terça-feira, 23 de junho de 2009

Retorno a Origem

A população da cidade espacial representava um grupo especial de humanos cuja única opção era a vida dentro da grande nave.
Sobreviventes da maior guerra que assolara o planeta, para não dizer desertores, partiram em fuga, sem destino, numa viajem estelar sem rumo.
Os habitantes que participaram de batalhas não mais existiam e os descendentes diretos estavam velhos. Os filhos assumiram comandos operacionais procurando sanar falhas em equipamentos, organizando aprendizado infantil e adulto, cuidando do sistema alimentar e de todo o complexo interno.
Sabiam que não poderiam permanecer eternamente dentro do navio, mais cedo ou mais tarde teriam que descer em algum mundo que lhes dessem condições de vida. Pelo registro, já haviam alcançado quatro sistemas, mas em nenhum deles um planeta semelhante à Terra.
Em dois mundos o clima favorecia, mas a pressão era insuportável. Num terceiro havia uma superpopulação adiantadíssima de seres muito estranhos. No último o estágio era muito primitivo. Apenas retiraram elementos essenciais para manutenção dos equipamentos.
Sunil jovem e capacitadíssimo, estava no comando geral por merecimento. Conhecia cada palmo da astronave e todo o processo de funcionamento. Sobressaia-se também pelo seu porte atlético.
A cidade vinha apresentando problemas cada vez mais difíceis de solucionar. Os habitantes dobraram e os processos químicos de manutenção alimentar estavam deficientes. Revoltas em alguns setores faziam parte da rotina. Também pudera, as normas internas de controle da natalidade e de cuidados essenciais não vinham sendo atendidas. Quatro mil homens, mulheres e crianças tomavam todos os espaços existentes. Uma pequena nação que não podia expandir.
O comandante precisava organizar a situação. Mas como, o próximo sistema, apesar de cobrirem as distâncias acima da velocidade da luz, ainda demoraria muito para ser atingido. E se não existisse condição de acomodação como acontecera antes?
Sunil estava tenso maldizendo a existência. Fatimah sua assessora imediata, vendo o rapaz naquela situação resolveu interferir. Encontrando-o diante do sistema de análises resolveu dar sua opinião:
--- Em vez de ficar irritado, vamos pensar juntos para resolvermos, tenho certeza de que encontraremos uma saída. Tal como você não consigo dormir.
O rapaz ouviu a moça e fez um ar de quase intolerância, em seguida lhe disse:
--- Então o que devo fazer? Isto aqui está preste a explodir.
--- Bem, não querendo ditar atitudes, penso que não devemos continuar esta viagem sem destino. O rastreamento não funciona na velocidade em que estamos, portanto não há possibilidade de sabermos se há ou não condições para a vida no próximo sol.
--- Ora Fatimah! Devemos então parar e esperar nosso fim?
--- O que é isto Sunil? Você é considerado o mais inteligente de bordo e esta é sua resposta?
Simplesmente deveremos voltar para nossa origem. Lá muitos milhares de anos já se passaram e a Terra parece ser nosso único lugar.
O jovem pensou, voltou a examinar os registros antigos e depois chamou a moça e lhe disse:
--- Tem razão Fatimah. Não sabemos o que vamos encontrar, mas realmente é o melhor caminho. Levará um longo tempo para a volta, mas com grande possibilidade de dar certo. Chame o conselho, não vou esperar um minuto mais. Está decidido, nosso destino será a Terra.
Fatimah saiu apressadamente e convocou os lideres para uma reunião de emergência.
Na sala própria, sete homens e cinco mulheres ocuparam seus lugares junto à grande mesa e aguardaram o comando.
Não demorou a que Sunil e Fatimah chegassem.
Frente ao grupo, o comandante expôs a proposta. Em seguida os debates se sucederam e finalmente após um bom tempo Srinag representando a opinião de todos perguntou:
--- E quanto aos nossos inimigos Lemurianos? Poderemos ser dizimados como ocorreu às outras três cidades (1).
