terça-feira, 23 de junho de 2009

A Gruta Desconhecida - Conto

Luiz, curioso, jovem, ágil e sem medo, gostava de desvendar mistérios. Morava em Jatuiba, cidade cercada de montanhas.
Desde criança ouvia falar da Pedra Branca, uma enorme rocha incrustada no pico da montanha mais alta. O comentário era de que sobre a mesma existiam dois sulcos paralelos e entre eles uma cova com água e que esta nunca acabava. Ainda, que na parte mais baixa existia uma entrada que dava para um grande salão. Mais ainda, que toda sujeira que dentro se fizesse, no dia seguinte desaparecia. Também que penetrando por uma outra abertura interna havia um precipício tão fundo que uma pedra jogada nele não se ouvia o barulho de chegar ao fundo.
Resolveu organizar uma expedição. Entre os vários amigos, conseguiu formar um grupo de vinte rapazes dispostos a trazerem a tona a verdade sobre o local.
Filmadoras, máquinas fotográficas, chapéus com lanternas, muita corda, roupas apropriadas, alimentos e tudo o que fosse necessário para um resultado satisfatório foi providenciado.
Antes de partirem reuniram-se na casa de Alberto que conhecia arqueologia, era geólogo recém-formado. Um dos mais entusiasmado com a aventura. Todo material fora depositado na garagem de sua casa.
Para que a pesquisa fosse realizada com seriedade, os integrantes foram encarregados de algumas funções. Assim, Eurico cuidaria da alimentação, José Carlos e Chico das cordas e roupas, Marcos, Lúcio e Gustavo dos capacetes com lanternas e dos bujões a gás que serviriam para iluminação, Porfírio e Gino dos equipamentos para filmagem e fotos, Joaquim e Júlio das ferramentas e assim todos os demais também possuíam uma tarefa definida. O Luiz, autor da idéia, foi eleito coordenador geral.
Aquela reunião foi a última antes da partida, visto que cinco dias após todos se instalaram em quatro carros e rumaram para a serra da Pedra Branca.
Cerca de uma hora depois saíram do asfalto e entraram num caminho de terra muito ruim, solavancos é que não faltavam. Levou tempo para vencerem dez quilômetros e chegarem próximos à montanha.
Deixaram os carros e seguindo regras predeterminadas continuaram a pé pela trilha, muito íngreme, na direção do pico.
Quando começaram a andar sobre o platô estavam esgotados.
Descansaram um pouco, depois perceberam que ainda havia tempo para chegarem perto da famosa pedra. Alcançaram-na com um pouco mais de esforço.
Era enorme e completava o formato da serra. Logo viram ser verdadeiras as histórias dos sulcos, bastante visíveis.
Nessa altura já não agüentavam mais. Escalá-la ficou fora de cogitação. Foi quando Alberto, ainda muito disposto encontrou a abertura na rocha e observou:
--- Luiz, o que você acha de entrarmos agora para vermos se há possibilidade de dormirmos lá dentro?
--- É uma boa idéia, afinal viemos aqui para pesquisá-la.
Todos concordaram em entrar. Os bujões transformados em lampiões foram levados e ligados.
Não foi bem uma surpresa, mas realmente o local era grande e quadrado. Limpo, até parecia preparado para eles.
Comentando ser tranqüilo, que nada impedia de acamparem lá dentro, Luiz convidou a todos para descansarem e escolherem locais para dormir. Na oportunidade disse:
--- Vamos ver se amanhã tudo estará limpo?
Naquele primeiro dia, apenas um rádio que levaram quebrava o silêncio. Ninguém conseguia fazer outra coisa a não ser alimentar e descansar da fatigante caminhada.
Passaram uma noite sem mais novidades. De manhã a primeira coisa que foram verificar foi se a sujeira que haviam feito havia desaparecido.
Que decepção! Precisaram eles mesmos retirar os entulhos e promoverem uma certa ordem.
Todos acordados e dispostos à grande pesquisa de suas vidas, ouviram as palavras do coordenador:
--- Bem gente, até aqui tudo parece ter sido um sucesso, agora vamos procurar o tal precipício.
Verificando o local perceberam que não havia só uma fenda para pesquisarem, no total eram cinco “portas”.
Alberto tomou a frente, colocou seu capacete, acendeu a lanterna e junto com o grupo encarregado das filmagens optou pela primeira do lado esquerdo, mas logo voltou, dizendo não ter encontrado nada interessante.
Numa segunda, a mesma coisa.
A terceira, difícil de ser vista, precisava ser quebrada para permitir o acesso. O geólogo não pensou duas vezes, com uma marreta abriu a passagem. Feito isto, embrenhou-se por algum tempo e depois voltou entusiasmado.
Os que não entraram logo perguntaram:
--- O que foi Alberto, encontrou o abismo?
--- Não, mas encontrei algo muito mais interessante, venham comigo. Tragam toda iluminação, acho que lá dentro tem algo muito importante.
Iluminado o cômodo viram inúmeros desenhos talhados nas paredes com escritas desconhecidas junto a estalactites que desciam do teto.
Luiz perguntou ao geólogo:
--- Mas que língua será esta?
--- Parece sânscrito, tudo o que estamos encontrando refere-se a um passado remotíssimo. E tem muita coisa aqui, veja esta pilha de lascas quadriculadas, todas com desenhos, parece até que este lugar foi utilizado como uma espécie de biblioteca.
--- Será que tem relação com as pirâmides? Perguntou Júlio.
--- Não, parece ser muito mais antigo.
--- Então tudo isto deve valer uma fortuna. Disse Luiz.
--- Luiz a única coisa que podemos fazer é tirar muitas fotos de tudo, de cada detalhe para estudarmos depois. Quanto ao achado temos que comunicar ao governo e não fazermos qualquer alarde até que as autoridades venham. Pelo que percebi o que encontramos é sério demais. Não devemos revelar a ninguém. Inclusive quando sairmos colocaremos pedras tapando a entrada. Acredite, o que estamos vendo é provavelmente a maior descoberta arqueológica de todos os tempos. Temos que nos preparar para a imprensa e para as entrevistas.
Luiz entendeu o amigo e dirigindo-se a todos:
--- Viemos buscar uma coisa e achamos outra. Não podemos levar nenhuma das provas encontrada, tudo tem que ficar da mesma forma que estavam. Para concluirmos nossa expedição vamos apenas visitar rapidamente as outras duas portas e se nada encontrarmos voltaremos.
Na entrada seguinte, havia sim um abismo, mas sem interesse para exploração. Na última também nada que chamasse a atenção.
O grupo desceu a serra e rumaram para a cidade e conforme haviam combinado não disseram a ninguém sobre a descoberta. Quatro dias após, as fotos estavam reveladas e todos foram para a casa de Alberto.
Passaram os filmes na TV e as fotos correram de mão em mão, centenas delas. Durante todo o tempo, o entendimento parecia ser igual e o silêncio dominava. Foi Marcos o primeiro a quebrá-lo:
--- Não entendo nada de arqueologia, mas as fotos mostram uma história completa. Só não compreendo porque deixaram tudo isto desenhados em pedra, deviam ter uma tecnologia muito grande.
Foi Luiz quem respondeu:
--- Muito simples Marcos, qualquer outra forma de mensagem desaparece com o tempo, enquanto que, a pedra conserva.
--- Certo Luiz, as únicas mensagens que restaram dos tempos remotos estão nas rochas. O autor ou autores sabiam disto e logicamente queriam que um dia a verdade fosse descoberta. Falou Alberto.
--- Você consegue, nem que seja mais ou menos, nos fornecer uma idéia de tudo isto? Observou Luiz.
--- Bem, vamos colocar as fotos na ordem que as pedras estavam dispostas.
Vejam: a primeira delas mostra um planeta e o sol. Várias outras mostram um cotidiano, pessoas passeando, casais, casas, crianças, sol, mar, tudo num ambiente feliz. Em seguida vemos desenhos de agressões, de guerra, de aviões e até de naves espaciais. Em grande quantidade explosões de bombas cada vez maiores, por fim o planeta explodindo, depois os pedaços soltos e o sol. Numa das últimas um planeta com um satélite e o sol, obviamente a Terra.
Portanto, o que encontramos foi a história de um mundo igual ao nosso, que existiu entre Marte e Júpiter numa época em que o mesmo se encontrava no que é chamado anel da vida.
Gustavo ainda não havia participado da conversa e na primeira oportunidade disse:
--- Não compartilho de avisarmos as autoridades federais. É comum nesses casos esconderem a verdade o que nos obrigaria a ficarmos calados ou desacreditados se passássemos adiante tais informações. Não seria a primeira vez que este tipo de coisa acontece. Por outro lado, garanto-lhes que nossa descoberta não seja sensacional para muitos setores da ciência.
No interesse do desenvolvimento nuclear existe uma oposição a tudo aquilo que venha se colocar contra tal propósito. Poderíamos entrar em contato com uma TV e deixar para ela a incumbência de avisar o governo.
Depois deste comentário de Gustavo, todos se preocuparam. Colocada em votação a idéia, foi escolhido procurarem a televisão.
Antes porem, Alberto concluiu:
--- Com relação à nossa descoberta, particularmente observava tais fatos com muito ceticismo, no entanto agora sou obrigado a aceitá-los. Para ilustrar: encontrei na Internet algo sobre o assunto, no artigo que li diz o seguinte: “A descoberta de certos meteoritos no deserto de Karakum levou-os à conclusão de que Phaeton (o planeta em questão) como foi batizado não apenas existiu, mas desintegrou-se devido a explosões termonucleares talvez produzidas por uma civilização avançada”. (1)
A dedução a que cientistas chegaram fica agora, diante de nossos achados confirmada.
A favor de Gustavo há outra coisa, poderemos vender nossa descoberta para efeito de publicação, ganharemos um bom dinheiro.
Todos aplaudiram o posicionamento do geólogo.

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