quinta-feira, 4 de junho de 2009

Uma Tragédia Côsmica


PRIMEIRA PARTE

Um grande cometa aproximava-se de Grison, planeta que orbitava a estrela Magirus situado na constelação Ornila.
Os cientistas foram totalmente surpreendidos, não havia nenhuma previsão para o fenômeno. Fora uma terrível falha e já não importava de quem teria sido, pois efetuados os cálculos observou-se que o astro vinha na direção daquele mundo.
Horror e desespero começaram nos centros científicos, não havia tempo nem naves suficientes para retirada dos bilhões de habitantes. As grandes espaçonaves estavam em várias expedições e quando voltassem nada mais encontrariam.
Pelo tamanho do núcleo nenhuma arma poderia destruí-lo, era o fim. Nem o fato de poderem viajar entre as estrelas resolveria a situação. Transportadores espaciais menores existentes nos diversos países, também não resolveria. Mesmo que houvesse um intensivo transporte de parte da população para planetas vizinhos não adiantaria, nenhum deles oferecia condições de sobrevivência e por outro lado o impacto seria muito grande e envolveria todo o sistema.
Havia muito pouco tempo para construções de grandes astronaves. De qualquer forma, tudo fariam para que dez enormes espaçonaves que já estavam sendo fabricadas em órbita tivessem os espaços aumentados e ficassem prontas antes do fim.
O tempo foi passando e nenhuma solução melhor foi encontrada.
Enquanto esperavam o desenlace, transportadores foram transferindo uma parcela dos habitantes para os imensos navios.
Embora o trabalho da retirada estivesse em segredo, levas de pessoas desesperadas buscavam até destruir os centros de controles. Queriam entrar nas naves que levavam os grupos privilegiados.
A triagem se processara sigilosamente, a preferência fora para jovens, razão dos embarques.
Cinco mil homens, mulheres e crianças entraram em cada navio estelar. No total, cinqüenta mil estariam salvos. Assim, sem divulgação as cosmonaves deixaram o planeta seguindo rumos diferentes, conforme orientações da base.
Na superfície o caos se instalou, toda organização existente sucumbiu. Suicídios tornaram-se rotina, fora infernal os últimos dias, até que todo pavor foi esmagado pelo enorme astro, muito maior que o planeta atingido.

SEGUNDA PARTE

Viagens interplanetárias não traduziam nenhuma preocupação para as pessoas a bordo.
A infra-estrutura interna favorecia permanência por tempo indeterminado, assim, mesmo que não pudessem descer em um dos mundos por algum motivo, poderiam seguir para outro ou até mesmo continuarem no espaço.
Nos registros haviam vários planetas habitados ou em condições para a vida, catalogados, propiciando escolherem o destino.
O navio estelar Arcano sob o comando de Agastor rumou para a Terra.
Há muito haviam descoberto um sistema de transporte sem entrarem no espaço-tempo, chamada de trajetória instantânea, isto é, o tempo transcorrido internamente não diferenciava em relação ao transcorrido nos astros. Não corriam os riscos de encontrarem tudo modificado ao retornarem a um determinado planeta. Quando em Grison, não precisavam esperar séculos aguardando a volta das expedições.
A escolha da Terra fora proposital devido à semelhança com o lugar de origem, inclusive habitado por seres iguais a eles. No entanto, nos registros constava que os povos eram belicosos, amantes de guerras, sendo desaconselhável a convivência. Mais ainda, numa das incursões de conhecimento feitas, após detectarem que já haviam feito uso nuclear, deixaram mensagens escritas em idiomas locais que não foram levadas a sério. Os portadores foram dados como visionários ou loucos. Um contato mais amplo não era permitido pelas normas das expedições. Mas como a situação era diferente, tal aproximação precisava ser tentada. Afinal, Grison em tempos remotos também fora igual.
Assim, na busca definitiva de um lugar para ficarem, a Terra era viável, no entanto poderiam, caso resolvessem, optar por Atam de civilização primitiva e pequena. A diferença é que o astro não detém regularidade climática, mas permite uma existência quase normal.
O tempo passou e Arcano seguia as trajetórias reduzindo as incríveis distâncias. Cinco anos haviam passado, a angústia ainda perdurava nos semblantes. A esperança mantinha unido o grande grupo.
No modo de comunicação interna a informação de que se aproximavam do objetivo passou a ser freqüente.
Não demorou, o sistema solar se fez presente e antes de alcançá-lo Agastor convocou a todos para explicações. Acompanhado do conselho e de cientistas das diversas áreas passou a definir a situação:
--- Estamos chegando na Terra e não vamos entrar no planeta, estacionarei nesta região e analisaremos as condições de podermos nos firmar em solo. Temos todo tipo de informação colhida através dos meios de comunicação do próprio planeta. Mas isto não é o suficiente, queremos saber da possibilidade real de convívio em solo, ou melhor, da experiência física junto à população. Assim, serão distribuídos cinqüenta casais em diversas partes do globo e dependendo dos relatórios que trouxerem serão estudados as formas de nossa ida para lá.
Após o comunicado, o comandante pediu a assessores as providências.
Algum tempo depois, os casais foram escolhidos e instruídos. Deveriam se portar como qualquer terráqueo. Visitariam muitas regiões, para isto receberam chips de línguas cirurgicamente implantados. Roupas que se adequariam e grandes quantidades de ouro. Até documentos de identidade foram confeccionados. Por observação visual de comportamento foram treinados nas diversas formas de presença diante das várias raças e costumes.
Tudo acertado nos mínimos detalhes, dois a dois, os casais foram deixados em várias partes do mundo através de naves, sem qualquer conhecimento dos terráqueos.
Passaram totalmente desapercebidos, venderam ouro e obtiveram moedas de cada lugar, o resto não seria difícil, apenas observarem e anotarem os fatos.
Estiveram em todos os lugares possíveis, áreas pobres, miseráveis e ricas. Observaram a opulência, a submissão, a arrogância e todas as atitudes. Estiveram junto a grupos extremistas radicais, junto a aproveitadores de situação e políticos. Viram muitas coisas que não gostariam de terem visto. Até o sensacionalismo exagerado tendo por objetivo escuso o dinheiro. As trapaças, os abusos, as intolerâncias sem motivo, as brigas, a violência, a impunidade, muitas bandeiras de paz sem efeito, tudo registrado.
Depois de um mês nas diversas sociedades do mundo, um enorme relatório estava pronto.
Da mesma forma como chegaram foram recolhidos sem que ninguém da Terra ficasse sabendo.
De volta à astronave, todos perceberam a expressão de desaponto dos enviados.
Dois dias após, analisadas as informações colhidas, Agastor convocou reunião geral e em poucas palavras resumiu:
--- Os terrestres não conseguem uma uniformidade de convívio, estão sempre propensos à violência para a resolução das questões. No caminho que seguem acabarão provocando a própria destruição. Gastam o que não podem na fabricação de armas e deixam povos de regiões inteiras viverem na mais cruel miséria. Especificar aqui as coisas absurdas do relatório tomaria um tempo inútil, pois nossa viagem para a Terra termina aqui.
Um murmúrio provocado pela perda de esperança com relação ao primeiro objetivo tomou conta de todos, até que Shadan um dos membros do conselho inquiriu:
--- Mas deve existir alguma região boa para descermos, observei a existência de muitas áreas que ainda não foram ocupadas.
--- Não há, de acordo com as informações, tais áreas são protegidas por aparatos militares.
Vou repetir, o grande problema é falta de segurança. Há também risco de conflitos nucleares.
Shadan, antes de vir aqui mostrar a nossa decisão, o conselho foi reunido e você fez parte, embora seu voto tivesse sido contra ficou decidido seguirmos para Atam. E assim será, é a nossa melhor opção. Todos sabem que iremos encontrar um mundo vazio. Teremos muitas dificuldades, mas poderemos construir uma nova civilização e não dependeremos de uma já existente.
Depois de oferecer maiores explicações, deu ordem para que a astronave mudasse de direção e seguisse para o novo destino.

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