--- É um risco, mas na terra já se passaram muitos milhares de anos. Depois isto poderia ter ocorrido quando a astronave deixava o sistema. Conforme consta, a destruição foi quase total, na realidade parece que todos perderam, há observações nos relatórios muito importantes. E continuou:
Nuvens de fumaça e detritos cobriam quase que totalmente o globo. Todos os tipos de armas foram utilizados. Também a natureza se rebelou e ao que parece cidades e nações inteiras foram tragadas devido à idiotice humana.
Analisei os fatos, um deles é que a nossa fuga não foi pela presença do inimigo, mas principalmente diante da catástrofe provocada.
O conselho voltou a confabular e depois a aprovação do retorno foi unânime. Em seguida Sunil expôs as condições para que o objetivo fosse alcançado. A principal delas: um rígido controle de natalidade. A preservação dos equipamentos e a manutenção de alimentos vinham em seguida.
No final observou:
--- Se chegarmos a Terra, nós que aqui estamos, seremos velhos, mas este objetivo não deve ser mudado. A próxima geração irá se beneficiar, portanto tudo deverá ser feito para vencermos a distância.
Um grande passo a decisão, o navio foi colocado em posição de retorno e a viagem de volta teve início.
O tempo passou, a cidade apesar dos problemas técnicos e sociais mantinha sua rota. Pararam apenas num dos planetas já visitados, para o abastecimento. Depois continuaram diretamente até que a conhecida estrela se fez presente.
Sunil, como dissera, estava um velho junto com a esposa Fatimah. Ambos passaram a vida cuidando dos habitantes, conseguiram manter o equilíbrio e sentiam-se felizes.
Urashi, filho do casal, passara a comandar a astronave e foi quem deu a notícia.
Acionado os dispositivos visuais, a Terra e a Lua tornaram-se visíveis na holografia. Não demorou em que cidades e populações fossem mostradas para centenas de técnicos, membros do conselho e principalmente para o comando.
Antes de se aproximar da Terra e orbitá-la, Urashi instruiu total diminuição da velocidade e convocou o conselho para as decisões.
Pediu ao pai e a mãe, muito idosos, mas lúcidos, que tomassem seus lugares e iniciassem a reunião.
Sunil, não se fez de rogado, embora nada tivesse dito, queria aquilo.
Sem nenhuma cerimônia começou:
--- Era jovem quando resolvemos voltar, não vou falar dos amigos que não estão presentes, mas do que acho que devemos fazer agora.
O momento não é de nenhuma precipitação, primeiro temos que orbitar a Terra por um bom período, tomar conhecimento de tudo que ocorre. É óbvio que uma grande civilização domina o planeta. Observei que a topografia está muito mudada, da Lemúria e da Atlântida sobraram apenas alguns poucos vestígios.
Sobreviventes criaram um novo tempo e ao que tudo indica caminham da mesma forma que nossos antepassados. São inúmeros os satélites existentes. Como puderam ver, localizamos naves primitivas visitando planetas do sistema. Infelizmente focos de guerra são evidentes nas primeiras tomadas de superfície. Armas nucleares já existem, vimos sinais de uso recente, portanto aconselho a ativarem todas as nossas defesas. Poderemos receber ataques, apenas nos
protegeremos, mas não destruiremos a nova Terra.
Nosso principal trabalho será o de colhermos informações, inclusive o de aprender as novas línguas. Nossa presença na superfície terá que ser através da diplomacia. Tenho certeza que procurarão nos contatar. Se estiver certo e considerando a mesma índole de antigamente os chefes de governo procurarão conseguir de nós os segredos tecnológicos que possuímos, segredos que nunca iremos revelar.
Nossa vinda para cá será apenas para descermos e viver como todos os mortais.
Quanto à nossa cidade, após sairmos deixaremos os controles programados para retorná-la vazia ao infinito.
Sunil depois de observar sobre uma série de cuidados passou a palavra para o filho.
--- Bem, apoio integralmente o que meu pai disse. Nada vou acrescentar, portanto, o assunto está em discussão.
A decisão foi rápida, sem qualquer adição suplementar e a grande nave se aproximou do planeta e ficou em órbita.

Na Terra jornais do mundo inteiro falavam do grande OVNI, fotografado em todos os ângulos e exposto junto a grandes manchetes. As opiniões divergiam, realmente era a primeira vez que visitantes do espaço se mostravam tão às claras.
O assunto era muito sério, na ONU representantes das nações debateram o assunto. Como resultado optou-se pela tentativa de contato com os alienígenas. O envio de mensagens ou de naves deveria ser tentado. No entanto o medo de um ataque estava claro e o representante da maior potencia do planeta disse:
--- Meu país aguardará duas semanas, se não houver alguma forma de aproximação que partam deles, nossos mísseis com ogivas nucleares serão lançados sobre o UFO.
Embora a não unanimidade de concordância sabia-se que executariam a ação.

Urashi observava imagens e sons de toda parte, no entanto nenhuma das línguas que ouvia faziam sentido. Embora todo esforço técnico, de imediato não havia meio de traduzir o que diziam na Terra.
Não pensava que fosse tão difícil, tentara comunicação por sinais, logo descartados, os aparelhos da superfície não captavam. Era cedo para o envio de representantes, queria primeiro dialogar, mas como?
Ordenou que o escudo de proteção fosse mantido permanentemente bem como todo sistema de defesa, até encontrarem uma forma racional de contato.
Os dias passaram e após quase um mês, Waheda chefe do estudo das línguas se apresentou ao comando. Urashi vendo o rapaz bastante entusiasmado entendeu que havia alguma novidade:
--- Comandante, acredito ter encontrado a resposta estudando as nações orientais. Não vai demorar, está faltando pouco para que possamos montar o quebra-cabeça, existem semelhanças de nomes.
--- E como faremos para contatar a Terra?
--- Conseguimos entender o processo de comunicação deles, está quase pronto um transmissor.
Waheda estava argumentando quando a sirene invadiu todos os cantos da cidade. Não demorou em ser avisado por Bahari, chefe da segurança, que às pressas comunicou que a nave seria atacada com ogivas nucleares.
Urashi não se surpreendeu, simplesmente observou:
--- Bahari, apenas destrua os mísseis sem deixar resíduos radioativos. Não revide, esperava isto, poderão até tentar novamente. Um a um os mortíferos petardos foram eliminados bem antes de atingirem o escudo.

Na superfície os jornais não perdoaram e com manchetes que tomavam página inteira: FRACASSO TOTAL DO ATAQUE NUCLEAR – UFO PERMANECEU IMUNE.
No Departamento de Defesa o tumulto generalizado marcava um dia de muita confusão. Centenas de mísseis lançados foram destruídos sem reação nuclear e transformados em massa neutra desconhecida.
Um total recuo das ações bélicas partiu da grande potência, era preciso estudar novas estratégias.

Urashi estava pronto, depois de aprender a falar um idioma da Terra, mérito de Waheda, tomou lugar frente a um equipamento desenvolvido na urgência da situação. Mandou fosse acionado e começou:
--- Somos viajantes do Cosmos voltando para o lugar de onde saímos. Viemos para ficar...
Depois de explicar detalhadamente a ligação dos habitantes da nave com o planeta, disse estarem cansados do espaço e que apenas desejavam descer para partilharem a existência na superfície.
O comunicado, embora com falhas, foi no linguajar indiano, mas bem entendido.
A surpresa espalhou-se pelo mundo, esperava-se no vídeo um ser diferente igual aos inúmeros alienígenas mostrados em revistas especializadas, nunca um ser humano.
Utilizando linguagem hindu, algumas nações enviaram mensagens para o acolhimento deles e o pedido para visitarem a astronave. Jornais de toda parte também solicitaram permissão para enviarem fotógrafos.
Apesar da pretensão de alguns povos, não houve unanimidade de intenções. O que parecia ter sido uma explicação satisfatória levantou suspeitas e provocou uma aliança entre os paises de maior tecnologia.
Antes de tomarem qualquer decisão uma série de reuniões entre os líderes começaram a serem realizadas. O motivo embora não fosse do conhecimento popular era simples: possuíam em seus arquivos secretos os dados históricos da grande guerra. Trazê-los para a Terra poderia não ser o melhor caminho. Por outro lado, a captura de uma nave como aquela representaria um avanço sem precedentes e isto passou a fazer parte das conversações.
Enquanto isto, Urashi calculou oportuno, respondeu dizendo às nações dispostas ao contato que enviassem um representante. Quanto ao pedido da imprensa, disse que apenas um homem poderia vir fotografar a cidade desde que sob acompanhamento.
Por outro lado referidos governos não dispunham de meios para chegarem até à cidade espacial. Pediram ajuda aos grandes, mas a negativa foi a resposta. Assim, em declarações conjuntas disseram estarem impossibilitados de cumprirem o propósito, mas que gostariam de irem se viessem buscá-los.
Na cosmonave as táticas de guerra ainda permaneciam. Logo foi percebido que nem tudo estava bem. O conselho mantinha-se em reuniões permanentes. Não podiam enviar naves para buscar os interessados, fora da base poderiam ser abatidas. Cinco dos doze membros optaram pelo atendimento e que se fossem atacados que revidassem. O que não foi aceito pelo comandante.
--- Não podemos chegar iniciando uma guerra, observou Waheda.
--- Estamos habituados a viver aqui dentro. A única coisa que poderemos fazer será nos defendermos. Daremos tempo ao tempo. Tenho certeza de que sabem perfeitamente quem somos, garanto-lhes que não será tão fácil nossa ida sem hostilidades. Desde já lhes digo, se for para tomarmos a força um espaço entre eles, seria preferível não termos voltado. Comentou Urashi.
--- Por enquanto a solução temporária será mantermos vigilância. Disse outro membro.
--- Este será o caminho até perceberem que nossa intenção é a melhor de todas. Continuaremos a enviar mensagens até se convencerem que nenhum risco existe, completou Sunil.
Na Terra uma verdadeira guerra nas estrelas estava sendo preparada. Cientistas estudavam uma maneira de penetrar o campo protetor da cosmonave, praticamente invisível. O tempo passava e sondas eram enviadas contornando o grande objeto, mas em vão conseguiam descobrir as instalações internas, nem com sistemas de ultra-sons instalados. A única coisa possível foi o dimensionamento do campo através de fotos em infravermelho.
As mensagens chegavam diariamente sempre mostrando a boa intenção deles. Não eram respondidas, mas o real desejo da superpotência não era mais a destruição da cidade e sim sua capitulação. Para isto, depois de estudo detalhado, estavam desenvolvendo projeteis que julgavam capazes de penetrarem a barreira.
Quatro meses correram e o impasse continuava.
Uma grande fábrica de material bélico conseguiu desenvolver os protótipos cujo teste só poderia ser realizado num ataque direto.
Duas sondas com tais armas foram imediatamente enviadas. Os mísseis assim preparados continham explosivos simples cuja destruição seria mínima, pois a finalidade era apenas demonstrar ao povo da Atlântida que não estavam seguros.
A prova foi um sucesso, a entrada no invólucro se deu sem maiores problemas e as explosões ocorreram na carcaça da astronave.
O departamento de defesa comemorou antecipadamente uma vitória, afinal haviam vencido o obstáculo.
Diante do acontecido, Urashi imediatamente chamou os responsáveis pela vigilância:
--- Como deixaram isto ocorrer?
Bahari estava quase em pânico diante do fato, não havia registro de ataque daquele tipo. Titubeante respondeu:
--- Honestamente não sei o que dizer. Nosso sistema não reagiu, não houve tempo de procedermos à destruição antes do impacto.
--- Resta-me uma alternativa: a intimidação. Concluiu Sunil continuando:
Prepare a nave para incursões rápidas, não desceremos no planeta, mas faremos demonstrações de nossa capacidade. Antes levantem a posição de todos os satélites com fins militares, vamos destruí-los.

No centro de coordenação militar, logo após confirmarem o inegável sucesso da missão científica conjunta, os governos dos paises responsáveis se uniram para transmitirem uma mensagem.
Bronson, bastante à vontade e liderando o grupo disse, dirigindo-se a Urashi:
--- Entendemos o seu propósito, compreendemos a intenção de terem uma vida em comum conosco. Para isto, estamos dispostos a acolher todos a bordo. Resta-nos oferecer-lhe um acordo, quando quiserem poderão descer ou poderemos até trazê-los para a Terra. Em contrapartida gostaríamos de usufruir a astronave e a tecnologia que possuem.
Quando ouviram tal mensagem, até a população da cidade espacial ficou indignada, quanto mais o comando. Para eles aquilo era um absurdo, mas Urashi segurando sua ira respondeu:
--- Não pensem que por invadirem nossa proteção conseguiram alguma vitória. Não tenho a intenção de declarar-lhes guerra, não voltamos para isto, mas nunca em nenhuma hipótese lhes entregaremos nossa nave bem como nossa tecnologia. Não preciso manter nenhum segredo do que farei. Eliminarei todos os satélites militares em órbita, nosso campo será aumentado centenas de vezes e nada realmente nos atingirá. Não queria isto, mas me obrigam a agir assim.
Para finalizar, se descermos para a Terra, já está planejado que esta nave será enviada para o vazio sideral com tudo que está dentro.
Ao ouvirem a resposta, a cúpula tecnológica desabou.

Na cidade espacial, o comandante fez das palavras ação. A astronave até então obscura no firmamento tornou-se uma “estrela” muito brilhante, chegando a ser vista durante o dia. Seu deslocamento era tão rápido que parecia acender e apagar em pontos diferente. Um a um os satélites mencionados foram destruídos e os fachos de luz em várias direções podiam ser vistos através dos telescópios. Em seguida aproximando-se das grandes cidades, clareava a noite transformando-a em dia. Em frações de segundo mudava de lugar. O povo do planeta se encolheu de medo, logicamente pensando que seriam destruídos.
Diante do fato, os grandes choravam o prejuízo e se arrependiam, mas era tarde. Foi então a vez de Urashi voltar a falar, depois de colocar o navio na posição anterior.
--- Se quisesse poderia destruir a todos, mas novamente vou repetir, nosso objetivo é simplesmente descer sem qualquer tipo de armas e viver como humanos. Não quero fazer isto a revelia, também não é nossa intenção procurarmos outro planeta condizente com a Terra, o que não é fácil. Se assim fosse não teríamos voltado. Estou consciente de que não fiz nada de errado ao destruir os satélites que só trazem insegurança para vocês. Mesmo que não seja o momento oportuno volto a convidar os representantes de cada nação para virem, precisamos definir nossa ida para a superfície. Volto a dizer que aceito apenas um fotógrafo para as fotos e não tragam qualquer aparelho de espionagem.
O chefe da grande nação e o grupo aliado reconhecendo não possuírem condições de levarem avante o plano, optaram pela aceitação do convite. Acabaram concluindo ser o melhor caminho, pelo menos a temerosa astronave seria afastada do planeta para sempre, uma vez que o comandante se propunha a fazer isto. Numa declaração conjunta em indiano concordaram em se unirem aos demais governantes e fornecerem as condições para a viagem. Na oportunidade pediram permissão para levarem tradutores portáteis para se comunicarem.
Urashi aceitou e observou que os incidentes deveriam ser esquecidos e também que levassem para ele um tradutor, seria oportuno para que pudesse dialogar com todos.

Alguns dias se passaram, dois ônibus espaciais foram lotados com amigos e inimigos. Fizeram como fora pedido, apenas chefes de estado seguiram até a órbita da enorme astronave.
Quando estavam se aproximando viram como era gigantesca.
Estavam procurando uma forma de abordarem o fantástico objeto, quando braços mecânicos seguraram os transportadores e os recolheram.
Mais de trezentas pessoas deixaram os veículos e sentiram-se como na Terra, gravidade, ar e boa temperatura.
Seguiram pela extensa plataforma, logo, um educado homem solicitou que o acompanhassem.
Passaram por uma triagem de identificação, em seguida foram levados ao refeitório onde se alimentaram e descansaram.
Depois de algum tempo Waheda fez o convite para entrarem no salão de conferências menos o jornalista, explicando a este que tudo lá dentro seria transmitido. Em seguida chamou Arvin, já instruído, para que levasse o rapaz para as fotos.
Enquanto isto, os presidentes entraram e tomaram lugares frente a um palco onde Urashi os esperava. Após se acomodarem, começou:
--- Agradeço a presença de todos.
É com intensa satisfação que hoje finalmente posso me comunicar com vocês. Sinto não poder falar o idioma de cada um, no entanto, acredito ser possível através dos tradutores portáteis, inclusive fui presenteado com um.
Estamos voltando ao nosso mundo, muito diferente daquele da época de nossos bisavós, razão da demora no contato. Quase nada sobrou dos idiomas da época, foi preciso estudar com rapidez algumas raízes de nossa língua, por isto estou usando o indiano.
Estamos voltando de uma viagem na velocidade da luz e até acima. Encontramos quatro sistemas estelares, mas em nenhum um planeta igual ao nosso. Resolvemos então parar, ou melhor, retornar para nossa origem.
Sei que não é segredo para vocês que naves em tal velocidade, entram no espaço tempo, conseqüentemente na Terra trinta mil de anos se passaram.
Em realidade, somos os mais antigos humanos vivos e nossa proposta é simples. Queremos apenas um lugar entre vocês, não levaremos nenhuma arma, nosso navio será desativado e encaminhado para algum lugar no infinito. Sei que já disse isto, estou apenas repetindo para que não reste nenhuma dúvida.
Neste ponto da explanação Bronson não se conteve:
--- Mas uma tecnologia como a de vocês não pode ser desperdiçada assim. Poderíamos ter um avanço sem precedente.
Urashi, entendendo o posicionamento através do tradutor, observou:
--- Sr. Bronson, nossos ancestrais destruíram totalmente a vida deste planeta. O conhecimento, a guerra precisa ter limites. Temos a bordo armas tão poderosas que transformaria a Terra em asteróides como aconteceu com Maldek. O poder e a belicosidade só levam ao sofrimento e no final ao fim da espécie.
Outro representante de nação, Sr. Vasques, indagou:
--- O que poderia nos dizer com relação aos arsenais nucleares que existem.
--- É muito triste, foi o princípio do fim da nossa civilização. Os cientistas foram estudando e se empenhando cada vez mais no aperfeiçoamento bélico, desenvolveram uma tecnologia de morte incrível e acabaram utilizando-a, o resultado foi o que já disse. Mas respondendo à sua pergunta, desfaçam de tudo, joguem fora, desativem as bombas e vivam.
Aproveitando a oportunidade das perguntas, foi a vez do Sr. Lambert:
--- Mesmo que desçam sem armas, sem a nave, o que nos garante que não informem a alguma nação os segredos que possuem?
--- Sr. Lambert, a pergunta é muito oportuna.
Nenhuma nação deve se preocupar com isto. A única coisa que cada um de nós sabe é o processo de apertar botões e as funções deles. Todo conhecimento dos primeiros que moravam nesta cidade desapareceu. Tecnologicamente sabemos menos do que qualquer habitante do planeta. Por outro lado, se soubéssemos, nunca, em nenhuma hipótese, transmitiríamos para o futuro.
Uma outra pergunta partiu do Sr. Giovani:
--- Vocês gostariam de ficar num único lugar?
--- Não. Não queremos formar nenhuma colônia, preferimos que nossas famílias sejam distribuídas pelo mundo todo.
Quase todos os chefes de estado questionaram o comandante.
A reunião durou várias horas e no final até o dia de seguirem para a Terra ficara decidido.
Transportadores da própria nave fariam a entrega das famílias e os últimos seriam resgatados por um ônibus espacial da Terra para que nenhuma peça ficasse no planeta.
Apesar das fracassadas tentativas a superpotência ainda mantinha-se relutante, mas também concordou.
Os governos se comprometeram em fornecer para os habitantes da astronave acomodações definitivas. Verificariam locais e enviariam dados para favorecer o transporte.
Um mês após a reunião se concretizava o objetivo de Sunil.
Tudo preparado, transportadores nunca vistos, paravam a poucos metros do solo, as pessoas desciam e eram recebidas com festas.
Assim terminou a grande epopéia do antigo povo.
Tudo ocorreu da maneira que queriam; logo após os últimos habitantes saírem, o grande navio foi programado para um pulo no cosmos, marcando definitivamente o fim de um tempo e o magnífico começo de outro.

(1) Conforme o Livro Deuses e Astronautas no Antigo Oriente de W.Raymond Drake: referência às três cidades espaciais destruídas conforme consta no Drona Parva, pág. 690 – (Lendas Indianas). No conto acrescentei uma quarta cidade.

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