quinta-feira, 18 de junho de 2009

Planeta Desconhecido

No planeta Natus, escolhido unicamente para centralizar o ensino galáctico periférico, milhares e milhares de centros de treinamento científico se espalham pela superfície. Grandes cabeças recebem conhecimentos do Universo. Formam uma população de quase quinhentos milhões de alunos, vindos de mundos externos altamente civilizados.
Baixos, altos, cabeças redondas ou afuniladas, de ambos os sexos compõem o cenário. Altas e belas montanhas parecem proteger magníficas instalações.
Dois sóis e quatro luas fornecem claridade quase constante, mantendo clima agradável e confortante.
Águas cristalinas, jardins e o colorido das vestimentas propiciam espetáculo a parte.
Bem, a finalidade desta visita não é turística, portanto deixemos de lado a beleza do astro. Nosso objetivo é participar de uma aula no Ensino Avançado 2800, Região Geográfica 500 do Hemisfério Sul. Especializado no conhecimento de planetas do setor 970.
No vasto salão, repleto de equipamentos, os alunos dispostos em fileiras de assentos aguardam o início.
Num piscar de olhos são transportados para a dimensão da realidade virtual. Flutuam pelo espaço, em fração de segundos alcançam estrelas e planetas. Observam a vida em cada um, enquanto explicações parecem vir do escuro sideral:
--- Este tem o nome Talanto, no idioma nativo. Logo deverá fazer parte da Federação, já começaram os primeiros contatos. Vejamos seus habitantes e o modo de vida.
Assim, um após outro, o processo se repete. Por vezes, durante comentários demorados as viagens se prolongam no infinito imaginário. Astros inabitados, mas em condição de suportar a vida também são mostrados.
Catalogado no superprocessador, a regra da existência para integrar o grupamento superior é única. Para participar, o avanço tecnológico se evidencia, mas muito mais importante é o alcance do nível da convivência interna.
A voz, sempre presente, continua:
--- A vida é dádiva celeste. Durante sua permanência no corpo, a absorção do conhecimento é fator primordial para o aprimoramento do espírito. Este fará parte do todo e se associará à inteligência universal. Princípio básico para o acolhimento em nosso meio.
--- E quanto às espécies não incluídas? Perguntou um dos ouvintes.
--- Caso estejam em estágio primitivo, apenas são considerados em evolução.
Por outro lado, detendo alta técnica, acima das fases iniciais, mas continuando individualistas e mantenedores de práticas primitivas, permanecerão isolados.
Nesta visão de vários mundos, conhecerão violência, absurdas guerras, genocídios, má distribuição da produção, fome, miséria e outras arbitrariedades. Planetas que apresentam algumas dessas situações dificilmente farão parte da Federação. Sempre os visitamos, apenas para observá-los, nunca para contatar seus habitantes. Se tentássemos, provavelmente procurariam nos destruir. Estão classificados de 1 a 10, quanto ao grau de aceitação. Dentro do setor 970, duzentos se enquadram no grupo de indesejáveis, cotados na posição seis para oito. Talanto já atingiu o grau nove.
Recentemente encontramos um pequeno mundo, com capacidade técnica bastante elevada. Já enviam sondas espaciais e logo estarão chegando a alguma estrela. No entanto, quanto a sociedade, ficamos horrorizados com o que vimos, tantas as barbaridades, é o único de cotação UM.
--- UM! Deve ser monstruoso o que lá acontece. Gostaria de vê-lo. Comentou alguém da seleta platéia.
--- Então vamos até lá. Fica bem próximo do espaço intergalático na área branca do nosso setor. Sua estrela cobre nove planetas, é o terceiro das órbitas e único habitado.
A viagem demora alguns instantes. De repente uma brilhante estrela surge, mostrando sua família. Um bonito astro azul se agiganta, povo e belas paisagens negam as palavras do professor.
--- Mas tudo é muito bonito Professor. Casas e prédios elegantes, belíssimos campos, músicas, pessoas se divertindo.
--- Espere um pouco, estamos chegando num planeta de contrastes.
Dissimulação, omissão, falsidades imperam e comandam as massas. A maior parte da evolução técnica provém da ganância de lucros.
Enquanto o professor apresenta informações, estas parecem não coadunar com cenas do cotidiano. Afinal, divertidos jogos, músicas, festas, belas praias lotadas e muito mais, não combinam com as afirmações.
Antes que interpelassem, são direcionados para moderno e atraente local.
Sólida construção, de linhas arquitetônicas invejáveis salientando-se sobre uma região árida. Guardas uniformizados, veículos militares e aparatos de segurança controlam a entrada das pessoas. O grupo não se detém, atravessa pavilhões sem maiores atenções, alcança um elevador e desce. Alguns instantes depois, à frente deles, num gigantesco cômodo, encontram inúmeros cilindros com frentes ovais e propulsores na parte traseira.
Os estudantes olham aqueles grandes tubos indiferentes, sem entenderem o significado da visita. Alguns segundos de silêncio e a voz do professor:
--- Sabem o que são?
--- Naves individuais? Respondem perguntando.
--- Não! São armas, são bombas desintegradoras suficientes para destruírem toda vida deste planeta. Dominam o átomo, mas ao invés utilizarem-no para o bem, noventa por cento da sabedoria se destina para o que estão observando.
Verão daqui para frente o outro lado dos humanos.
O horror desfila diante dos olhares apavorados. Droga e seus efeitos, banditismo, miséria e a fome; guerras, ataques aéreos, extermínio de semelhantes e massacres; má distribuição da produção, ganâncias, manipulações financeiras; desrespeitos às leis, ao Criador e muito mais.
Diante do que viam, a aula se tumultua, tanto, que o líder interrompe:
--- Professor, gostaríamos que encerrasse o assunto, o que vimos já é suficiente. Se fosse possível mudaríamos a classificação, merecem grau inferior a UM.
--- Antes de desligar, diga-nos o nome desse mundo.
--- Os nativos chamam-no TERRA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário