, imprimiu a assinatura e confirmou:
--- Vou nesta viagem porque é a coisa que mais quero na vida.
Despedindo-se de cada um dos presentes, entrou no transportador, deitou-se dentro do cilindro que apenas comportava seu corpo e acionou o mecanismo de suspensão vital. Em seqüência a porta de entrada da nave lacrou-se e imediatamente se posicionou para o início da jornada.
Os cientistas retiraram-se do local e tomaram seus postos para a largada definitiva. Os controles foram ligados e o objeto logo alcançou a estratosfera, em seguida, o comando de velocidade máxima fê-lo desaparecer na imensidão do infinito.
Os anos se passaram. Da mesma forma que um raio de luz, a nave ganhou o vazio espacial até que a estrela dimensionada no computador de bordo marcou o fim da hibernação. Automaticamente como se fosse um ovo, o cilindro se partiu e Sidério acordou tão bem quanto do momento em que entrara dentro dele. Não se lembrava de ter tido qualquer sonho, apenas sabia que estava chegando ao destino. Era a estrela H23 que estava a frente, parecida com o sol, do mesmo tamanho. José sabia que era a vez dele. Liberando-se da cama que lhe fora quase eterna assumiria a cabina de controles, dali para frente era ele quem comandaria.
Tal como se tivesse acordado após uma noite de sono normal, despiu-se dos equipamentos e dirigiu-se ao compartimento que servia de banheiro. Nada sentia de anormal, o espelho refletia sua imagem idêntica à do instante quando entrara no cilindro. Apenas pequenas dormências em alguns pontos do corpo, onde algumas manchas vermelhas assinalavam pontos de contato dos equipamentos embutidos na câmara onde permanecera por mais de trinta anos.
Nada lhe era novidade, portanto nenhum medo lhe ocorria. Deixando o local, seguiu por um corredor, passou pela mesa de alimentação, apertou alguns botões e logo sorveu um bom café. Só após um bom relaxamento é que se sentou na cadeira para controlar a nave. Acionou vários botões e uma tela se abriu a sua frente. Leu os registros e percebeu que um planeta começava a tomar forma tendo por fundo um panorama escuro, mas estrelado. Aumentou a imagem e uma bola azulada encheu a tela. Nuvens, continentes e mares refletiam a própria Terra. Assustado, pensou:
--- Será que ainda estou no meu planeta? Mas logo esta idéia se dissipou, existiam continentes, mas diferentes.
Não havia erro, estava num mundo semelhante. Enquanto a nave se dirigia para orbitar, transmitia tudo que estava presenciando para a Terra, mas continuava a deduzir:
--- Só falta existir habitantes iguais a mim.
O que José não sabia era que sua nave fora detectada e seguida. Dois dias terrestres passaram-se e então entrou em órbita, primeiro passo antes de descer. Qual não foi sua surpresa ao quase colidir com satélites artificiais.
--- Nossa! É habitado e evoluído. Falou para si mesmo.
Estava refletindo ainda quando sua tela apresentou grandes naves aproximando-se. Uma delas vinha como a bater no pequeno engenho terrestre. Sidério possuía armas, poderia acioná-las, mas precavido diante da frota que o envolvia, deu-se por vencido. Assim, viu-se levado para a superfície.
Não era dessa forma que queria entrar no planeta, mas de qualquer forma lá estava. Não esperou arrombarem seu veículo. Sem vestir qualquer traje espacial abriu a escotilha que pelo lado externo sequer era percebida.
Sem surpreender-se mais, viu um grupamento de soldados, formado por homens e mulheres que usando armas apontavam-nas para ele.
Era um alienígena naquele mundo e como tal alvo da atenção por muito tempo. Com o passar dos dias e anos acabou se integrando à sociedade existente.
Passado vinte e três anos, na Terra, os diversos centros de rastreamento existentes registravam as mensagens de José Sidério. Um alvoroço na imprensa, era a prova decisiva da existência humana no universo. Após os alardes tudo ficou silencioso. Por mais cinco anos nenhum som daquela área do espaço foi recebido, mas certo dia a voz clara do terrestre voltou. Após cumprimentar as nações passou a relatar sobre sua nova vida:
--- Se o paraíso existe eu estou nele. A enorme coincidência é que as pessoas daqui não são diferentes. Fui adotado e faço parte da comunidade global. Possuem uma avançadíssima tecnologia, tanto que não encontraram dificuldade em montarem um centro de comunicação especial para trocarem informações com a Terra. Esta é a primeira transmissão e a inauguração coube a mim.
O nome do planeta é Visuno, possui duas luas, os dias também são de 24 horas e o ano tem 14 meses de 25 dias cada um. Como as transmissões vão continuar por muito tempo, outros detalhes serão fornecidos por alguns cientistas que aprenderam a minha língua. No entanto, neste primeiro relatório informo-lhes que me casei e que possuo dois lindos filhos.
A grande diferença do viver aqui está na quase inexistência de conflitos. Guerra é um termo desconhecido para eles da mesma forma que outros tipos de violência. São muitos os países e acreditem em nenhum deles existem penitenciárias. Uma inteligência quase uniforme mantém os cidadãos dentro de um padrão invejável de comportamento, sem, no entanto, haver nenhuma perda de liberdade. São bilhões trabalhando, ganhando, consumindo e vivendo dignamente. O progresso é uma constante sem fim. A alegria faz parte do cotidiano.
Aguardaremos suas mensagens, nossos receptores estão prontos e a faixa de freqüência é a mesma da nave que me trouxe. Por ora agradeço e vou passar a palavra para Gorek que continuará o contato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário